Arnica é usada para amenizar contusões; veja para que serve a planta
Quem vive com hematomas causados por batidas em móveis, ou outros objetos, com certeza já deve ter ouvido o conselho de "passar uma pomada de arnica". E a dica está mais do que certa, afinal de contas, um dos benefícios comprovados dessa planta é exatamente no tratamento de traumas, contusões e outros problemas.
Mas não é apenas essa a benfeitoria da arnica. Por isso, VivaBem conversou com diversos especialistas e mostra para que serve e quando usar a planta.
Ela é europeia
De nome científico Arnica montana, essa planta herbácea vem da família das Asteraceae, que atinge entre 20 a 65 cm de altura e não é cultivada aqui no Brasil. A arnica é uma planta nativa da Europa Setentrional, Central e Oriental. E pelo fato de desenvolver-se de forma espontânea nas regiões montanhosas, especialmente nos Alpes, recebeu o nome na espécie de montana.
No Brasil existem outros tipos também denominados de "arnica", no entanto, não correspondem à verdadeira. "Por isso, são denominadas de arnica-brasileira, como é o caso da Solidago chilensis (cerrado brasileiro) e Porophyllum ruderale (também conhecida como cravo-de-urubu no Nordeste). Estas espécies brasileiras que se passam por arnicas, assim se identificam popularmente por apresentar similaridade de uso medicinal com a Arnica montana", esclarece Idivaldo Antonio Micali, farmacêutico e bioquímico, mestre em educação em saúde e docente do Departamento de Farmácia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Além disso, as espécies do gênero Lychnophora também são consideradas como arnica brasileira, mas foram descobertas pelos europeus na época da migração deles para cá.
"Os estrangeiros buscavam plantas semelhantes à arnica em relação ao odor e ao uso. E, assim, outras espécies passaram a ser utilizadas, como a Lychnophora, que receberam o nome de Arnicas da Serra ou falsas arnicas", complementa Norberto Peporine Lopes, membro da Academia Brasileira de Ciências e professor do NPPNS (Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos) da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).
No entanto, é preciso atenção: os estudos sobre os efeitos das formulações à base da arnica brasileira ainda não estão tão aprofundados como os realizados com a planta europeia. Portanto, o melhor, sempre, é utilizar a Arnica montana.
Para que serve a planta
A arnica, encontrada em farmácias homeopáticas, com manipulação e drogarias, e vendida como pomada, creme, ou em líquido, é frequentemente utilizada no tratamento de inflamações, contusões, feridas e reumatismo devido ao seu poder anti-inflamatório. E isso foi identificado por meio de um extenso estudo divulgado no Journal of Pharmacy and Pharmacology, que revisou diversas pesquisas a respeito da arnica.
O estudo identificou que o poder anti-inflamatório se dá graças a ação de compostos encontrados na planta chamados de lactonas sesquiterpênicas. Além disso, a planta também tem um grande potencial na cicatrização de queimaduras induzidas por laser de grau 2, como apontou outra pesquisa realizada por especialistas do Departamento de Ciências da Saúde Ambiental do Hospital Universitário Freiburg, na Alemanha.
Já para quem foi diagnosticado com osteoartrite, doença caracterizada por um desgaste da cartilagem e alterações ósseas, a pomada ou gel de arnica pode ajudar no tratamento do problema. Isso porque, de acordo com um estudo feito por pesquisadores suíços e publicado no periódico Rheumatology International, a planta melhora a capacidade funcional das mãos e a redução de rigidez matinal e da dor.
Durante o estudo, a arnica foi comparada com o ibuprofeno no tratamento da osteoartrite das mãos. E os resultados confirmaram que a preparação em gel da planta tem uma eficácia que não é inferior ao princípio ativo usado em vários medicamentos anti-inflamatórios.
E assim como na terapia contra a osteoartrite, a pomada de arnica é indicada no alívio dos sintomas decorrentes de contusões, entorses, dores musculares localizadas, alopecia e inflamação. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda aplicar uma fina camada, de duas a três vezes ao dia.
Benefícios que merecem cuidado
Ainda segundo a revisão publicada no Journal of Pharmacy and Pharmacology, a arnica pode ter diversas outras benfeitorias, porém, de acordo com o professor Micali, é preciso muita atenção antes de sair por aí ingerindo a planta.
"Há pesquisas que apontam que a planta possui propriedades imunoestimulante e antitumoral, de atividade cardiovascular, antimicrobiana, hepática e dermatológica. Mas, devido ao alto poder tóxico de seu emprego por via interna, é desaconselhável a ingestão de infusões e tinturas", aconselha.
Chá de arnica não é indicado?
Muitas pessoas associam a planta ao preparo de infusões, mas é importante saber que a utilização de chás de espécies medicinais deve ser orientada por um médico ou farmacêutico.
Além disso, segundo o Formulário Fitoterápico da Anvisa, não há recomendação de uso oral da arnica na forma de chá. "Isso porque a planta contém substâncias tóxicas que podem causar hepatotoxicidade (dano causado no fígado por substâncias químicas), efeitos cardíacos e citotóxicos (lesões nas células), tendo seu uso restrito na Europa e nos EUA, além do Brasil", alerta Fernando Da Costa, professor da FCFRP-USP.
Por outro lado, a infusão pode ser utilizada como compressa em hematomas e contusões. Para preparar o chá, vale a orientação da Anvisa: aqueça 100 ml de água; quando começar a formar bolinhas no fundo da panela, desligue o fogo e acrescente 2 g das flores secas e rasuradas (em pequenos fragmentos). Tampe a panela e aguarde por 10 a 15 minutos. Feito isso, coe o líquido, e com a ajuda de um algodão ou uma gaze, aplique no local que estiver machucado de duas a três vezes ao dia.
Produtos homeopáticos
Se por um lado o chá não é indicado, as preparações homeopáticas à base de Arnica montana para uso interno são seguras. Isso porque, durante o preparo desses produtos, o extrato da planta é diluído, o que reduz a concentração e evita os efeitos colaterais mencionados. Nesse caso, o uso da arnica em preparação homeopática de uso oral é aprovado pela Anvisa.
No formulário fitoterápico da agência, o produto é indicado no tratamento de contusões, traumatismos, estafas físicas, esforços repetitivos, hemorragias traumáticas, torceduras e varizes dolorosas. Por isso, os farmacêuticos nas farmácias com manipulação estão habilitados para indicar e orientar as preparações à base de arnica.
Todo mundo pode usar?
Seja na preparação em pomada, ou para uso via oral, a arnica é contraindicada durante a gestação e amamentação, assim como não é recomendada para menores de 12 anos. Isso se dá porque não há estudos que garantam a segurança do uso nesses grupos.
Também não é indicado utilizar a pomada quando o ferimento na pele estiver mais profundo. Por isso, lembre-se sempre da importância de buscar ajuda de um profissional da saúde antes de utilizar qualquer produto medicinal.
Fontes adicionais: Mayara Ladeira Coelho, farmacêutica do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), vinculado a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e Thaís Barca, nutricionista funcional e esportiva da Clínica CliNutri, em São Paulo, e especialista em fitoterapia funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional, em São Paulo.
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