Musculação fez jovem ganhar 15 kg e o tirou de uma depressão profunda
Quem abre o TikTok e vê os vídeos de 'RodrigoSolitary' pensa que ele é mais um influenciador de academia, daqueles viciados em musculação. Suas postagens são um diário de como ele conseguiu bater a meta de ganhar 10 kg em apenas um mês —depois ele ainda ganhou mais 5 kg no mês seguinte. Em sua página, há vídeos clássicos de quem frequenta academia: tomando shake de whey, creatina, comendo muito ovo e treinando pesado.
Mas não se trata de mais um produtor de conteúdo sobre vida saudável. Rodrigo Giraldelli Maldonado, 29, é vereador em sua cidade natal, Barra Bonita (SP), e criou seu perfil no TikTok para compartilhar com outras pessoas como a atividade física tirou-o do fundo do poço emocional em que estava: uma depressão profunda.
Há três meses, Rodrigo, que tem 1,78 m de altura, pesava 47 kg. "Não comia, quase não falava, só tinha pensamentos negativos e suicidas, não tinha vida, era tudo cinza", conta o vereador em entrevista ao VivaBem. "Quando comecei a academia, se não fosse isso acho que em duas semanas não estaria mais aqui", desabafa. A musculação —e tudo o que veio com ela— salvou a vida de Rodrigo.
Além de "dar uma encorpadinha", Rodrigo fez amigos na academia e passou a receber muitas mensagens nas redes sociais que o incentivaram a continuar a malhar e também a postar.
No TikTok, ele inaugurou um tipo de "quadro" em que ele convida outros amigos para treinar com ele. Na rede, só recebe mensagens de apoio.
"Fiquei apreensivo quando ele decidiu postar, porque tem muita gente maldosa na internet, pessoas que ridicularizam os outros pelo físico, pela aparência", diz Ramon Santos, personal trainer e amigo mais próximo e antigo de Rodrigo. "Mas ele estourou, me surpreendi, vi uma corrente de pessoas se identificando e solidarizando com ele, começando a treinar também."
O vídeo em que conta sua trajetória até os 62 kg viralizou e já bateu mais de 4,5 milhões de visualizações. Ele narra como sempre teve complexo de inferioridade e como tinha medo do espelho.
"No primeiro dia, fui com vergonha, pensei que as pessoas iam ficar me olhando, falando de mim, e só treinei com a barra", relembra. "Mas foram me apoiando, fui fazendo amizades e incentivando outras pessoas", comemora.
"O Didi [apelido de Rodrigo] sempre foi um cara tímido, retraído, isso é da personalidade dele, ele é introvertido", conta Ramon. "Mas de uns meses para cá, ele ficou bem mal, não saía da cama, não comia, e eu não sabia mais o que fazer por ele", relembra. De tanto insistir, Ramon conseguiu convencer Rodrigo a frequentar a academia com ele.
Amigo personal
O vereador já tinha ido a um psicólogo e se consultado com um psiquiatra para lidar com os problemas de saúde mental. "Já tomei tudo que é tipo de remédio, mas nunca me fez bem", conta Rodrigo. "Alguns me tiravam a fome, outros me tiravam o sono."
Na academia, Ramon montou um plano para Rodrigo. São três treinos alternados: um de peito, tríceps e ombro, outro de costas e bíceps e o último focado em trapézio, antebraço e abdome. Para ganhar massa, Rodrigo também toma whey protein, creatina e suplementos de ferro e zinco. "Ninguém acreditava que ele ia ganhar 10 kg em um mês, porque ele não comia quase nada e não se hidratava", diz Ramon.
A alimentação era um dos maiores problemas de Rodrigo, que vivia doente quando era criança. "Tive anemia, vivia internado, sempre fui muito magrinho", relembra. "Minha mãe chorava porque não comia, comer um prato de comida, hoje, é uma coisa que me faz feliz", diz ele, que também faz acompanhamento com um nutricionista. Animado com a dieta, ele até inventou a própria receita de "super shake".
Em pouco tempo, Rodrigo começou a gostar da imagem que via no espelho. "Tinha muita vergonha da minha cara 'chupada', mas perdi o medo do espelho", conta o vereador, que bate ponto na academia de segunda à sexta.
Rodrigo era do tipo que trocava o dia pela noite e, hoje, acorda às 6h. As manhãs são dedicadas ao trabalho na prefeitura: ele resolve burocracias, visita instituições, escolas e conversa com cidadãos que aparecem para pedir ajuda.
"É bom, mas é ruim a experiência na política", relata Rodrigo, que está na metade de seu mandato e é um dos mais jovens na Câmara de Barra Bonita. "Dá a oportunidade de ajudar as pessoas, mas a política foi uma das coisas que me deixou doente, me fez perder tudo o que eu tinha, quase pirei. Em cidade pequena existe muito coronelismo", comenta.
Sem verba para resolver todos os problemas que chegavam em seu gabinete, Rodrigo diz que vendeu seu carro e sua moto e fez empréstimo para ajudar as pessoas. "Não soube dosar", reflete. A pressão da vida pública e a vontade de agradar todos que pediam ajuda deixaram ele no fundo do poço, diz. Segundo Ramon, Rodrigo é uma pessoa muito simples e tem muito carisma —por isso, inclusive, conseguiu se eleger.
Desde muito jovem ele conta que procura fazer coisas para melhorar a vida das pessoas. Quando era criança, sua casa era repleta de livros —seu pai sempre chegava em casa com um título novo. "Ele é o coletor de lixo mais velho da cidade e é analfabeto, mas sempre que achava um livro, levava para casa", diz Rodrigo. Assim, ele cresceu em meio a páginas e mais páginas.
Com o acúmulo de livros em casa, ele resolveu distribuir os títulos e criou o projeto "Geladeira Foguete", em que ele reformava geladeiras antigas e colocava em algum ponto da cidade lotada de livros. Toda semana, ele abastece as unidades com mais livros. "Tenho mais de 500 em casa", comenta. A leitura ainda faz parte da sua rotina, apesar de ele passar bastante tempo nas redes sociais.
Rodrigo já passou a marca de 400 mil seguidores no TikTok e vê a rede como um elemento de motivação para continuar treinando: "Tem tanta gente torcendo por mim que me sinto na obrigação de continuar", brinca.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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