'Parei de fumar e perdi 14 kg para ficar grávida para duas amigas'

Silvana Figueiro, 48, era fumante há anos e não tinha uma alimentação considerada saudável. Gostava de comer lanches e pizza com frequência, além de muito doce. Mas em 2020 todos esses hábitos precisaram mudar. De Florianópolis, a vendedora decidiu ser barriga solidária para um casal de amigas.

Só que a história entre as três é um pouco mais antiga. Silvana conheceu a empresária Fabrícia Schenkel, 53, porque era casada com o irmão dela. As duas são amigas há mais de 20 anos. Quando Fabrícia resolveu engravidar ao lado da esposa Juliana Durante, 47, as três se aproximaram ainda mais.

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Silvana acompanhou de perto a história do casal. Fabrícia ficou grávida de Flora, em 2019, mas ela nasceu prematuramente, em dezembro, e não resistiu. Na época, ela ficou muito comovida e envolvida com o ocorrido.

Durante um almoço, no começo de 2020, as duas contaram para Silvana que iam seguir buscando opções para ter um filho. Neste mesmo período, elas chegaram a iniciar um processo de "barriga de aluguel" nos Estados Unidos.

Mas Silvana teve uma ideia naquele momento e se ofereceu para ser barriga solidária —nome também conhecido por útero ou barriga de substituição. Isso significa que, a partir de técnicas de reprodução assistida, ela iria gestar o bebê para as duas, voluntariamente.

"Já sou mãe e tenho uma filha de 26 anos. Não tinha mais esse desejo de engravidar. Também me envolvi muito nesse processo da Flora. A história dela mexeu comigo", lembra Silvana. Além disso, Juliana e Fabrícia descobriram que, por algumas complicações no útero, não conseguiriam gestar um bebê.

No entanto, o útero de substituição, no Brasil, só é permitido quando a pessoa que vai gestar é parente de até 4º grau. Para conseguir permissão para que Silvana fosse a gestante, o casal teve que esperar a autorização do Conselho Regional de Medicina —no caso, foi o de São Paulo, onde ocorreu a fertilização in vitro— que durou cinco meses. Enquanto isso, Silvana foi mudando sua rotina.

Perder peso e parar de fumar

Quando as três procuraram a médica Melissa Cavagnoli, especialista em medicina assistida pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), ela explicou que Silvana teria que parar com o cigarro e perder 14 kg, pois, na época, aos 47 anos, a gravidez já é considerada de risco.

"A partir dos 40, já consideramos gravidez de risco. Normalmente, fazemos a técnica até 50 anos. Depois disso, só com declaração médica atestando que a pessoa é saudável e tem condição de gestar", explica a médica, formada pela Universidade de Caxias do Sul (RS).

Silvana levou tudo a sério. O primeiro passo —e mais fácil, segundo ela— foi parar com o cigarro. Na época, em julho de 2020, pegou covid e ficou mal durante 30 dias. "O pior foi a primeira semana, mas como estava doente, não conseguia fumar, então foi a parte mais suave. Também tinha esse propósito da gravidez", conta.

Outro ponto era a alimentação. A vendedora precisou evitar alguns alimentos e incluir outros. "Minha alimentação era péssima, comia muita fritura, tipo lanches e pizza, e muito doce", diz. Começou então a passar em uma nutricionista, e reaprendeu a comer, focando em alimentos da dieta mediterrânea, como vegetais, frutas, sementes, peixes e frutos do mar.

"É uma alimentação muito boa, gostosa e nutritiva, então não tive nenhum desgaste para iniciá-la. Na verdade, o corpo agradece quando você começa a ficar mais saudável", fala Silvana, que perdeu 14 kg neste processo, passando de 96 kg para 82 kg.

Segundo a especialista, o sobrepeso ou a obesidade podem causar problemas de saúde durante a gravidez. "Não é uma questão estética, é de saúde mesmo, pois aumenta os riscos de a pessoa ter pressão alta e diabetes", diz, lembrando ainda da importância da atividade física.

