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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


8 entre 10 tumores de cabeça e pescoço são descobertos em fase avançada

Ferida na boca que não cicatriza é sintoma mais comum - Getty Images
Ferida na boca que não cicatriza é sintoma mais comum Imagem: Getty Images

De VivaBem, em São Paulo

02/07/2022 09h55Atualizada em 03/07/2022 09h08

Ao contrário do que ocorre em outros órgãos, quando o câncer acomete a região de cabeça e pescoço, a doença pode ser visível ou palpável. Apesar disso, os sinais não são percebidos na maioria dos casos. No Brasil, 8 entre 10 casos de câncer que acometem, por exemplo, a cavidade oral, são descobertos já em fase avançada.

Como consequência, o diagnóstico tardio resulta em menor chance de controle da doença, pior qualidade de vida para o paciente, maiores taxas de morbidade e mortalidade, maior risco de mutilação em razão da necessidade de cirurgias mais extensas, maior complexidade de outras modalidades de tratamento e maior demanda por reconstrução facial, assim como mais desafios na reabilitação do paciente.

Vale ressaltar que a existência de qualquer dos sinais e sintomas pode sugerir a existência de câncer, cabendo ao médico avaliar a necessidade de se pedir outros exames para confirmar ou não o diagnóstico. Muitos desses sinais e sintomas podem ser causados por outros tipos de câncer ou por doenças benignas. É importante consultar o médico ou o dentista se qualquer desses sintomas persistir por mais de duas semanas. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, maiores são as chances de sucesso.

Veja os principais sintomas

  • Ferida na boca que não cicatriza (sintoma mais comum);
  • Dor na boca que não passa (também muito comum, mas em fases mais tardias);
  • Nódulo persistente ou espessamento na bochecha;
  • Área avermelhada ou esbranquiçada nas gengivas, língua, amígdala ou revestimento da boca;
  • Irritação na garganta ou sensação de que alguma coisa está presa ou entalada na garganta;
  • Dificuldade para mastigar ou engolir;
  • Dificuldade para mover a mandíbula ou a língua;
  • Dormência da língua ou outra área da boca;
  • Inchaço da mandíbula que faz com que a dentadura ou prótese perca o encaixe ou incomode;
  • Dentes que ficam frouxos ou moles na gengiva ou dor em torno dos dentes ou mandíbula;
  • Mudanças na voz;
  • Nódulos ou gânglios aumentados no pescoço;
  • Perda de peso;
  • Mau hálito persistente.

Fatores de risco

Diferente de muitos tipos de câncer, em que as principais etiologias (causas) não são conhecidas, os principais fatores de risco para desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço são bem estabelecidos: não fumar, evitar consumo de bebidas alcoólicas e se prevenir contra o vírus HPV, medida para a qual há vacinas na rede pública e privada de saúde, para imunização de meninos. Há, portanto, um fator comum nos tumores de Cabeça e Pescoço: são evitáveis.

Para ser mais exato, cerca de 40% dos casos podem ser evitados. Não fumar, não consumir bebidas alcoólicas em excesso, vacinar contra o HPV (Papilomavírus Humano) e fazer a higiene bucal corretamente, usar filtro solar, inclusive nos lábios. Este é o caminho da prevenção. Mudar esta realidade depende de cada um de nós.

Desde janeiro de 2017, o Ministério da Saúde oferece a proteção de meninos contra o vírus HPV. Essa medida se soma à imunização que já ocorria desde 2014 nas meninas. As vacinas contra HPV protegem contra os dois subtipos do vírus mais associados com câncer. Esses HPVs oncogênicos - 16 e 18 - são também prevalentes em tumores de cabeça e pescoço, principalmente de orofaringe.

"A contribuição de todos nesta causa é muito importante. Juntos, podemos amplificar e construir uma base de informação sólida que quebre o desconhecido e gere transformação. Queremos que a informação correta e atualizada sobre o câncer de cabeça e pescoço chegue a todos os profissionais de saúde e para a população em geral", diz o presidente do GBCP (Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço) e oncologista clínico, Thiago Bueno.

Importância do diagnóstico precoce

Dados sobre câncer de cavidade oral e laringe do levantamento SEER, do NCI (Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos), apontam que 86,3% dos pacientes estão vivos cinco anos após o tratamento quando o tumor era inicial, localizado apenas no órgão.

Quando a doença se espalha pelos linfonodos a taxa de sobrevida em cinco anos cai para 69%. Com doença à distância (metástase) a taxa é de 40,4%.

A triagem do diagnóstico do câncer de cavidade oral começa na saúde primária, pelo exame clínico (visual) durante consulta ou durante atendimento com o dentista. A confirmação deste diagnóstico depende da biopsia. Esse procedimento, na maioria das vezes, pode ser feito de forma ambulatorial, com anestesia local, por um profissional treinado. A análise do material retirado em biópsia é feita pelo médico patologista, responsável por definir o subtipo e grau de agressividade.

Alguns exames de imagem, como a tomografia computadorizada, também auxiliam no diagnóstico, e, principalmente, ajudam a avaliar a extensão do tumor. O exame clínico associado à biópsia, com o estudo da lesão por tomografia (nos casos indicados) permitem ao cirurgião definir o tratamento adequado. As lesões muito iniciais podem ser avaliadas sem a necessidade de exame de imagem num primeiro momento.

A doença no Brasil e no mundo

A IARC/OMS (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde) aponta que são esperados mais de 1,5 milhão de novos casos de câncer de cabeça e pescoço no mundo em 2022, sendo assim o quinto câncer mais prevalente. Considerando todos os tipos de tumores que acometem a região de cabeça e pescoço, são mais de 460 mil mortes anuais.

No Brasil, os tipos mais comuns de câncer de cabeça e pescoço são os de cavidade oral e laringe nos homens e de tireoide, nas mulheres.

Julho Verde

Em meio a este cenário, o GBCP (Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço), em alusão ao Julho Verde, mês de conscientização sobre a doença, lança a campanha "Sinais que podem mudar histórias", com ações que buscam o envolvimento da sociedade, imprensa, gestores e profissionais da saúde, formadores de opinião e educadores para que o máximo de pessoas, de todas as faixas de idade, conheçam a doença e saibam sobre as causas, sintomas, como prevenir e como fazer o autoexame para identificar alterações suspeitas.

A missão com a campanha é contribuir diretamente na difusão de informação diferenciada sobre a doença, fatores de risco e sintomas. "Além de apontar para quais sinais todos nós devemos estar atentos, vamos alertar para a associação destes tumores com tabagismo, consumo de álcool e infecção pelo vírus HPV. Sempre com um conteúdo didático, referenciado e qualificado, com linguagem acessível a todos", afirma Bueno.