Por que irmãos que tiveram a mesma criação se comportam de forma diferente?
Se tem uma coisa que aprendemos desde criança é que irmãos podem ser completamente diferentes uns dos outros —e não apenas fisicamente. A dupla bíblica Caim e Abel, o quarteto de "Tartarugas Ninja" e os sete anões de Branca de Neve são exemplos. Receberam a mesma genética e criação, dividiam o mesmo lar, mas eram completamente opostos no jeito de ser.
Mesmo gêmeos não apresentam personalidades idênticas e a explicação para isso é que cada ser humano é único, assim como as impressões digitais. Somos resultado de uma mistura de características hereditárias, do ambiente em que crescemos e frequentamos, das experiências que nos marcam em diferentes fases da vida, de ensinamentos, autorreflexões, hormônios, hábitos. São muitos fatores e até a ordem de nascimento influência.
"A ordem de quem nasceu primeiro ou por último não é determinante, mas tem seu papel na percepção de mundo da criança. Em muitos casos, os pais criam expectativas em relação ao segundo filho, com base no primeiro, alimentando uma competitividade no menor e até baixa autoestima", diz Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA).
Comparações e humilhações distanciam
A educação que se recebe em casa ou na escola pode ser uma só, mas nem sempre é dada da mesma forma, o que pode contribuir —e muito— para acentuar as diferenças entre irmãos e até gerar uma inimizade entre eles. Isso pode ter a ver com idade (o mais velho ser mais cobrado, o mais novo protegido, por exemplo), mas também com a identificação, ou não, dos adultos.
Os pais, cuidadores, professores podem fazer distinção entre os irmãos pela aparência, forma como se apresentam, se expressam, fazem escolhas. "Mas, o pior, principalmente em brigas, é tomarem partido, não acolherem as diferenças e não insistirem na negociação entre os irmãos, de modo a propiciar um convívio nocivo, evitando assim que se mantenham como amigos", informa Paula Diniz Vicentini, psicóloga da Clínica Personal, da Central Nacional Unimed.
Crianças com tendência a serem introspectivas, imaginativas, sensíveis e menos afáveis estão propensas a se tornarem alvo fácil de hostilidades, por falta de preparo e instrução de quem deveria as acolher. Daí a importância de se trabalhar inclusão e diversidade nas instituições, para que garantam isso e orientem aos pais quanto ao seu papel no processo educacional.
Inclinações determinam direções
Traços comportamentais e interesses pessoais podem fazer com que irmãos tomem caminhos distintos, que vão "moldá-los" e assim as diferenças entre eles acabam se acentuando ainda mais. Quem é autodisciplinado, persistente, pode querer estudar, ampliar conhecimentos, ao passo que alguém com perfil oposto, dificilmente agirá igual e obterá as mesmas descobertas.
"A teoria psicanalítica Freudiana entende que a personalidade se forma até os seis anos, mas não é nada rígido, imutável. As pessoas também ganham repertório e se modificam de acordo com o meio e as relações que escolhem mais para frente", explica Joeuder Lima, doutorando em psicologia pelo IESLA (Instituto de Educação Superior Latino-Americano), de Palmas (TO).
Ele continua que quanto mais diversos forem os contatos estabelecidos, estímulos recebidos e experiências, maiores também serão as habilidades desenvolvidas. Do contrário, o sujeito fica estagnado, embora possa ter acompanhado o outro até certo nível, e isso repercute em mais disparidade entre os dois, do ponto de vista de criatividade, capacidade para resolver desafios.
Irmãos se copiarem é positivo?
Em se tratando de crianças, os pais não devem forçá-las a se copiarem ou se comportarem como sendo mais velhas. Antes, suas diferenças devem ser compreendidas, respeitadas e valorizadas. "O grande diferencial é a visibilidade, ser percebido como se é, sobretudo nos primeiros anos", afirma Wimer Bottura, psiquiatra infantil pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
O médico continua que quando se trata de subjetividade, identidade, mesmo que haja desejo e interesse próprio de se copiar alguém, é impossível manter uma imitação por muito tempo, fora que o sujeito se anula. Entretanto, é possível —e bem diferente— de se ter uma referência para se inspirar e querer aprender, melhorar algum aspecto. Mas, para compreender o que se sente e saber que não se trata de ciúme, inveja, é preciso buscar por ajuda de profissionais.
Ademais, os especialistas em saúde psicoemocional concordam que para uma boa relação familiar é preciso desmistificar alguns mitos que parecem inocentes, mas são perpetuados entre os membros como verdades. Isso leva a sentimentos de não pertencimento e inferioridade, além de ressentimentos, como de que todo filho do meio é "perdido" e caçula, mimado e irresponsável.
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