Gêmeos unidos pelo crânio são separados no RJ, após 9 cirurgias pelo SUS
Gerados unidos pelo crânio, numa condição rara conhecida pela medicina como craniopagia, os gêmeos Arthur e Matheus puderam ser separados após 9 cirurgias complexas, que contaram com o acompanhamento de um especialista britânico. Foram quatro anos de espera para as crianças, mas a separação enfim pôde ocorrer, com recursos bancados integralmente pelo SUS, segundo o "Fantástico", da TV Globo.
Graças ao sucesso da cirurgia, a equipe do neurocirurgião Gabriel Mufarrej, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, se tornou referência na América Latina para futuras cirurgias de separação de gêmeos unidos pelo crânio.
Ao "Fantástico", da Rede Globo, os pais das crianças, Adriely Lima e Antonio Alves Batista, contaram que o casal já possuía duas filhas quando a mulher entrou em sua terceira gestação. Porém, desde o começo, descobriram no ultrassom que havia algo errado.
"Eles falaram que era uma coisa estranha. Uma cabeça com dois corpos", contou Batista, em entrevista ao programa. A craniopagia é rara. A incidência é de um caso para cada 2,5 milhões de bebês nascidos.
Com seis meses de gestação, Adriely sentiu-se mal e foi levada para o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro. No hospital, ligado à Fiocruz, os gêmeos nasceram com os cérebros e os crânios unidos. Os irmãos chegaram ao Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer quando tinham oito meses de idade.
Segundo os médicos, Arthur e Bernardo compartilhavam cerca de 15% de seus cérebros e dividiam também uma veia extremamente importante, que conduzia o sangue de retorno aos corações dos dois.
"Trata-se de um caso muito raro. Esses gêmeos se enquadraram na classificação mais grave, mais difícil e com mais risco de morte para os dois. Quando você tem 1% de chance, você tem 99% de fé", declarou ao "Fantástico" o neurocirurgião Gabriel Mufarrej.
A cirurgia, lembra o médico, chegou a ser contraindicada por um especialista estrangeiro. Mas ele acreditava ser possível realizar os procedimentos e conversou com os pais, que concordaram.
"A primeira cirurgia eu batizei de 'cirurgia do medo'. Eu tive muita cerimônia nessa primeira cirurgia, para não dar errado, para encorajar a gente para seguir para outras", comentou o médico.
As cirurgias seguintes foram realizadas com intervalos de três a quatro meses para que os médicos pudessem desconectar, aos poucos, a veia do cérebro de um dos irmãos e, ao mesmo tempo, aguardar o tempo necessário para que o cérebro pudesse recompor as veias do seu sistema circulatório.
Durante os mais de três anos em que os gêmeos permaneceram internados, a equipe médica realizou diversas ressonâncias magnéticas e tomografias nos gêmeos. Os profissionais precisavam entender aquela estrutura cerebral tão diferente e as veias que eles compartilhavam.
Com o tempo, as imagens sozinhas já não se mostraram suficientes para a continuidade dos estudos. A partir daí, os neurologistas decidiram criar modelos dos cérebros das crianças em 3D. Essas réplicas tridimensionais foram fundamentais durante as cirurgias, segundo Mufarrej.
"Várias vezes durante a cirurgia eu me perdia. Então eu tinha que sair de campo para que um auxiliar me mostrasse os modelos, para que eu pudesse me localizar", contou o médico ao programa.
Desafios na fisioterapia
Entre as cirurgias, as crianças também enfrentaram diversos desafios durante as sessões de fisioterapia. Os médicos queriam testar e desenvolver ao máximo a capacidade cognitiva e de fala dos meninos. E também sua capacidade motora.
"Eles estavam no hospital e os instintos são precários. Mas a gente colocava eles no chão, fez festa de aniversário, ensinou eles a falar. A gente se sente parte da família", disse a médica pediatra Fernanda Fialho.
Antes da penúltima cirurgia, o neurocirurgião decidiu buscar o suporte do médico britânico Owasi Jeelani, o maior especialista em separação de craniópagos no mundo. A oitava cirurgia durou 13 horas e a última, 23 horas, marcadas por momentos de muita tensão e apreensão. Apesar da angústia, os irmãos saíram do centro cirúrgico separados, para emoção dos médicos, da equipe e dos pais das crianças.
"Eles já passaram por tanta coisa, já sofreram tanto. Eles são muito guerreiros. Nosso coração é só gratidão", disse a mãe dos gêmeos. "O maior sonho é ver eles recuperados, com saúde e até com uma vida social como as outras crianças. Poder estudar e jogar bola", afirmou o pai.
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