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Regula a cognição: sono é tão essencial para a vida quanto a alimentação

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Imagem: iStock

João Dall'ara

Do Jornal da USP

10/07/2022 10h18

Dormir é um hábito comum, mas de extrema importância para a vida humana. O sono saudável é essencial para a regulação do corpo, portanto, alterações em sua regularidade são determinantes e podem se refletir em diversos aspectos físicos e mentais de uma pessoa.

Álan Eckeli, professor de neurologia e medicina do sono da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, analisa o papel do sono para o funcionamento do corpo humano: "O sono é essencial para a vida, ele é tão essencial para a vida quanto a alimentação. Se nós dormirmos mal, vamos adoecer e, se nós pararmos de dormir e interrompermos esse fenômeno natural, vamos falecer. Isso demonstra a importância vital do sono para a manutenção da vida".

Eckeli diz que a redução da qualidade, extensão ou regularidade do sono pode provocar diversos problemas: "Repercute em todo o nosso metabolismo e no nosso funcionamento mental, pode trazer prejuízos quanto à nossa memória, nossa cognição, prejuízos quanto ao nosso humor, deixando-nos mais deprimidos e predispostos a ter fadiga. Também pode alterar nosso ciclo de fome e saciedade, ou seja, aumentando a fome e reduzindo a saciedade".

Funcionamento do cérebro

O sono é imprescindível para a atividade cerebral, em especial por conta do líquido cefalorraquidiano, líquido que banha o cérebro. "Quando a gente adormece, ele penetra dentro do parênquima cerebral, ou seja, ele entra dentro do cérebro e tira as impurezas do metabolismo cerebral. Esse fenômeno de limpeza do nosso cérebro acontece quase que exclusivamente durante o sono", aponta o professor.

Durante o sono, as substâncias que atrapalham o funcionamento do cérebro são descartadas. Eckeli cita, como exemplo, a substância neurotóxica beta-amiloide, que está associada ao Alzheimer: "Quando o líquido cefalorraquidiano penetra dentro do cérebro e faz essa limpeza, ele retira a beta-amiloide. Então, uma das funções do sono é promover essa limpeza cerebral, que está relacionada ao melhor metabolismo, à melhor homeostase dos neurônios, das células e de toda a estrutura do nosso sistema nervoso central".

Dormir de forma irregular é prejudicial em diversos aspectos para a saúde humana. "A curto prazo, dormir pouco, uma, duas, três horas por noite vai trazer sintomas relacionados à sonolência, cansaço, fadiga, mau humor e redução da nossa capacidade de empatia. Essa redução aguda de sono também pode aumentar o apetite, porque altera alguns hormônios relacionados à fome e à saciedade", indica o professor.

Outro problema é o aumento do risco de causar acidentes, dormir pouco compromete os estímulos e respostas psicomotoras, assim como pode afetar a memória, por vários motivos, como conta Eckeli: "Quando dormimos mal, ficamos desatentos e, se não prestamos atenção, não aprendemos. O sono é essencial para a consolidação da memória, porque se você estiver se expondo pouco ao sono o processo de consolidação da memória não vai ser tão efetivo".

Regularidade do sono

O professor destaca o período considerado ideal para o sono. Dormir pouco ou dormir em excesso são situações nocivas para a saúde humana. "Os dois extremos estão associados à mortalidade, fortalecendo para a gente a ideia que existe uma faixa de tempo total do sono ideal ou próxima do ideal, algo entre seis e nove horas, pendendo mais para sete horas. É claro que isso é muito individual, mas do ponto de vista populacional, dormir pouco ou dormir demais pode estar associado à mortalidade", descreve.

Eckeli comenta sobre os perigos da apneia do sono, doença recorrente no Brasil: "Essa doença pode causar infarto, AVC, arritmias cardíacas e pode ocasionar acidentes. As breves reduções na regularidade do sono vão produzir sintomas, mas não necessariamente doenças, que podem ser parcialmente recuperados se você dormir bem nas noites seguintes. Entretanto, se você ficar exposto a reduções prolongadas do tempo total e da qualidade do sono, você tem um aumento de risco de morte e de outras condições clínicas."

Outro risco é a possibilidade do desenvolvimento de cânceres. "A piora da qualidade do sono pode alterar a expressão de alguns oncogenes, que promovem mutações que podem gerar um câncer. Essas alterações no sono também podem inibir outros oncogenes, que seriam protetores para evitar os nossos cânceres, causando um desequilíbrio favorável à incidência de câncer", salienta o professor.

Eckeli reitera a necessidade de um sono saudável: "Qualquer função cerebral importante o sono modula, ele é essencial para a cognição, ele é essencial para a memória. Não existe um bom funcionamento cognitivo se a pessoa não dorme bem, a gente precisa ter um bom sono, seja de qualidade, seja de quantidade ou regularidade. Isso volta à importância do sono como um agente homeostático que mantém o equilíbrio do organismo e o sono como uma função vital para a manutenção da vida".