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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Redes de apoio ajudam e dão segurança; veja 10 passos para criar uma

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Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

26/07/2022 04h00

Ivete Chaves, 62, aposentada, fez a cirurgia bariátrica há três anos no Hospital Universitário Walter Cantidio, da UFC (Universidade do Ceará), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Mas até hoje ela faz o acompanhamento com educador físico duas vezes por semana, além de ter feito parte de outras ações na instituição, onde mantém contato com os demais pacientes.

"Os pacientes contam com atendimento multidisciplinar: endocrinologista, psicólogo, psiquiatra, educador físico e enfermagem. Entre as atividades de apoio, às sextas-feiras à tarde, há grupos de palestras com os profissionais e duas enfermeiras fazem triagem encaminhamento de atendimentos", explica Ana Flávia Torquato, endocrinologista.

São às segundas e quartas-feiras que Ivete se encontra com os outros pacientes que, assim como ela, passam pelo acompanhamento, realizando atividade física. "Por meio da prática de exercícios funcionais, mantemos o propósito de cuidar de nossa saúde e bem-estar. Antes da cirurgia era hipertensa, hoje, não mais."

Além de receber a ajuda dessa rede de apoio, ela também motiva o grupo. "Tenho conseguido fazer com que muitos não desistam, o que já é uma grande ajuda." Para ela, a colaboração entre os próprios pacientes faz bem não apenas no coletivo, mas individualmente. "Costumo arrastar todos para o que me faz bem. Conversamos e trocamos experiências para nos mantermos sempre estimulados."

O termo rede de apoio tem sido bastante mencionado nos últimos tempos. Afinal, desde que nascemos, dependemos de outras pessoas, a começar pelos pais. Além disso, vivemos em comunidade e há uma interdependência intrínseca entre todos, sendo crucial confiar e ter a colaboração de pessoas quando se requer. Da mesma forma, é possível, também, desenvolver a capacidade de auxiliar.

Um estudo de 2017 mostrou que "essas relações trazem possibilidade de apoio em momentos de crise ou mudança e podem criar oportunidades de desenvolvimento". Elas não necessariamente são formadas por familiares, mas também por amigos que fazemos ao longo da vida ou por pessoas que passam ou passaram pelas mesmas experiências que você.

A seguir, veja orientações para construir, movimentar e ampliar sua rede de apoio:

1. Reconheça sua necessidade

É importante contar com o suporte em relação a necessidades ou responsabilidades, seja de cuidados a outros —crianças, parentes idosos e enfermos—, ou ainda destinado a si mesmo, como a conquista de objetivos e a realização de atividades físicas para a melhoria e manutenção da saúde. "Independentemente do intuito, é sempre uma dinâmica que envolve afeto, atenção, compromisso e cumplicidade. É um processo que deve ser construído com delicadeza, confiança e entrega, daí o termo rede de apoio", ensina a psicóloga e psicoterapeuta Janete Teixeira Dias.

2. Não tenha medo de pedir ajuda

Solicitar apoio é uma demonstração de humanidade, não um fracasso, mas requer treino. "Aproxime-se das pessoas, mostre suas fragilidades e crie intimidade. Pedir ajuda nos une enquanto indivíduos, buscando quem está disposto a acolher e que é confiável. É uma característica que se desenvolve", esclarece Ana Clara Schreiner, psicóloga e neuropsicóloga.

Para dar início, identifique as potenciais redes de apoio que já possui —familiares, amigos, pessoas em quem confia e que se importam. "Comece por aquelas com as quais possui mais intimidade para expor suas fragilidades. Identifique-as e se aproxime delas", orienta Schreiner.

Muitas vezes, sua rede já é rica, mas você não recorre a ela. "Anote em um papel os nomes dos que já fazem parte de suas conexões, quem é mais próximo e busque criar uma nova para a sua urgência atual."

3. Questione se as pessoas se engajam no propósito

Identifique as pessoas que possam ter a disponibilidade e a competência necessária para participar, perceba se elas conseguem se engajar no propósito. Por exemplo, se você precisa de uma rede que a ajude na maternidade ou se é para se apoiar enquanto luta racial. "Esse é um movimento que por vezes leva bastante tempo; é uma construção conjunta que envolve vários pontos dessa trama para que dê tudo certo", enfatiza Dias.

4. Identifique quem pode cooperar com o quê

Em muitos momentos, não há como fugir da busca de apoio. É necessário ter assertividade na seleção e deixar claro qual o papel de cada participante. Dias compara a iniciativa a um time que entra em campo, com todos dispostos a realizar com empenho, entusiasmo e compromisso as atividades às quais se dispuseram.

"Há muitos que são ótimos em questões práticas, como financeira. Outros são melhores ao cuidarem de uma criança ou idoso. Identificar quem pode cooperar é um passo significativo na geração dessa rede de apoio", afirma Schreiner.

5. Pense se você consegue ajudar essas pessoas também

"A troca é aspecto que merece atenção. Você me ajuda, eu lhe ajudo, nós nos ajudamos. Isso faz a diferença", fala Dias.

Para Schreiner, muitas vezes, até se esquece de que se faz parte da rede de apoio de outras pessoas. "É válido ser apoio também. Claro que há temas nos quais não é possível dar assistência, mas pode-se demonstrar interesse, acolher e ouvir o outro. Agindo assim, por meio dessa intimidade, é mais fácil solicitar auxílio."

Outro aspecto a ser considerado é o equilíbrio. Para Dias, não é aconselhável ajudar quando não se está bem. É indispensável atenção para que não haja sobrecargas. Conversas e negociações diversas envolvem tempo, valores, comprometimento e empenho.

6. Comece a frequentar lugares com os quais você se identifica

Para ampliar sua rede, identifique pessoas em outros ambientes. "Por exemplo, se precisa de auxílio em relação à maternidade, frequente lugares que tenham esse público para ocorrer identificação e maior probabilidade para a troca de conhecimento e auxílio", cita Schreiner.

Ainda segundo ela, é claro que a pessoa não precisa, necessariamente, passar pelo mesmo problema para ser uma rede de apoio. Mas isso é capaz de gerar identificação, sendo mais fácil o intercâmbio de informações e ideias.

7. Apoio não necessariamente precisa vir da família

Você pode contar com apoio emocional que não necessariamente vem da família. É possível recorrer a amigos, colegas, professores e, inclusive, a profissionais de saúde e instituições.

8. Ajuda profissional também vale

A psicoterapia atua nos conflitos internos e fragilidades e sai dos limites familiares e de amizade. Por vezes, são situações pontuais, fases e momentos de crise nas quais se precisa de alguém que escute com atenção, acolha sem julgamentos e leve à reflexão do que se está vivendo.

"Esse profissional atua na formulação das perguntas que podem conduzir à percepção de novos caminhos a seguir, que possam ser trilhados, desbravados, aprendendo a lidar ou a solucionar os desafios enfrentados no momento", afirma Dias.

Outro instrumento, de acordo com Martim Elviro de Medeiros Junior, médico de família, é o Ecomapa, no qual um profissional da saúde, por exemplo, a partir de uma entrevista com o indivíduo, registra relações e intensidades com a família, a comunidade, grupos religiosos, estruturas governamentais, que podem prestar um papel muito relevante nas necessidades. "Um bom início para se montar uma rede de apoio é procurar um serviço de saúde e ser atendido por um profissional que tenha esta habilidade", informa.

9. Atente-se à rotina

"Quando a rotina é intensa, é bem provável que sobre pouco tempo para se pensar na vida pessoal e se dedicar a ela. Isso tem um impacto gigantesco na qualidade de vida, nas relações interpessoais e na rede de apoio. Vai faltar tempo e energia para se dedicar ao outro e para solicitar amparo. É fundamental encontrar espaços na agenda para encontros, socialização e para pensar em si", diz a psicóloga e neuropsicóloga.

Segundo ela, não demanda muito tempo, mas que seja de qualidade para que se tenha energia para se dedicar e pedir colaboração, se precisar.

Para ela, cada situação é uma excelente oportunidade para aprender novas habilidades e competências, as quais, uma vez superados os desafios, levam à transformação em seres humanos melhores. "É essencial confiar e agir. Quem está disponível para passar para o próximo nível?"

10. Se necessário, mude hábitos

Outro ponto a se enfatizar, conforme o médico de família, é o reforço positivo, quando é preciso fortalecer mudanças de comportamento ou hábitos de vida. Pessoas que sofreram com o mesmo problema apresentam uma incrível legitimidade nos processos terapêuticos e proporcionam grandes chances de êxito.

"As diversas plataformas existentes geram uma percepção e sensação de reforço e empatia quando as pessoas recebem reforços positivos, de acordo com pesquisas recentes."

Fontes: Ana Clara Schreiner, psicóloga e neuropsicóloga, possui aprimoramento em neuropsicologia pelo Instituto de Psiquiatria do HC - USP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo) e especialização em saúde mental pela mesma instituição, atua na clínica Mancini Psiquiatria e Psicologia (SP); Ana Flávia Torquato, endocrinologista da linha de obesidade do HUWX (Hospital Universitário Walter Cantidio) da UFC (Universidade do Ceará), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Janete Teixeira Dias, psicóloga, psicoterapeuta e professora no curso de graduação em psicologia da Unipaulistana (Centro Universitário Paulistano); Martim Elviro de Medeiros Junior, médico de família e docente do curso de medicina da Faculdade Santa Marcelina.