Fístula uretral: entenda quadro e tratamento de condição que afeta Beiçola
Conhecido por interpretar Beiçola em "A Grande Família" (TV Globo), o ator Marcos de Oliveira, 66, anunciou que irá passar por uma cirurgia para tratar uma fístula uretral, no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro.
O anúncio ocorreu por meio de um post no Instagram, em que o ator agradeceu pelo apoio financeiro que recebeu de artistas e fãs nos últimos meses, após ter anunciado nas redes sociais que precisava de ajuda para arcar com os custos do procedimento.
"Torçam por mim, rezem por mim, que eu preciso muito. Vou passar por mais essa batalha e vou vencer. Quero voltar logo para poder me recuperar e voltar a trabalhar", disse Oliveira. "Já tenho convites para fazer trabalhos em setembro. Enfim, só estou aqui para agradecer a todos que me ajudaram nessa etapa, que contribuíram para a vaquinha e com o pix (...) Essa semana é a decisiva".
O que causa fístula uretral e as consequências
A fístula uretral é um canal de comunicação anormal que pode surgir entre a uretra, tubo que liga a bexiga ao meio externo, e outro órgão —como o reto ou a pele, por exemplo.
Segundo Gustavo Cavalcanti Wanderley, coordenador do Departamento de Trauma e Cirurgias Reconstrutivas da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), o quadro é considerado raro, mas existem algumas situações que predispõem o aparecimento de fístulas na região, como nos casos de pós-operatório para tratamento de câncer na próstata.
O problema também pode surgir como uma complicação após cirurgias para retirada de útero ou tratamento cirúrgico de incontinência urinária. Pessoas que têm doença de Crohn ou estenose uretral têm maior risco de desenvolver a condição. A fístula uretral também pode ser congênita —ou seja, presente desde o nascimento.
No caso de Marcos de Oliveira, o autor não disse o que causou a complicação. Embora o artista tenha diabetes, o médico urologista da SBU explica que a doença crônica não causa fístulas, mas que pacientes com a doença que também têm fístulas podem estar mais predispostos a infecções.
"A característica mais comum de um homem que tem fístula uretral é que ele irá acabar apresentando vazamento de urina. Então, durante a micção, pode fazer xixi pelo pênis e, ao mesmo tempo, também irá urinar por esse pequeno orifício, que pode estar ligado à pele ou até a outro órgão, como entre a uretra e o reto", explica Wanderley, que também é chefe de serviço de Urologia Reconstrutora do Hospital Getúlio Vargas, em Pernambuco.
Pacientes com fístula na uretra também têm maior risco de desenvolver infecções urinárias de repetição, como desabafou o ex-ator da TV Globo em entrevista ao podcast "Inteligência Ltda", em 2021. Na ocasião, Oliveira compartilhou que "é sempre ruim fazer xixi, porque vaza sempre um pouco por trás (pelo ânus)" e que precisava utilizar absorventes para conter o vazamento.
"São pacientes que às vezes perdem seu convívio social ou chegam ao ponto de precisar utilizar uma fralda ou absorvente para que não apresentem mau odor no convívio social, então é uma situação bastante delicada", avalia o médico urologista.
O diagnóstico da fístula uretral geralmente ocorre a partir de avaliação clínica. Em alguns casos, é necessário realizar exames de raio-X com injeção de contraste na uretra, ressonância ou endoscopia, a fim de facilitar a visualização do canal.
Tratamento
É muito raro que esses orifícios se fechem de maneira espontânea, por isso, na maioria dos casos, a intervenção cirúrgica é necessária. As técnicas para o procedimento irão depender da localização da fístula, do tratamento prévio que o paciente já pode ter recebido e do que causou o quadro.
"Nas cirurgias, basicamente o que fazemos é retirar o trajeto fistuloso e fazer pontos de sutura nos locais onde está o vazamento. Na maioria das vezes, interpomos algum tecido entre as áreas que foram suturadas, para evitar que os tecidos encostem um no outro e que essas fístulas retornem mais tarde, o que não deixa de ser uma possibilidade", explica Wanderley.
"Outras vezes, usamos tecidos externos para o fechamento da fístula, como por exemplo a mucosa oral, ou em casos mais graves podemos até utilizar um músculo da parte interna da coxa para ficar entre as duas áreas tratadas. É uma cirurgia complexa, mas com bons resultados", diz o urologista.
Segundo o médico, embora o tratamento seja disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ainda existem poucos centros especializados no país em que há profissionais capacitados para realizar a cirurgia.
"As técnicas cirúrgicas já existem há bastante tempo, mas as técnicas com o uso de enxertos vêm ganhando mais espaço nos últimos 20 anos. O que falta são centros especializados em cirurgia reconstrutora a nível Brasil, mas não só no país, é um problema que a gente tem no mundo inteiro atualmente", avalia.
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