Homem ilhado comeu carvão e misturou água doce com salgada; veja riscos
O jardineiro Nelson Nedy Ribeiro, de 50 anos, foi encontrado no último sábado (13) após passar cinco dias isolado na Ilha das Palmas, próximo à Praia de Grumari, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Em entrevista à TV Globo, ele disse que comeu dois limões, um pedaço de carvão e misturou água doce com salgada para sobreviver.
"Caiu uma chuvinha, eu colocava a mão nas gotinhas de chuva e apanhava, pra molhar a boca. Eu estava com muita sede", contou o jardineiro.
Na terça-feira, segundo dia ilhado, ele encontrou duas garrafas de água na mata, mas apenas uma estava limpa para consumo. Ele diluiu o líquido com a água do mar ao longo dos dias, com receio de tomar tudo de uma vez e ficar sem nada para beber.
"Em relação ao tempo, é possível sobreviver cinco dias sem comida. Água nem tanto, porque existe desidratação em dois a três dias, principalmente com calor", explica o gastroenterologista Bruno Sander, mestre pela UFMG (Universidade Federal do Minas Gerais).
Nelson contou que comeu um pedaço de carvão na sexta-feira (12), um dia antes de ser resgatado. Ele disse que isso só piorou a sede, deixando a boca mais seca. Segundo a nutricionista Érica Fernanda de Oliveira, do Hospital Nove de Julho (SP), não há pesquisas que estudem termos nutricionais do carvão, assim como a extensão dos riscos de consumi-lo.
"De maneira geral, sabemos que o carvão é um material extremamente desidratado, então correria o risco de a pessoa desidratar ainda mais", diz Oliveira. De acordo com Bruno Sander, o consumo não preocupa tanto neste caso, porque parece ter sido pequeno. No entanto, caso Nelson continuasse comendo, o carvão poderia funcionar como uma "esponja", sugando água e contribuindo para o processo de desidratação.
Água misturada
Fracionar a água potável com a do mar também foi uma decisão importante para fazer o líquido "render", afirmou Oliveira. Mas, caso tivesse apenas a água salgada disponível, a orientação seria evitar o consumo direto para não correr o risco de desidratação.
"Quando se ingere líquido com muito sal, ao entrar em contato com toda a parte intestinal, ele puxa líquido dos arredores e do entorno do intestino. Isso vai ser eliminado e não absorvido", explica a nutricionista. Caso o consumo de água do mar seja alto, também há risco de contaminação por outros micro-organismos presentes nela.
Após o resgate, Nelson foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, com ferimentos leves e arranhões. Quando a pessoa passa dias com privação de comida e líquido, há um protocolo de realimentação, ofertando aos poucos.
"No caso de pacientes sem comer e beber, se entrarmos com muita bebida e comida, o sistema digestivo não consegue utilizar isso de maneira adequada. Então, introduzimos pouco, para depois retomar. A volta tem que ser gradativa, não pode usar muita caloria, inclusive porque o corpo não consegue absorver", afirma Oliveira.
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