Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


PrEP contra HIV: medicação diária impede novas infecções; tire dúvidas

iStock
Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

24/08/2022 04h00

Voltada a pessoas não infectadas pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), mas com alto risco de adquiri-lo, a PrEP (profilaxia pré-exposição) é um método preventivo que consiste na combinação de medicamentos antirretrovirais que bloqueiam o ciclo de multiplicação do vírus e impedem a infecção do organismo.

Recomendada há uma década pela OMS (Organização Mundial da Saúde), 1,6 milhão de pessoas em todo o mundo receberam a profilaxia via oral, em 2021, de acordo com dados divulgados no novo relatório do Unaids, chamado Em Perigo.

O levantamento apontou ainda que houve um aumento de 157% no número de indivíduos que iniciaram a PrEP em 21 países entre abril de 2020 e março de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

O Brasil é líder no uso da PrEP na América Latina e o acesso às medicações é feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Atualmente, diversos países em todos os continentes utilizam o método contra novos casos de HIV, como Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, Itália, França, Espanha Japão, Coreia do Sul, Austrália e África do Sul.

Nos Estados Unidos, o CDC (Center for Disease Control and Prevention) —agência de saúde norte-americana— mostra que o crescimento no uso da PrEP, juntamente com o aumento de testes e tratamento, desempenhou um papel nas recentes diminuições de novas infecções por HIV. O CDC estima que as novas infecções caíram 8% de 2015 a 2019 (37.800 a 34.800), após um período de estabilidade geral.

VivaBem entrevistou especialistas que esclarecem as principais dúvidas sobre a PrEP.

Em que consiste a profilaxia pré-exposição?
A PrEP é o uso de medicamentos antirretrovirais diários para prevenção da transmissão do vírus da imunodeficiência humana em pessoas que não têm o HIV, mas que apresentam risco aumentado de adquirir a infecção e não usam preservativos com regularidade.

Qual é o objetivo?

PrEP, Aids, HIV - iStock - iStock
Imagem: iStock

O objetivo principal é reduzir a transmissão sexual do HIV. Existem pessoas que, mesmo sabendo que a melhor maneira de evitar a sua transmissão é com uso de preservativo, não gostam ou preferem não usar.

A PrEP é uma ferramenta a mais com o intuito de evitar novos casos, combinada a outras medidas, como prevenção das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e das hepatites virais. Para saber mais: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/previna-se.

Quem pode tomar a medicação?
Aquelas que possuem risco aumentado de transmissão do HIV:

- homens que fazem sexo com homens;
- pessoas trans e
- profissionais do sexo.

Existe ainda a indicação para pessoas que:

- deixam de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais) com constância;
- têm relações sexuais, sem camisinha, com alguém que seja HIV positivo e que não esteja em tratamento;
- fazem uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) e
- apresentam episódios frequentes de ISTs.

Mulheres que pretendem engravidar de parceiro soropositivo podem usar?
Sim, mulheres HIV negativas, com desejo de engravidar de parceiro soropositivo ou com frequentes situações de potencial exposição ao HIV, podem se beneficiar do uso de PrEP de forma segura, ao longo da gravidez e amamentação, para sua proteção e do bebê.

Existem estudos que comprovam que a PrEP é segura e confiável?
Sim. É uma estratégia que se mostrou eficaz e segura.

Várias pesquisas avaliaram a PrEP contra a transmissão do HIV em populações diferentes. O estudo inicial, publicado em 2010, contemplou homens que faziam sexo com homens e não usavam preservativos.

Em 2012, outros demonstraram que a eficácia do método se estendia a heterossexuais que tinham vulnerabilidade (múltiplos parceiros com sexo desprotegido ou parceiros únicos com infecção pelo HIV). No estudo Partners com casais sorodiferentes heterossexuais, a PrEP mostrou redução geral de 75% no risco de infecção por HIV.

O PROUD (Pre-exposure prophylaxis to prevent the acquisition of HIV-1 infection) avaliou o uso aberto de PrEP em homens que fazem sexo com homens com risco em que se observou 86% de êxito da intervenção.

O estudo IPERGAY avaliou o esquema sob demanda, ou seja, com uso da medicação antes e após a exposição, no lugar do uso diário e uso contínuo. Nesse cenário, observou-se redução de 86% no risco de infecção.

Quais os medicamentos envolvidos?
No Brasil, a PrEP é feita com a associação de dois medicamentos (tenofovir e entricitabina), cujo nome comercial é Truvada. Toma-se um comprimento ao dia.

