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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


O que você desenha pode expor seus sentimentos e diagnosticar transtornos

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

27/07/2022 04h00

Para quem não é designer, projetista, cartunista, desenhos podem ser percebidos apenas como meros passatempos. No entanto, segundo especialistas em saúde mental, podem ser meios para se conectar com o eu interior, pois funcionam como exercícios de imersão e, no papel, retratam percepções, sentimentos, vivências e características da personalidade.

"Na terapia gestalt, desenvolvida entre as décadas de 1940 e 1950 pelo médico alemão Fritz Perls, o desenho é um dos instrumentos para se fazer diagnósticos e estabelecer contato, vínculo, entre terapeutas e pacientes, sobretudo crianças e jovens", informa Wimer Bottura, psiquiatra e presidente do comitê de adolescência da APM (Associação Paulista de Medicina).

Gestaltung é uma palavra alemã que pode ser interpretada como "dar forma", daí o motivo de a terapia gestalt ser conhecida como a "terapia da forma" e ter associação com desenhos. A gestalt estuda como o cérebro reconhece as formas e entende que nossa percepção de mundo se dá como um todo, para depois se chegar às partes isoladas, e analisa desenhos dessa forma.

Desenhos nos expressam

Formas carregam significados que nem sempre são facilmente identificados por quem não segue parâmetros profissionais de decodificação artística, por assim dizer. Na maioria das vezes, nos preocupamos mais com o resultado de uma imagem produzida do que com todo o processo de elaboração envolvido, daí a importância de entrar em cena o terapeuta gestalt.

"Ao pedir em consultório que uma criança desenhe sua família, por exemplo, é possível que o especialista perceba se ela está em conflito interno, se tem lidado com pais ausentes, além de saber suas preferências", continua Bottura, complementando ainda que desenhos facilitam autoprojeções, dão detalhes que, conscientemente, pacientes não percebem ou confessam.

Nem é preciso ter habilidade com as mãos e produzir algo realístico, perfeito. Abstrações e rabiscos também revelam bastante, por meio da intensidade dos traços, seus formatos e as cores empregadas neles. Tudo isso demonstra o que se sente, como funciona para se autoaliviar, se autoagradar, e colocando para fora internalizações obtém-se ganhos terapêuticos.

Além de figuras ambíguas

A gestalt é comumente associada a imagens com duplo sentido, como três bolinhas desenhadas em uma folha que, numa observação rápida, podem ser apenas bolinhas, mas, com mais atenção, alinham-se como um triângulo. Em terapia gestalt, esse conceito é aplicado, mas para captar as diferentes facetas do paciente.

O desenho de um bicho favorito pode revelar características pessoais, como bravura, de leão, fidelidade, de cão. Com boca muito aberta, desejo de falar; fechada, fala reprimida. "Mas é tudo muito subjetivo, é preciso considerar caso a caso, as interpretações seguem contextos específicos", esclarece Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA).

Por isso, geralmente o psicólogo pede para que o paciente, estando disposto, descreva em detalhes o que produziu e, com base em suas respostas, pode indicar uma abordagem de tratamento. Para ter certeza, é preciso que o conteúdo dos desenhos se repita. Contudo, tão ou mais importante é o cultivo e estabelecimento de um vínculo de confiança entre as partes.

Atividade serve para adultos

Dialogar predispõe agir, apresentar-se, colocar-se no mundo. Porém, há quem não goste ou não se sinta confortável, seguro em fazer isso, especialmente na frente de desconhecidos. Nesse sentido, o desenho, que é indicado para crianças maiores e adolescentes, pode ser testado também com adultos com dificuldade em se expressar, transtornos ou introspectivos.

Desenhar predispõe a se soltar mais, ainda mais quando se conta uma história a respeito do que se produziu. "O processo de criação (mesmo simples) estimula o cérebro, aumenta o fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal, contribuindo para o prazer, o estar à vontade e criatividade", explica Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião.

Em 2017, um estudo da Universidade Drexel (EUA), publicado no periódico The Arts in Psychotherapy, comprovou isso e mais: além de expressar estados emocionais, divertir e trabalhar habilidades cognitivas e motoras, esse tipo de arte contribui para a aquisição de estratégias e resolução de problemas de forma prática e funciona como uma terapia eficaz.