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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ela teve câncer de pulmão sem nunca ter fumado: 'Chão se abriu e só chorei'

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para VivaBem

17/07/2022 04h00

Além de lidar com os efeitos da pandemia de covid-19, a psicóloga Lenise Amorim, 41, teve que encarar uma doença silenciosa e que a pegou de surpresa. Ao realizar exames para um nódulo no pescoço, descobriu que estava com câncer de pulmão, mesmo sem ter nunca fumado na vida. Ela ficou sem chão e precisou tratar a doença por meses. Abaixo, ela conta sua história:

"Em outubro de 2020, resolvi fazer exames e senti que Deus estava falando comigo para ver um nódulo no pescoço. Já havia feito biópsia, que não mostrava nada, e dizia que ele era benigno. Mas preferi fazer de qualquer forma.

Realizei radiografias, os profissionais analisaram as imagens e o médico reafirmou que não era nada de fato. Mas quando o laudo foi finalizado, o resultado foi incoerente com o meu quadro clínico. Depois disso, a médica pediu para que os radiologistas analisassem melhor as imagens.

No exame, acabou pegando um pouco de parte do pulmão, e tive até que recorrer a um terceiro profissional, já que o primeiro e o segundo não haviam falado nada.

Ele verificou uma anormalidade no meu pulmão, foi muito cuidadoso e chamou atenção para o órgão. Procurei um cirurgião de cabeça e pescoço e depois do resultado do exame fui diagnosticada com neoplasia primária, que é o câncer de pulmão.

Mix de emoções

O câncer faz parte da lista de coisas que você jamais deve ter. Eu vivi muitas emoções, foi horrível e eu só pensava na minha filha.

Na época, ela só tinha seis anos, mas por mais difícil que seja, acreditei que Deus estava no controle.

Lenise Amorim 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Quando recebi o diagnóstico, o chão se abriu e, num primeiro momento, chorei. Sofri antes de saber que era câncer, me desesperei, a gente pensa que é uma sentença de morte e acredita que vai ser o fim. Tive que viver minha vulnerabilidade.

Levei um susto, pois nunca havia fumado, convivido diariamente com um fumante ou tinha pessoas na família com esse câncer e achei estranho. Os especialistas disseram que pode ter sido uma mutação genética.

A doença estava avançada e no estágio nível 3. Mas eu não sentia nada, não tinha nenhum sintoma. Se não tivesse checado o nódulo, jamais teria descoberto, porque nunca ia fazer um exame de tórax. Se eu demorasse a descobrir, o câncer acometeria a coluna e outros órgãos.

Início do tratamento

Lenise Amorim 3 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Desde a data do meu diagnóstico até a minha alta foram sete meses de acompanhamento. Fiz quimioterapia oral, terapia alvo e cirurgia. Usei uma medicação que combate a célula cancerígena e é diferente da quimioterapia convencional.

Por causa dessa medicação mais avançada, os efeitos colaterais foram mais brandos. Também fiz uma cirurgia e tirei um lobo e meio do pulmão.

Minha vida continuou normal, na medida do possível, pois tinha muita vontade de viver, mas é claro que tive alguns efeitos colaterais como vômito, náusea e problemas gastrointestinais. É uma bomba muito forte.

Respondi bem ao tratamento e o câncer foi embora. Após me curar, continuo fazendo acompanhamento e a cada seis meses preciso ir ao médico. Depois, esse prazo ficará espaçado em um ano."

O que causa câncer de pulmão?

Esse tipo de câncer é uma neoplasia, doença caracterizada pela multiplicação desordenada de células do pulmão. A condição tende a evoluir para uma apresentação grave.

Segundo o especialista ouvido por VivaBem, é o câncer que mais mata no mundo, tendo uma incidência de 2 milhões e 200 mil novos casos todos os anos.

Geralmente, 80% dos diagnósticos estão relacionados com o consumo de tabaco, mas existem outras causas. Exposição a substâncias cancerígenas no trabalho e outras como cromo, sílica e cádmio.

Assim como ocorreu com Lenise, também pode ocorrer por fatores genéticos. Contudo, embora os casos de câncer de pulmão sejam atribuídos a alterações de genes, como mutações, elas não são, necessariamente, relacionadas à origem hereditária.

Na maioria das vezes, as alterações somáticas ocorrem dentro do pulmão e elas podem ser detectadas por exames específicos, que podem ser de biologia molecular e também realizados no próprio tumor.

O câncer no pulmão costuma ser diagnosticado tardiamente e, em 75% dos casos, já se trata de uma doença localmente avançada.

Para identificá-lo, é necessário exames de imagem, frequentemente uma radiografia ou tomografia —que tem mais resolução e verifica lesões menores. Também é preciso a realização de uma biópsia, que investiga os nódulos ou as massas pulmonares.

O câncer de pulmão dificilmente mostra sintomas iniciais e costuma ser silencioso. A descoberta pode ocorrer de forma causal, por alterações de imagem ou por meio de estratégias de rastreamento, que podem ser exames para pessoas com fatores de risco, como os fumantes.

Quando a pessoa apresenta sinais, na maior parte das vezes é tosse, falta de ar, presença de sangue na secreção respiratória, perda de peso, fraqueza e dor no peito, que aparecem mais no diagnóstico tardio.

Quando se descobre a doença é preciso investigar quanto ele está avançado, se já há uma lesão local ou regional. Depois disso, o profissional irá definir o melhor tratamento.

Ele pode ser feito por meio de uma cirurgia e medicamentos em combinação com quimioterapia e radioterapia.
Independentemente do estágio da doença, conhecer o perfil molecular e genético do tumor é necessário. O tempo de tratamento é bem individual e precisa ser bem direcionado.

A melhor forma de prevenção são políticas de controle do tabagismo e diagnóstico precoce, que se baseia na identificação daqueles pacientes suspeitos e que apresentam fatores de risco.

Fonte: Gustavo Faibischew Prado, pneumologista e coordenador da Comissão de Pneumologia do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica.