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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Levou um pé na bunda? Será que tem fórmula rápida para esquecer o ex?

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Gabriele Maciel

Colaboração para o VivaBem

29/08/2022 04h00

A desilusão amorosa causada pelo fim de uma relação é fonte de inspiração para músicos, poetas e escritores, e objeto de estudo de filósofos, psicólogos e psiquiatras. Não há como negar, é um assunto que atravessa, em algum momento, a nossa existência. Afinal, quem nunca sofreu por amor?

Não importa se a separação ocorreu por traição, por falta de amor ou desavenças, ser dispensado fere nosso orgulho e nos traz sentimentos de rejeição, frustração, raiva, tristeza, entre outros.

O psiquiatra britânico Colin Murray Parkes escreveu em seu livro "Amor e Perda: As Raízes do Luto e suas Complicações" que quando perdemos quem amamos, seja por morte ou porque a pessoa já não quer mais estar conosco, passamos por um processo de luto. Ainda de acordo com ele, o fim de uma relação pode ter efeitos expressivos na saúde física e emocional.

A quebra de vínculo em uma relação para qual se tinha uma expectativa de futuro impacta a nossa capacidade, pelo menos momentaneamente, de responder aos desafios da vida, segundo o neurobiologista Cláudio Queiroz, professor-doutor do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Apesar desse impacto grande na vida, psicólogos e estudiosos do assunto defendem que é imprescindível que se vivencie o sofrimento. "Temos a tendência de ignorar o sofrimento, de ter vergonha de mostrar que estamos magoados e feridos. Mas é preciso, mesmo no âmbito privado, que se viva esse momento em sua totalidade, porque isso vai ajudar na elaboração da perda", explica a doutora em psicologia Helena Rinaldi Rosa, professora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).

Não há fórmula mágica do tipo "esqueça a pessoa amada em sete dias", mas a ciência mostra que uma hora a dor vai passar.

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Não há fórmula mágica para esquecer a pessoa
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O cérebro do desiludido

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Rutgers, nos EUA, mostrou que o cérebro de uma pessoa que acabou de levar um pé na bunda se comporta de maneira semelhante ao de pessoas que estão muito apaixonadas. Além disso, a observação de imagens cerebrais de pessoas que estavam com o coração partido revelou que as regiões ligadas à dor física e à abstinência também estavam ativadas.

Isso quer dizer que, além de continuar amando a pessoa que nos deu um fora, tendemos a ficar obcecados por ela, numa espécie de dependência. De acordo com a antropóloga Helen Fisher, líder da pesquisa e autora de ''Anatomia do Amor", o amor romântico é mesmo como um vício, só que natural.

E o que isso significa? Bem, não queremos desanimá-lo, mas pensar com frequência na pessoa amada e querê-la de volta a qualquer custo faz parte do processo de desintoxicação. Entretanto, de acordo com a pesquisa, diferentemente do vício em substâncias, a desintoxicação de um amor só precisa de tempo para acontecer.

Seja como for, a cura dessa dor, que arde mais que antisséptico em ferida aberta, começa com a tomada de consciência.

É importante buscar entender o que estava se passando na dinâmica da relação, o que causou o desfecho, não para se culpar, se martirizar, mas sim porque fica mais fácil de elaborar a perda. Se não refletimos sobre o que deu ou não certo em uma relação, a tendência é muitas vezes seguir repetindo isso em outros relacionamentos. Patrícia Scheeren, terapeuta de casais, doutora em psicologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

A médica-veterinária Bárbara Del Corso, 35, conta que se frustrou muitas vezes porque acabava repetindo o padrão de relacionamentos que fracassaram. Além disso, ela permanecia muito conectada às lembranças dos ex. "Eu continuava acompanhando a vida deles pelas redes sociais e via que eles tinham seguido a vida. E eu sofria não só pelo último, mas por todos os outros namorados que eu via que estavam bem, que tinham seguido com a vida", diz ela, que buscou consolo emocional em uma igreja, onde também encontrou o noivo, com quem vai se casar em setembro.

Quanto tempo dura a dor?

De acordo com Scheeren, cada pessoa reage de uma maneira à perda amorosa e não existe um período específico para superar um amor ferido. Entretanto, é natural que em uma relação cujo casal tinha bastante comprometimento ou aquela que se estendeu por muitos anos, demore mais para ser superado.

"Uma coisa é eu me separar de um amor que durou dois anos. Outra coisa é uma relação que foi compartilhada por 20 anos, porque essa vai demandar um esforço grande, será preciso reaprender sobre a vida sem aquela pessoa", diz a terapeuta de casais.

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Não ligue, não escreva, não apareça em lugares que você possivelmente vá encontrar seu ex-amor
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Porém, é preciso estar atento a sinais que evidenciam um sofrimento que demanda ajuda médica, como dificuldade em retomar a vida, baixo desempenho no trabalho, falta de prazer em atividades que antes a pessoa costumava gostar, entre outras.

Foi o que aconteceu com a professora de redação Yasmin Lana, de 30 anos. "Vivi um relacionamento complicado e queria me separar, mas quando finalmente aconteceu, fiquei abatida, me senti envergonhada e precisei de suporte tanto de terapia quanto de medicação, que foi receitada por um psiquiatra'', relata.

Para aqueles que estão passando por um momento de dor e sofrimento por ter perdido a pessoa que amava, Queiroz diz que é bom saber que há esperança.

Todo mundo que passa por uma desilusão amorosa pensa que acabou o mundo e que nunca mais vai amar. Mas a neurociência nos prova que a todo momento o nosso cérebro está construindo expectativas futuras, nos inundando de novos estímulos que nos ajudam a mudar de comportamento. Cláudio Queiroz, neurobiologista, professor-doutor do Instituto do Cérebro da UFRN.

O coordenador de produção Edgar dos Santos*, 36, viveu essa experiência depois do fim de um namoro de seis anos. "Eu renasci depois que fui fazer um intercâmbio, porque com isso eu passei a ter novas experiências. Pude entender como eu funcionava estando sozinho e me senti livre para ter novos relacionamentos", conta.

Ainda não sabe como dar a volta por cima? Veja algumas dicas que foram elaboradas pela pesquisadora Helen Fisher e que podem ajudar a sair da fossa:

  • Jogue fora os cartões, cartas e fotos. Remova tudo o que vai desencadear memórias de seu amor perdido;
  • Não ligue, não escreva, não apareça em lugares em que você possivelmente vá encontrar seu ex-amor;
  • Desenvolva um mantra curto que você possa repetir para si mesmo no momento em que você for invadido por pensamentos dele ou dela. A primeira metade do slogan deve aumentar sua autoestima; a segunda metade deve declarar o que você realmente quer no futuro;
  • Pense nos eventos negativos da relação;
  • Fique ocupado e faça coisas novas e interessantes;
  • Faça exercícios porque eles liberam hormônios que trazem sensação de prazer e bem-estar;
  • Conte suas bênçãos. Todos temos coisas para ser verdadeiramente gratos;
  • Concentre-se no que está dando certo em sua vida, na vida de sua família, no mundo de hoje. Pensamentos negativos esforçam a mente e podem retardar o processo de cura.

*Nome alterado para preservar identidade do entrevistado