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Pandemia, fake news: por que a vacinação em crianças está tão baixa?

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Imagem: iStock

Danielle Sanches

Colaboração para VivaBem

22/07/2022 04h00

Em agosto de 2019, um surto de sarampo no Brasil acendeu a luz vermelha em entidades médicas e especialistas. A volta da doença, que havia sido controlada em 2016, —com direito até a certificado emitido pela OMS (Organização Mundial da Saúde)— por aqui, mostrou o que já se alertava há algum tempo: a cobertura vacinal das crianças seguia caindo ano após ano, abrindo brechas para a volta de doenças antes desaparecidas em terras brasileiras.

Quase três anos depois, o cenário segue desolador. Em 2021, dados do DataSUS indicam que as coberturas vacinais de grande parte dos imunizantes do Calendário Nacional não saíram da casa dos 60%. Algumas, como a que protege contra a poliomielite, não chegam a 70% quando o objetivo é de 95% de crianças imunizadas —em regiões do Nordeste esse índice está em 42%.

"É a primeira vez que vemos pais protegidos e vacinados hesitarem ao vacinar os filhos", afirma Renato Kfouri, pediatra e infectologista, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). "Com isso, criamos espaço para que diversos vírus voltem a circular e coloquem todos em risco", lamenta.

O número baixo de imunizados levou a Opas (Organização Pan-americana de Saúde) a incluir o Brasil na lista de países da América Latina com alto risco de pólio —que, em casos mais graves, causa paralisia.

Além da pólio, sarampo, rubéola e meningite são doenças que podem voltar a circular em pouco tempo caso o índice de vacinação no Brasil não aumente. Até mesmo a vacina BCG, que protege contra as formas graves da tuberculose e deve ser aplicada logo após o nascimento, apresenta queda considerável.

Mas o que leva os pais a deixarem de vacinar as crianças?

Problema é multifatorial

De acordo com Maria do Socorro Martins, pediatra da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) e presidente da Sociedade Paraibana de Pediatria, existem diversos fatores que influenciam a queda da vacinação na população.

A mais recente são as fake news, ou notícias falsas, espalhando desinformação e colocando em xeque tanto a eficácia como a segurança das vacinas. Aqui, é bom deixar claro: todas as vacinas aplicadas atualmente são seguras e eficazes para proteger o indivíduo e reduzir a circulação de vírus e bactérias que podem colocar a saúde coletiva em risco.

Há ainda a dificuldade de acesso às vacinas, seja geográfica —para moradores de localidades remotas— e até por questões burocráticas, como dificuldade de conciliar o horário de funcionamento das unidades de saúde com os horários de trabalho.

Até mesmo o desabastecimento dos postos de saúde pode ser um fator que impede a vacinação. Em maio, o Ministério da Saúde reduziu em 50% a distribuição de doses para a vacina BCG alegando dificuldades no processo de aquisição do imunizante. A expectativa é que a distribuição seja normalizada a partir de setembro.

A todos esses fatores, soma-se ainda a pandemia, que dificultou o acesso a todos os serviços de saúde de rotina, incluindo aí a vacinação. O problema é que, passados mais de dois anos do surgimento do novo coronavírus, a retomada da vacinação ainda é pouco incentivada, com campanhas discretas que não conseguem atingir o objetivo de aumentar a imunização em todas as faixas etárias.

Por fim, as vacinas são vítimas do próprio sucesso. "As pessoas deixaram de ter a percepção da gravidade de doenças como a pólio ou o sarampo porque não enxergam mais gente adoecendo, justamente porque as vacinas foram eficientes, e passam a duvidar que esses vírus ainda estejam circulando", afirma Martins.

Com isso, os pais acabam acreditando que a vacinação não seja mais necessária e buscam as unidades de saúde apenas na ocasião de surtos —o que é errado, já que a proteção deve ser feita antes que os casos apareçam.

O que pode ser feito?

De acordo com Daniela Piotto, pediatra e médica do atendimento e vacinas do Grupo Fleury, as baixas taxas de vacinação estão sendo observadas tanto no setor público como no privado. A falta de informação sobre as diferenças entre o calendário particular e o público também é motivo de dificuldade na hora de colocar a carteirinha em dia, já que nem todos os profissionais de saúde estão treinados para orientar os pais.

No caso da meningite, por exemplo, as clínicas privadas oferecem a versão mais completa, que protege contra as cepas A, C, W e Y do meningococo para crianças a partir dos três meses de idade. No SUS, a vacina oferecida protege apenas contra a meningite C, mas a ACWY é oferecida em dose única para crianças de 11 e 12 anos.

Para ela, o momento pede ações mais contundentes, como mais e maiores campanhas de vacinação e um aumento na divulgação de informações para a população.

"A ideia é facilitar esse acesso", afirma a médica. "Ou seja, ao encontrar uma família, o profissional deve aproveitar para colocar em dia o máximo de vacinas possível, aumentando assim a proteção individual e coletiva", acredita.