A PrEP substituiu outras formas de prevenção?

young man with a PrEP pill - iStock - iStock
Imagem: iStock

Não. A PrEP faz parte das estratégias combinadas de prevenção por meio da associação de métodos preventivos (preservativo e outros), de acordo com as possibilidades e escolhas de cada indivíduo, sem excluir ou sobrepor um método a outro.

Como deve ser o controle das outras ISTs, enquanto se faz a profilaxia ao HIV?
A PrEP protege apenas contra o HIV. Não há proteção contra outras ISTs, tais como sífilis, HPV ou gonorreia. Isso significa que o acompanhamento médico é essencial quando alguém está fazendo a PrEP, para fazer o mapeamento de outras ISTs e, eventualmente, o tratamento precoce caso seja detectada.

Existem efeitos colaterais?
Podem ocorrer no início do uso, durante o primeiro mês, mas são leves e desaparecem em alguns dias, como náusea, cefaleia, flatulência e edemas. Pode-se tomar remédios para resolução dos sintomas.

O profissional de saúde deve informar ao usuário sobre os eventos adversos esperados.

É possível a piora da função renal, por conta de um dos medicamentos utilizados. Por isso são realizados exames antes da profilaxia e o uso da medicação é sempre supervisionado por um médico.

Em jovens sem comorbidades, dificilmente, há necessidade de suspender a medicação devido a efeitos colaterais.

Existem outros medicamentos disponíveis?
Desde janeiro de 2022, os EUA aprovaram o uso da medicação injetável --o cabotegravir--, mas no Brasil ainda não está disponível.

Quais os procedimentos para iniciar a PrEP?
Na primeira consulta, passa-se por entrevista com psicólogos e médicos para determinar se é elegível a usar PrEP. Caso seja, são feitos exames, como testes rápidos para detecção do HIV --já pode estar infectado e não saber--, além de outras ISTs, hepatites virais e para avaliar as funções renais e hepáticas.

Se houve exposição sexual recente desprotegida, realiza-se a profilaxia PEP, por 28 dias, para depois iniciar a PrEP.

O uso da medicação é contínuo?
A recomendação é que a medicação seja mantida com uso contínuo durante todo o período em que exista a vulnerabilidade por exposição sexual. As consultas médicas são a cada 3 ou 4 meses, em que novos exames são realizados e os efeitos colaterais são avaliados.

É preciso aguardar para a profilaxia começar a ter efeito?
Quando se inicia a PrEP, a medicação demora alguns dias para dar a proteção adequada. Para relações sexuais vaginais, são 20 dias, pelo menos. Para relações sexuais anais, a proteção se dá a partir do sétimo dia.

É possível descontinuar o uso da PrEP?
Se não estiver mais em exposição sexual de risco, por exemplo, se fica meses sem relações sexuais, a PrEP pode ser descontinuada. Contudo, a decisão de continuar ou não deve ser tomada em conjunto com o médico infectologista.

Há perigo em suspender a PrEP por conta própria?
Sim e está relacionado ao fato de achar que estará protegido mesmo após a interrupção do uso, pois o sexo ocasional desprotegido pode transmitir o HIV. É recomendado aos que interromperem o uso a realização de testes para HIV no período de 4 semanas após a interrupção da profilaxia.

É possível retomar o uso da PrEP?
Sim, no entanto, antes de reiniciar a prática sexual desprotegida, é preciso recomeçar a PrEP, em que se passa novamente em consulta e são feitos todos os exames iniciais.

Em quais situações é descontinuado?
A descontinuação da PrEP é feita quando:
- há efeitos colaterais da medicação --isso é avaliado pelo médico em cada retorno;
- se não houver mais necessidade de uso por conta de ausência atual de exposição sexual de risco;
- existe o diagnóstico de infecção pelo HIV e
- baixa adesão, mesmo após abordagem individualizada.

Fontes: Denize Lotufo Estevam, infectologista, trabalha na gerência da assistência do CRT (Centro de Referência e Treinamento) DST/Aids de São Paulo; Durval Costa, infectologista e coordenador do Ambulatório de Moléstias Infecciosas do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual), de São Paulo; Fabricio Arrais de Oliveira, enfermeiro do serviço de assistência especializada ao HIV e Hepatites virais do HDT-UFT (Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins), ligado a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Marta Iglis de Oliveira, infectologista do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Pernambuco), ligado a rede Ebserh, e preceptora do programa de residência de infectologia do HC-UFPE; e Raquel de Sousa Andrade Fernandes, enfermeira e chefe da Unidade de Clínica Cirúrgica do HDT-UFT.