Tomar sol nas partes íntimas está em alta no TikTok: é seguro? Veja riscos
Com milhões de curtidas na rede social TikTok, uma trend batizada de "perineum sunning" (sol no períneo, em português) tem incentivado os usuários, sobretudo nos EUA, a tomarem sol nas partes íntimas. O alvo específico é uma região conhecida como períneo: área situada entre o ânus e o saco escrotal nas pessoas que têm pênis, ou entre o ânus e a vulva em quem possui vagina.
O objetivo, segundo os adeptos da prática, é dar ao corpo uma dose maior de vitamina D, além de proporcionar o aumento do desejo sexual e melhorias na qualidade do sono. Mas é preciso ficar atento: não existem evidências científicas associando o bronzeamento perianal a qualquer um desses benefícios e, segundo especialistas, a exposição solar do períneo ainda pode trazer alguns riscos à saúde.
Sol nas partes íntimas?
O períneo é uma região anatômica que, nas mulheres, está entre o orifício anal e a porção final da vulva, que lembra uma letra 'v', onde fica a entrada da vagina. Nos homens, está localizado entre a raiz do pênis e o ânus.
A prática de expor a região ao sol se popularizou nas redes sociais pela primeira vez em 2019, quando a influenciadora norte-americana Megan Whitson postou uma foto nua em seu perfil no Instagram, com as pernas para cima, enquanto bronzeava a região íntima, e recomendou que seus milhares de seguidores fizessem o mesmo por, pelo menos, 30 segundos por dia e, no máximo, cinco minutos.
Outros influenciadores nos EUA, como Troy Casey, também passaram a recomendar a técnica. No Brasil, a modelo Lunna Leblanc, por exemplo, já compartilhou nas redes sociais que a experiência "ajuda a aumentar a libido". A educadora sexual e influencer Gisele Palma também publicou vídeos no TikTok incentivando o hábito de tomar sol nas genitálias, sem protetor solar por, no máximo, cinco minutos se o sol estiver forte, ou 10, se o sol estiver fraco.
Vale lembrar que o uso de protetor solar é uma prática recomendada pelos médicos para diminuir o risco de se desenvolver queimaduras, lesões oculares e doenças cutâneas, entre as mais perigosas o câncer de pele melanoma.
Acredita-se que a prática de expor o períneo ao sol tenha raízes em uma antiga crença taoísta, segundo a qual o períneo, ou "Hui Yin", é considerado um portal por onde a energia vital entra e sai do corpo.
Tomar sol no períneo ajuda na absorção de vitamina D?
O sol não contém vitamina D mas, quando os raios solares penetram na pele, eles desencadeiam reações que levam à produção dessa vitamina em nosso organismo. A substância tem funções essenciais no ser humano, como a formação e manutenção dos ossos, absorção de cálcio e funcionamento adequado de uma série de órgãos.
Como existe pele no períneo, a região, em tese, também poderia produzir a vitamina D com o estímulo dos raios solares. No entanto, considera-se que o período em que a pessoa ficaria nessa posição —como 30 segundos, por exemplo— é muito curto para a pele sintetizar a substância.
Além disso, não existem evidências científicas que associem a exposição solar especificamente do períneo a uma maior absorção de vitamina D.
Quais são os riscos à saúde?
Um dos riscos de bronzear o períneo é a queimadura solar. A pele da região é mais fina e sensível e, como geralmente não fica exposta ao sol, o risco de uma queimadura pode ser maior. Traumas na região íntima, por sua vez, geralmente são dolorosos e de difícil cicatrização.
Além disso, a exposição crônica aos raios UV, independentemente da região da pele, pode aumentar o risco de câncer de pele. O melanoma, o tipo mais grave de câncer de pele, por exemplo, pode aparecer em qualquer lugar da pele e das mucosas, e até mesmo aquelas áreas que não são expostas ao sol, como os genitais, podem apresentar lesões pigmentadas, que são o primeiro sinal desse câncer.
A rigor, 30 segundos seria muito pouco para qualquer bem —produzir a vitamina D— e para quase qualquer mal. No entanto, vale lembrar que existem outros agentes que podem causar câncer nas genitálias, como o HPV (papilomavírus humano).
Se uma pessoa estiver carregando outro possível carcinógeno como o HPV, por exemplo, isso, em tese, poderia aumentar o risco de expor o períneo ao sol.
Bronzeamento perianal aumenta a libido?
Cientificamente falando, não existem estudos que apontem uma relação direta da exposição solar do períneo com um aumento do desejo sexual.
Benefícios como o aumento da energia e melhorias na qualidade do sono podem estar ligados à curta exposição ao sol, independentemente da localização.
É importante lembrar que não existe um limite seguro de exposição solar e nem há um aumento proporcional de vitamina D com o aumento dessa exposição. Por isso, não se recomenda ultrapassar o tempo médio de 15 minutos diários de exposição ao sol.
Cuidados ao tomar sol
Embora os médicos não recomendem tomar sol entre 10h e 16h, por conta do risco de se desenvolver queimaduras, lesões oculares e doenças cutâneas, o horário mais propício para se estimular a obtenção da vitamina D é entre 10h até às 15h, pois é nessa faixa que a incidência de raios UV atinge seu pico. No entanto, no verão, acima dos 30ºC, é melhor evitar o sol do meio-dia por ser muito intenso e perigoso.
Se decidir ficar no sol durante esse horário, a dica é não se expor o tempo todo e seguir algumas medidas simples, como: ficar embaixo do guarda-sol, passar o protetor solar a cada duas horas ou toda vez que entrar na água, por exemplo, além de tomar bastante água. Assim, é possível aproveitar o sol com menos danos à pele.
A SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) incentiva a exposição direta de áreas cobertas, como pernas, costas, barriga, ou ainda palmas e plantas, por 5 a 10 minutos todos os dias, sem sobrecarregar as áreas cronicamente expostas ao sol.
O órgão também recomenda algumas atitudes que minimizam a intensidade de exposição ao sol, como saber que o horário de maior intensidade de radiação solar é das 10h às 15h, conhecer o índice ultravioleta da sua região, usar roupas e chapéus que protejam da irradiação direta do sol e, nas áreas descobertas da pele, o uso do filtro solar.
*Com informações de reportagens publicadas em 03/12/2019, 23/03/2020, 03/03/2022 e 23/02/2022.
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