"É um mito que grávidas não podem fazer atividade física. Pode, sim, fazer ioga, musculação, natação, desde que seja algo leve e com supervisão de um profissional, que irá orientar a quantidade de peso que pode pegar, por exemplo", fala Cavagnoli.

"Além de ser boa para o bem-estar e evitar o excesso de peso, a atividade física é boa principalmente para fortalecer a musculatura, pois, no final da gravidez, a barriga causa uma sobrecarga na pelve e nas pernas. Quanto mais a gestante estiver preparada, melhor", conclui.

Gravidez de primeira

Quando o Conselho Regional de Medicina permitiu a gravidez de Silvana, o processo para engravidar foi iniciado. Fabrícia e Juliana utilizaram os próprios óvulos e optaram pelo banco de sêmen dos Estados Unidos.

Na parte de Silvana, a médica começou a preparar o útero dela. "Não podemos colocar o embrião [conjunto de células fruto da fecundação entre óvulos e espermatozoide] em qualquer dia. Por isso, fazemos uma simulação do ciclo menstrual, usando hormônios de dose baixa, por cerca de 10 dias. Aí fazemos o ultrassom para ver se o útero respondeu bem. Depois, usamos mais 5 dias de medicação via vaginal e aí colocamos o embrião no útero, entre o 18º e o 20º dia do ciclo", explica Cavagnoli.

Neste caso, eram dois embriões disponíveis para o procedimento —um deles não estava em boas condições (acabou não se desenvolvendo). Com isso, a médica optou por inserir os dois, mas só um deles deu certo e se dividiu em dois, resultando na gravidez dos gêmeos Léo e Isaac.

O procedimento, nesta situação, foi rápido. De primeira, Silvana já teve o resultado positivo para gravidez, conforme Juliana lembra. "Ela realmente se esforçou para isso, estava totalmente entregue. Tanto que ela engravidou de primeira", conta a médica.

No entanto, é importante destacar quem nem sempre o procedimento dá certo de primeira ou ocorre de forma tão rápida. Por isso, é fundamental que o médico deixe as expectativas alinhadas.

Nossa preocupação não era só com os gêmeos ali. A Silvana era uma gestante de 47 anos grávida de gêmeos, então é diferente de você estar grávida e você ser responsável pela saúde de outra pessoa. Se alguma coisa desse errado, nunca iria me perdoar. Por isso, todos os dias, eu ligava para saber como ela estava. Era algo diário mesmo. Fabrícia Schenkel, 53, empresária e mãe dos gêmeos

Além disso, carregar dois bebês por 9 meses não foi fácil, segundo Silvana. Ela chegou a ganhar 9 kg, mas atualmente, já perdeu mais de 20 kg e está com 69 kg.

"Uma gravidez de gêmeos, aos 47 anos, não é fácil. No final da gestação, tive um problema no pé, uma infecção por fungo, e foi muito tenso, mas tudo ficou bem depois. Além disso, Juliana é médica e muito organizada. Então, sempre fizemos muitos exames durante a gravidez", lembra Silvana. "Estou zerada por uns 10 anos", brinca.

Apoio psicológico é essencial

Silvana deu à luz Isaac e Léo em 7 de maio de 2021, por uma cesariana, em Florianópolis. Ela destaca a importância de, além dos cuidados físicos, ter um acompanhamento psicológico.

"É preciso bastante desprendimento para trazer duas vidas ao mundo para serem criadas por outras mães. Então, em alguns momentos, pode dar mesmo uma confusão e uma insegurança para pensar em como vai ser. Mas desde o começo tinha esse propósito, que era de colocar mais essas vidas ao mundo. Pela Flora", afirma a vendedora.

Juliana reforça a preocupação com a saúde mental neste momento. "É preciso ter muita consciência do processo. Mas é fundamental que a pessoa tenha o acompanhamento psicológico porque não é só a grávida, mas as famílias ao redor, que podem confundir", diz. "Foi muito lindo quando a Silvana apareceu, após a cesárea, e se despediu dos meninos, entregando os dois nos nossos braços", lembra a médica.

Hoje, Isaac e Léo têm 1 ano e 3 meses e são afilhados de Silvana.