Desenvolvimento de novas vacinas contra covid esbarra em falta de dados
Ninguém tem dúvidas de que as vacinas contra Covid-19, que funcionaram tão bem para conter a pandemia, precisarão ser atualizadas de acordo com as mutações do vírus. No entanto, a verdade é que não se sabe ao certo como e nem quando. A primeira geração de imunizantes, feita a partir da versão inicial do coronavírus (SARS-CoV-2), foi um sucesso capaz de reduzir significativamente o número de casos graves e de mortes no mundo todo. Pode-se dizer que foi graças a elas que a vida começou a voltar ao normal no planeta.
No entanto, a velocidade das mutações do vírus e a resposta do sistema imune lançam agora um novo desafio para a ciência: Como deve ser a próxima geração de vacinas? Quantas doses aplicar? Quem deve ser imunizado? Se por um lado os cientistas concordam que elas precisarão ser atualizadas, a verdade é que não se conhece ao certo como isso deve ser feito.
Recentemente, por exemplo, o FDA (agência norte-americana que regulamenta medicamentos e alimentos) aprovou uma atualização da vacina fabricada pela Moderna, mas com dois votos dissidentes. Isso porque os anticorpos dessa nova versão acabaram gerando uma resposta mais forte contra a variante anterior. Ou seja, embora continue protegendo contra a infecção principalmente grave, ainda não se mostrou a bala de prata contra as novas cepas.
O surgimento da variante ômicron mostrou que o vírus é capaz de contornar a resposta imune induzida pela vacina e até da própria infecção anterior. Então pode-se supor que uma nova versão do Covid-19 poderia evadir novos imunizantes. Pior ainda se a mutação resultar em algum vírus muito diferente dos que circulam até agora.
"Acredito que as vacinas devem ser ajustadas, o reforço precisa ser ajustado, mas a verdade é que ainda faltam dados," diz Luiz Vicente Rizzo, imunologista do Hospital Israelita Albert Einstein. "Como as vacinas funcionaram muito bem inicialmente, o mundo se acostumou com este patamar de mortes e parou-se de fazer pesquisa na velocidade que vinha sendo feita", completa.
Segundo ele, ainda precisamos de mais estudos mostrando quanto dura a imunidade induzida pela vacina, como elas se comportam frente às novas variantes, como alcançar uma resposta mais ampla. Sem falar que ainda estamos atrás de uma fórmula que, além de prevenir a doença, seja capaz de evitar que a pessoa infecte os demais. "Tudo isso precisa de estudos cuidadosamente desenhados para controlar todas as variáveis envolvidas. Não basta fazer um estudo observacional olhando para trás para tirar conclusões", diz Rizzo.
Para se ter uma ideia, se só levarmos em conta quem adoece, não temos como saber a eficácia da dose de reforço sem avaliar, por exemplo, se aqueles que vacinaram também adotaram mais medidas de proteção (uso de máscara, isolamento etc). Ou se, pelo contrário, essas pessoas ficaram mais confiantes e descuidadas - o que significaria que a vacina funciona melhor ainda do que o esperado.
Vacinas no Brasil
Atualmente o Brasil possui quatro vacinas em uso para o combate à doença: Coronavac (fabricada pelo Butantan), Astrazeneca/Fiocruz, Janssen e Pfizer e está na aplicação da 4ª dose (segunda de reforço) para a população adulta.
Hoje são cerca de 170 milhões de pessoas totalmente vacinadas — o que representa 79% da população — e apenas 7% parcialmente. Isso quer dizer que 86% dos brasileiros passaram pelos postos de vacinação. Mais da metade, 53%, recebeu pelo menos uma dose de reforço. Até aqui, foram mais de 465 milhões de doses aplicadas, sendo 350 milhões no protocolo inicial e 150 milhões de reforço, segundo dados do site Our World in Data. Se no início de abril do ano passado tínhamos cerca de 14 novas mortes por milhão de pessoas, no fim de julho de 2022 esse número caiu para pouco mais de um.
Há pesquisas em andamento, testando novas combinações de vacina em uma gama de variantes. E dois novos laboratórios entraram no jogo: Sanofi Pasteur e GSK. Mas as respostas a essas perguntas só o tempo — e muita pesquisa — vão nos dar.
Apesar de todas as dúvidas dos cientistas, uma coisa continua sendo certa: qualquer vacina é melhor do que nenhuma. E, enquanto não chegamos à fórmula ideal, as versões que estão aí são a melhor proteção contra casos graves e mortes.
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