Por que algumas partes do corpo podem parecer desproporcionais à altura?
Quem se olha com frequência no espelho, ainda mais sendo um de corpo inteiro, percebe facilmente o próprio formato. Alguns podem notar que a cabeça parece grande ou pequena em relação ao tronco, ou então os braços, as pernas, as mãos. E aí a dúvida sobre o que pode estar por trás. Os médicos asseguram que, na maioria das vezes, é normal, mas em outras...
"O tipo de corpo geralmente é determinado pela carga genética, ou seja, independe de fatores externos. Chamamos de fenótipo o aspecto aparente de uma pessoa, ou seja, como ela é vista. Mas, além da carga genética inerente, membros (braços e pernas) podem aparentar diferentes proporções quando ocorre algo que influencie seu crescimento durante a infância", explica Nelson Astur, ortopedista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen, em São Paulo.
Astur aponta como causas doenças do crescimento ou restrições nutricionais, assim como lesões nas cartilagens de crescimento dos ossos, fraturas nos ossos longos e alterações hormonais, principalmente do hormônio do crescimento (GH, do inglês growth hormone).
"A coluna vertebral, que irá compor o tamanho final do tronco e do abdome, pode seguir um crescimento desproporcional em relação a braços e pernas devido a uma escoliose (curvatura lateral da coluna vertebral) e o tronco encurtar, por exemplo. Ou o crescimento anormal das extremidades dos membros pode levar à desproporção da envergadura em relação ao tronco. Algumas síndromes, como Marfan, apresentam esse aspecto, ou a acromegalia", continua.
Desproporção em crianças e adolescentes
Bebês e crianças pequenas costumam ter a cabeça maior do que o restante do corpo, mas à medida que crescem suas medidas se igualam, e depois o esperado é que a circunferência do tórax seja maior do que a do crânio.
Seus membros também são mais curtinhos, mas conforme se desenvolvem e depois entram na puberdade, têm um estirão e ganham comprimento de forma acelerada. Pode-se esperar por um ganho de crescimento de até 10 cm no ano do pico.
"Por isso é normal os adolescentes parecerem desajeitados. Os braços e pernas deles crescem mais rápido do que o tronco", informa Wendell Ughetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), com o acréscimo de que o crescimento físico em adolescentes também varia de acordo com o gênero.
Nos meninos, por entre 12 e 16 anos, e nas meninas, por volta de 9 a 13 anos. Nelas, a assimetria mamária também é observada nessa fase.
É possível falar em proporção ideal?
A "proporção áurea", uma sequência matemática relacionada a padrões para tudo que existe na natureza (plantas, caracóis, furacões), também se aplica ao ser humano.
Astur explica que a unidade padrão para estudar as proporções do corpo humano é o tamanho da cabeça, mas que há muitas variações, pois as pessoas podem ser esguias, com membros e tórax alongados (longilíneas), baixas e largas (brevilíneas), ou representarem um tipo equilibrado (mediolíneo).
"Se tomarmos o tamanho da cabeça como a unidade padrão, podemos dividir o corpo em sete unidades e meia ou oito dessa. Já as mãos devem chegar, em geral, até o início da coxa como padrão, e as pernas (sem a pelve) têm de 45% a 50% da altura final. Mas as proporções mudam conforme a constituição corpórea, idade, gênero. Nas mulheres, por exemplo, os ombros são um pouco mais estreitos e os quadris mais largos, ao contrário dos homens", diz o ortopedista.
Em relação aos órgãos, não é comum o tamanho deles seguir o crescimento ósseo. Entretanto, podem ser maiores ou menores de acordo com estímulos externos ou doenças.
Exemplos são um rim que atrofia, caso não funcione, um coração dilatado (cardiomegalia) devido a um problema de válvula cardíaca, e pulmões com limitação de desenvolvimento por falta de espaço na caixa torácica ou deformidade da coluna vertebral durante infância e juventude.
Quando exige investigação e tratamento
A rotina de crianças e adolescentes deve ser acompanhada respectivamente pelo pediatra e hebiatra, que têm autonomia necessária para direcionar a algum especialista médico eventuais quadros suspeitos, como quando a cabeça da criança é maior do que o considerado esperado para sua idade (macrocefalia), puberdade tardia, ou quando a velocidade de crescimento aumenta a ponto de causar deformidades ósseas, inchaços, problemas em músculos e nervos.
"Adultos, igualmente, principalmente quando apresentam má postura, aumento mandibular (prognatismo), acromegalia/gigantismo (que pode cursar com artrose em cartilagens, cardiopatias, hipertensão, apneia do sono), ou acondroplasia/nanismo (levando, com frequência, a mau desenvolvimento do esqueleto, membros curtos e baixa estatura)", explica Márcio Teixeira, ortopedista e traumatologista do Hospital Português da Bahia, em Salvador.
Como gigantismo e acromegalia acontecem por causa de um aumento da produção do hormônio do crescimento decorrente de um tumor na hipótese (glândula endócrina, localizada na parte inferior do cérebro), o tratamento consiste em remoção cirúrgica desse tumor e, às vezes, administrar medicamentos e radioterapia.
Quanto à acondroplasia, cirurgias podem ser necessárias para alongamento e correção de membros arqueados e disfunções articulares.
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