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Ficar com as pernas para cima após transar aumenta a chance de engravidar?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

03/08/2022 04h00

Quem está tentando ter filhos já deve ter recebido essa dica de muitas tias, primas ou amigas que afirmam que ficaram com as pernas levantadas após terem relações sexuais com os parceiros e que, por isso, engravidaram.

Na opinião do médico Newton Eduardo Busso, chefe do departamento de ginecologia do centro de estudos do Grupo Santa Joana (SP), o que vai ocorrer, possivelmente, é apenas cãibra.

Não passa de crendice popular que a posição favorece a entrada de mais espermatozoides no canal cervical e com isso alcançariam com mais rapidez o óvulo na tuba uterina. Não existe comprovação científica para esse mito, que não é recente, e nem para nenhum outro associado às posições durante ou após a relação sexual que possam aumentar as perspectivas de concepção.

A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM - American Society for Reproductive Medicine) e a Sociedade de Endocrinologia Reprodutiva e Infertilidade (SERI - Society for Reproductive Endocrinology and Infertility) publicaram em janeiro de 2022 um parecer a respeito da otimização da fertilidade natural, em que confirmam que posições sexuais específicas e rotinas pós-coito não têm impacto na fecundação.

Sem ajuda da gravidade

As características da anatomia feminina e do líquido seminal reúnem as condições para que a concepção aconteça sem que haja a necessidade de testar alternativas que não passam de invencionices.

Os gametas masculinos migram para dentro do útero assim que ocorre a ejaculação; essa migração é praticamente imediata e não é influenciada por qualquer tipo de posicionamento corporal.

"Estudos mostram que, após uma inseminação de espermatozoides na vagina, apenas cerca de 5 minutos já são suficientes para serem encontrados no interior das tubas", esclarece Daniel Suslik Zylbersztejn, especialista em reprodução humana e coordenador médico do Fleury Fertilidade.

Busso explica que, ao contrário do que muitos imaginam, a vagina não é um tubo aberto, após a retirada do pênis, ela se fecha, e por mais que a mulher se levante ou fique em outra postura, não haverá perda de sêmen, preocupação frequente entre os casais.

"No útero, cabe 0,5 ml de líquido e o homem, normalmente, ejacula de 2,5 a 3,5 ml, ou seja, cinco, seis, sete vezes mais, sendo natural o vazamento", afirma Agnaldo Viana, ginecologista e especialista em reprodução humana no IVI Salvador, clínica de fertilidade na capital baiana.

Durante a relação sexual, segundo Zylbersztejn, existe um estreitamento do canal vaginal final devido à congestão de vasos e um alargamento da vagina junto ao colo, que proporciona uma área de lago seminal após a ejaculação e dificulta a saída de grande parte do sêmen depositado, mesmo em pé.

"A ducha vaginal ajuda, inclusive, a empurrar mais líquido seminal contendo espermatozoides para dentro do canal cervical." Atingir ou não o orgasmo também não impacta a fecundidade, de acordo com os especialistas.

É recomendável manter relações todos os dias?

Os pares que buscam engravidar devem manter relações sexuais dia sim, outro não, e, no máximo, uma vez por dia, durante o período fértil, a fim de melhorar a quantidade, mobilidade e vitalidade dos espermatozoides e, assim, ampliar as chances de sucesso, segundo orientações dos especialistas.

"Para um casal em idade reprodutiva com vida sexual regular sem o uso de métodos contraceptivos e que não apresente nenhuma grande alteração, se considera o período de 12 meses de tentativas para que se estabeleça a investigação para o diagnóstico de infertilidade conjugal ou subfertilidade —termo mais usual atualmente—, porque é possível que haja algum aspecto que reduza a fertilidade, mas que não impossibilite a gravidez. Já a esterilidade é a presença de fatores que inviabilizam a concepção", esclarece Ricardo Porto Tedesco, ginecologista, professor titular de obstetrícia da FMJ (Faculdade de Medicina de Jundiaí), membro da comissão nacional especializada em assistência ao abortamento, parto e puerpério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

O médico do Grupo Santa Joana sugere a realização de um espermograma quando o casal começa a pensar em ter filhos. "É um exame simples, fácil de ser realizado e que antecipa o diagnóstico: 35% dos casos de infertilidade se devem ao componente masculino."

A idade média da mulher ao ter o primeiro filho, no Brasil, já ultrapassa os 30 anos e, apesar das técnicas existentes, os especialistas sugerem aos que almejam conceber que seja feito um planejamento reprodutivo, a fim de listar as melhores alternativas e prioridades.

Vida saudável

Hábitos e estilo de vida saudáveis contribuem para a fertilidade. Deve-se evitar o consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas, por exemplo. De acordo com o documento da ASRM e SERI, altos níveis de consumo de cafeína —mais de 5 xícaras de café por dia ou seu equivalente— têm sido associados a diminuição da capacidade de reprodução.

Alimentação balanceada e natural, lazer e sono regular são práticas que contribuem para a melhora dos índices de fecundação. "A ingestão de carboidratos complexos —raízes, como inhame e mandioca— favorecem a saúde e, como consequência, equilibram o organismo, representando mais oportunidades de sucesso na concepção", fala Viana.

As questões emocionais afetam, direta ou indiretamente, a fertilidade e precisam ser tratadas, pois podem levar a um atraso de diagnóstico. "Investir em saúde mental e bem-estar é fundamental", reforça o ginecologista de Salvador.