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Probióticos ajudam mesmo saúde vaginal e protegem de candidíase e vaginose?

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Imagem: iStock

Flávia Santucci

Colaboração para o VivaBem

23/08/2022 04h00

Probióticos não contribuem apenas com a saúde do intestino. Eles podem ser consumidos também para melhorar a saúde da vagina, pois protegem a mulher de infecções e ajudam a manter o pH ácido na região.

Segundo a nutricionista Edvânia Soares, especialista em nutrição clínica pela UNG (Universidade de Guarulhos), as mesmas bactérias presentes no intestino também podem ser encontradas na flora vaginal. Por isso o probiótico ajuda a colonizar a região com bactérias "do bem", minimizando o processo de infecção. "Se você tem uma propensão a ter corrimento, coceiras, o consumo é mais que indicado", diz.

Uma vagina saudável é naturalmente composta por bactérias benéficas, como os lactobacilos. Eles são de diferentes tipos e produzem substâncias protetoras que, por sua vez, produzem ácido lático. "Com esses lactobacilos e os produtos que os lactobacilos produzem, a vagina fica com o pH ácido e, com isso, fica protegida de outras infecções", diz a ginecologista Adriana Bittencourt Campaner, membro da Comissão Nacional Especializada em Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Esses lactobacilos vaginais têm a ver com a saúde vaginal, saúde do útero e também com a saúde da urina, porque existe uma troca de bactérias entre o intestino, a vagina e a bexiga. É importante que essas bactérias estejam presentes e em grande número. Uma vez desreguladas, expõem a vagina a infecções e, por isso mesmo, precisam ser reequilibradas.

"Quando o número de bactérias patogênicas, que fazem mal para o organismo, é superior ao número de bactérias 'do bem' (como os lactobacilos), ocorre a chamada disbiose. Esse desequilíbrio pode levar a uma vaginose bacteriana, candidíase ou até infecções do trato urinário", diz Paula Molari Abdo, farmacêutica pela USP (Universidade de São Paulo) e membro da ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais).

A vaginose bacteriana é bem comum e mais perceptível nos momentos em que o pH vaginal se torna mais alcalino, como após a menstruação e a relação sexual. "E essa mudança no pH deixa a região mais propensa não só à vaginose, mas também à candidíase, já que na menstruação a região tende a ficar mais abafada e úmida, por causa dos absorventes", diz Viviane Monteiro, ginecologista e obstetra pela UFF (Universidade Federal Fluminense).

Mais prevenção do que tratamento

Mais importante que utilizar probióticos no tratamento de doenças, é consumi-lo para prevenção. "Ele é utilizado não só para tratamento, mas também na prevenção de alterações da flora", explica Monteiro. Segundo ela, o consumo, no entanto, deve sempre seguir uma orientação médica e nunca de maneira aleatória.

Geralmente a recomendação é de um uso mais contínuo, e há os para serem tomados de forma oral, para controle da flora vaginal, e até os para uso local naquelas pacientes, por exemplo, com candidíase ou vaginose recorrentes, ou para aquelas que fizeram uso de antibiótico e modificou a flora ou tiveram alguma alteração de situação autoimune. É justamente pelas variadas recomendações que um médico ou nutricionista deve orientar a melhor forma de usar.

Aliás, probióticos também podem ser consumidos por meio de alimentos, como conta a nutricionista Amanda Thaís Dutra, do Hospital Universitário da UFMA (Universidade Federal do Maranhão). "Alguns alimentos, como kefir e kombuchá, fermentam e acabam produzindo bactérias que são benéficas à saúde."

Segundo a nutricionista, o ideal fazer uso longe de refeições quentes e próximo à hora de dormir. "Porque seu corpo não vai ter nenhum alimento para mudar o pH, atrapalhar o processo de digestão. À noite o corpo usa a energia para poder fazer o sono, mas também está usando energia para o processo de digestão, então é quando não tem a mudança do pH com alguma interferência de algum alimento e a gente vai ter uma absorção melhor dessa bactéria", diz.

As polêmicas

Os efeitos dos probióticos no corpo ainda estão sendo estudados. A vaginose bacteriana geralmente é tratada com antibióticos e um estudo de 2018 mostrou que o probiótico pode desregular as bactérias de quem toma os dois. Segundo a pesquisa, as bactérias naturais do intestino de pessoas que tomam probiótico depois do tratamento antibiótico demoram mais para se recuperar do que as das pessoas que não tomam probióticos.

Já uma revisão de 34 estudos publicada em 2020 analisou 22 probióticos usados para tratamentos vaginais e descobriu que eles são seguros e alguns até promissores para a cura e prevenção da vaginose, mas muito menos para a cura e prevenção da candidíase. Entretanto, nenhuma dessas bactérias "do bem" ficou na vagina por muito tempo.

Outros dois estudos concluíram que o uso é seguro para tratar vaginose bacteriana, mas que faltam pesquisas para comprovar a eficácia.

Como você viu, embora sejam de venda livre nas farmácias, os probióticos sob a forma de suplementos não são indicados para todos. Se você é uma pessoa saudável e deseja consumi-los porque imagina que eles podem melhorar sua microbiota ou tratar alguma doença, é melhor falar com um médico ou um nutricionista. Atente-se para o fato de que uma "automedicação" pode agravar eventuais sintomas e até perpetuá-los. Isso porque cada tipo de probiótico tem indicação e dose específicas e, além disso, deve ser usado por tempo determinado.

Fontes: Adriana Bittencourt Campaner, ginecologista membro da Comissão Nacional Especializada em Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Amanda Thaís Dutra, nutricionista do Hospital Universitário da UFMA (Universidade Federal do Maranhão); Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa de São Paulo; Edvânia Soares, nutricionista especialista em nutrição clínica pela UNG (Universidade de Guarulhos); Paula Molari Abdo, farmacêutica pela USP (Universidade de São Paulo) e membro da ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais).