Amar a si mesmo é difícil, mas importante; como desenvolver amor-próprio?
Olhar-se no espelho, para muita gente, é estar frente a frente com seu maior pesadelo. Algumas pessoas têm tanta dificuldade em se amar, que até mesmo aceitar um elogio se torna tarefa difícil.
Quem mais sofre com a baixa autoestima são as mulheres. Um estudo realizado pelo Instituto Kantar, do Ibope, apontou que apenas 3% dos homens brasileiros se acham feios. Entre as mulheres, 20% confessam que a autoestima está longe de ser elevada, segundo pesquisa.
Mas se amar não necessariamente tem a ver com gostar de si e ter autoestima. "Embora o amor-próprio esteja ligado à autoestima, vai muito além. Tem a ver como nossos valores, autoconhecimento e aceitação. É uma prática diária e deve ser desenvolvida", diz a terapeuta Madalena Feliciano, especialista em liderança emocional pelo IBEPP (Instituto Brasileiro de Excelência Pessoal e Profissional).
Segundo Ronaldo Coelho, psicólogo pela USP (Universidade de São Paulo), é inclusive comum confundir gostar de si com amar a si. "Amar a si mesmo tem mais a ver com não se abandonar do que com gostar de si. Tem mais a ver com não se abandonar mesmo diante da constatação de que não se é aquilo que gostaria de ser, que ainda não se tornou quem gostaria de ser", aponta
Para chegar ao posto de amar a si, de acordo com Feliciano, é necessário entender que todos temos pontos fortes e pontos a serem melhorados. "Não existe ninguém melhor ou pior, é uma questão de aceitação e ser gentil com você mesmo, sem cobranças exageradas. Ver sempre o que há de melhor, e não o contrário."
Amar a si mesmo contribui diretamente com a saúde mental
Amar a si mesmo, segundo a terapeuta Madalena Feliciano, é um sentimento de respeito e dignidade com suas vontades, necessidades e limites. E ainda contribui diretamente com a saúde mental, permitindo que fiquemos distantes da opinião e julgamento alheio, que muitas influenciam negativamente, como padrões estéticos e comportamentais que não nos cabem e fogem da nossa real essência.
Para Debora Diniz, coach pelo IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), os benefícios psicológicos de se valorizar e se respeitar são cruciais para o equilíbrio e a harmonia nas mais diferentes áreas da nossa vida.
"O amor-próprio independe de aparência, de beleza, e tem muito mais a ver com o modo como nos sentimos internamente em relação a nós mesmos e com a maneira como nos posicionamos perante o mundo. Gostar de si mesmo é a base de nosso bem-estar mental e a única via para termos uma boa relação com o outro", diz.
E apesar de muita gente entender a importância de se amar, a falta de amor ainda é um problema. "A pessoa que sofre com a falta de amor-próprio costuma apresentar sinais de inferioridade, se sente insuficiente, rejeita e invalida o que é e o que acredita, tem medo de mostrar quem é de verdade com receio de receber críticas, pensa de forma negativa em relação a si mesmo e tem dificuldade em receber elogios, sempre buscando uma forma de demonstrar que não é digna daquele elogio", afirma Feliciano.
Ainda segundo a terapeuta, quando essas questões se tornam profundamente internalizadas, podem gerar quadros de ansiedade e depressão.
Por que é difícil amar a pessoa que se é?
Segundo o psicólogo Ronaldo Coelho, tentar se forçar a gostar de si quando não se tem uma admiração real por quem se é pode ser violento e não funciona. É aí que uma ajuda profissional pode ser importantíssima no processo.
"É praticamente impossível não passar pela experiência de se confrontar com a parte mais vergonhosa de si mesmo, aquela que mostra suas fraquezas e o quanto se é incompleto e feio", diz.
Ele afirma que é justamente quando a pessoa consegue olhar para a parte mais "feia" de si e não sair correndo ou mentindo para si mesma, ela passa a se amar de verdade.
"Quando ela consegue pegar na mão desse monstro que ela encontra e dizer 'eu não gosto do que você é, mas eu não vou te abandonar', é que essa pessoa passa a ter as condições psíquicas necessárias para começar a cuidar de si de modo a ter chances de se tornar tudo o que quer", analisa Coelho.
Feliciano explica que, em alguns casos, a vergonha e o medo de não ser suficiente contribuem diretamente para a pessoa não ser feliz consigo mesma. "Mas acolher nossas imperfeições e vulnerabilidades é uma batalha diária contra essa vergonha e esse medo de não ser o suficiente aos olhos do outro. Isso é totalmente possível quando respeitamos nossos limites, entendemos nosso verdadeiro eu e nos conectamos com ele."
Processo envolve aceitar sentimentos, pensamentos e valores pessoais
O processo de descoberta do amor por si mesmo envolve autoconhecimento. "Seja atento ao que você sabe de si, das coisas que ama e das que não ama. Seja realista em relação às suas expectativas, não crie expectativas demais antes de algo acontecer, mas também não seja pessimista. O otimismo precisa ser constante na sua vida", explica Diniz.
Se amar, ainda segundo a hipnoterapeuta, envolve não buscar perfeição. "Ninguém tem a vida que mostra no Instagram durante 24 horas. Saber disso ajuda a não ter falsa ideia de que a sua vida deve ser perfeita."
Outro ponto essencial no processo é não se comparar com outras pessoas. "Somos seres únicos, com nossos defeitos e pontos positivos. Medir sua régua a partir da do outro só fará de você uma pessoa amargurada em busca de algo que não é a sua realidade", aponta Feliciano.
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