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Claudia Jimenez teve problemas cardíacos após radioterapia; mas é perigoso?

A atriz Claudia Jimenez teve câncer no mediastino em 1986 - TV Globo/Estevam Avellar
A atriz Claudia Jimenez teve câncer no mediastino em 1986 Imagem: TV Globo/Estevam Avellar

De VivaBem, em São Paulo

20/08/2022 13h50Atualizada em 20/08/2022 14h52

A atriz Claudia Jimenez morreu neste sábado (20), aos 63 anos, no Rio de Janeiro. A família não autorizou divulgar a causa da morte. Apesar disso, vieram à tona alguns problemas de saúde da atriz, que descobriu um câncer no mediastino em 1986.

O mediastino é o espaço existente entre os dois pulmões que comporta estruturas como a traqueia, o coração, o esôfago, o timo e parte dos sistemas nervoso e linfático.

Na época, Jimenez foi desenganada, mas conseguiu se recuperar da doença. Ela teve, no entanto, que realizar três cirurgias em razão das sequelas da radioterapia, que possivelmente afetaram os tecidos de seu coração. A primeira foi em 1999, quando colocou cinco pontes de safena. A segunda, em 2012, para a substituição da válvula aórtica por outra, sintética. A terceira e última, em 2014, para botar um marca-passo.

Radioterapia traz tantos riscos assim?

Na verdade, não. Basta lembrar que o câncer da atriz foi descoberto há 36 anos, e de lá para cá o tratamento radioterápico evoluiu bastante. A radioterapia é um dos pilares do tratamento oncológico e tem um papel muito bem estabelecido em diversos cenários.

Pode ser utilizada como tratamento único, em alguns tumores, com intenção curativa. Também pode ser utilizada com uma intenção neoadjuvante, ou seja, um tratamento prévio que é realizado antes do tratamento tido como o mais importante.

Também há a radioterapia classificada de adjuvante, que normalmente vai acontecer depois de um procedimento cirúrgico. E existem também indicações de tratamento paliativo, quando não existe mais perspectiva de cura, mas, sim, para controlar os sintomas do câncer em questão.

Segundo Gustavo Nader Marta, radio-oncologista, vice-presidente da SBRT (Sociedade Brasileira de Radioterapia) e titular do Serviço de Radioterapia do Hospital Sírio-Libanês (SP), 60% dos pacientes oncológicos vão precisar de radioterapia em algum momento.

Nader Marta explica que, como o próprio nome sugere, a radioterapia é um tratamento com radiação ionizante. "Essa radiação chega como se fosse um raio-X de alta energia e vai atingir a área que tem o tumor e vai interagir no microambiente tumoral. Inclusive no próprio DNA das células tumorais, e por fim, levando essas células à morte, então é um tratamento que causa morte celular tumoral", detalha o radio-oncologista.

O médico hipotetiza que, provavelmente, Claudia Jimenez recebeu a chamada radioterapia 2D, ou convencional, que era o que havia disponível à época, em que não se tinha uma precisão do que estava acontecendo no corpo em relação a dose que estaria chegando de fato na região tumoral e nos órgãos saudáveis ao redor.

Evolução da técnica

Nader Marta conta que, há cerca de 15 anos, a radioterapia evoluiu para a técnica 3D, que utiliza métodos mais sofisticados para o planejamento do tratamento.

"Usa-se tomografia computadorizada no sistema de planejamento geral e nos alvos de tratamento. Ou seja, a região que precisa receber a radiação para controle do tumor é identificada previamente e também conseguimos identificar o quanto de dose de radiação as estruturas saudáveis ao redor estão recebendo", explica o médico do Hospital Sírio-Libanês.

"Existe uma definição muito importante na nossa prática clínica que se chama constraints, que nada mais é do que mensurações de dose que cada uma das estruturas saudáveis está recebendo e a partir da qual existiria um risco maior de desenvolver um efeito colateral a curto ou longo prazo", completa.

A culpa é só da rádio?

Culpar o fato acontecido à atriz simplesmente a radioterapia não é correto, ressalta Nader Marta, já que existem diversos fatores que podem causar problemas cardíacos.

"Sim, ela [a radioterapia] pode causar, mas existem várias outras coisas associadas que cursam em paralelo para essa situação, por exemplo os hábitos das pessoas, a obesidade, o tabagismo e até uma doença de base nas coronárias que podem expor o paciente a eventos cardiológicos", diz.

O médico ressalta também que não sabe detalhes de como foi o tratamento da atriz e se ela foi submetida a quimioterapia, por exemplo, já que há muitos remédios quimioterápicos com importante cardiotoxicidade.

Os efeitos colaterais e riscos da radioterapia, se houver algum, são cumulativos, o que significa que se desenvolvem ao longo de todo o tratamento conforme a radiação se acumula no tumor. Eles podem ser leves ou severos, dependendo do tamanho e da localização do tumor, condição clínica geral do paciente e tempo de cada tratamento. Dois dos efeitos colaterais mais comuns são irritação ou danos à pele próxima ao local de tratamento e fadiga.

Os possíveis efeitos vão ser estimados em relação à dose de radiação, além disso, hoje em dia existem ferramentas que são usadas antes e durante o recebimento da radiação para garantir a precisão e acurácia do tratamento.

Tumores de tórax

Um dos pilares do tratamento oncológico é a cirurgia, segundo explica Antônio Bomfim Rocha, cirurgião oncológico, membro da Comissão de Doenças do Tórax da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e cirugião torácico no Hospital Porto Dias, em Belém: "Ela passa por todas as fases do tratamento do paciente com câncer, desde o diagnóstico (para uma biópsia por exemplo) até a retirada completa do tumor, o chamado tratamento radical curativo".

Os principais tumores de tórax acontecem no pulmão e no mediastino, caso de Claudia Jimenez. "Quando se fala em mediastino, estamos falando de algumas dezenas de tumores com tratamentos diferentes", explica Rocha.

Segundo a Cleveland Clinic (EUA), os tumores mediastinais são raros e geralmente são diagnosticados em pacientes com idade entre 30 e 50 anos, mas podem se desenvolver em qualquer idade e se formar a partir de qualquer tecido que exista ou passe pela cavidade torácica. O tumor no mediastino pode ser também uma metástase de tumor originado em pulmão, esôfago, mama, tireoide ou rim.

A localização dos tumores no mediastino varia de acordo com a idade do paciente. Em crianças, os tumores são comumente encontrados no mediastino posterior (costas). Esses tumores mediastinais geralmente começam nos nervos e normalmente não são cancerígenos. Em adultos, a maioria dos tumores mediastinais ocorre no mediastino anterior (frontal) e geralmente são linfomas ou timomas malignos (câncer).

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), em mortalidade, o câncer de pulmão é o primeiro entre os homens e o segundo entre as mulheres, segundo estimativas mundiais de 2020, que apontou incidência de 2,12 milhão de casos novos, sendo 1,35 milhão em homens e 770 mil em mulheres.

O cirurgião oncológico ressalta a importância do rastreamento dos tumores de tórax: "Esses tumores, tanto pulmão quanto mediastino, não dão sintomas nas fases iniciais que é quando você vai curá-los. Você só consegue o diagnóstico com exames de rastreamento e prevenção, que é a tomografia do tórax. Então, se você tem mais de 50 anos, fuma ou já fumou, é interessante procurar um médico e fazer exames de rastreamento, para não descobrir [um tumor] em fase avançada, que tem menos chance de cura".