Não aguenta mais Instagram? Dar tempo das redes é bom; veja como fazer
Depois de parar de "gastar", como ele mesmo diz, tempo nas redes sociais, David Beat, 37, diz que lê mais e dá mais atenção às pessoas que estão ao seu redor. "Ainda tenho menos ansiedade e sinto um melhor aproveitamento quando saio pra curtir", diz ele, que assume não ter redes sociais em seu celular Motorola 2ª geração.
O movimento de pessoas deixando as redes sociais de lado para cuidar de sua saúde e, consequentemente, ter um aproveitamento melhor da vida está aumentando. Denominada de detox digital, a ação já teve entre a lista de adeptos as cantoras Luisa Sonza, Demi Lovato, Selena Gomez e, mais recentemente, o protagonista do filme "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" Tom Holland.
A motivação por parte das pessoas estarem trilhando esse novo rumo é se desvencilhar da ansiedade que as redes sociais causam. Entre os sentimentos causados, dentro de um longo período de conexão virtual, está o medo de ficar desatualizado ou de perder alguma coisa. O nome para essa sensação é "fomo", ou fear of missing out, que na tradução livre fica algo como "medo de ficar de fora".
"A exposição contínua às redes aumenta a probabilidade de ter esse sentimento [de fomo]. A produção de conteúdo é extremamente acelerada e diversa, gerando essa percepção de que estamos perdendo algo quando não estamos conectados", afirma Rafaele Pinheiro, psicóloga formada pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
É por isso que fazer como David e ficar um tempo longe das telas pode ser benéfico. Há uma melhora dos hábitos de vida, possibilitando tempo para atividades fora de casa, como a prática de exercício físico, esportes e o contato com a natureza. Você foca mais no presente, presta mais atenção nas pessoas ao redor e tem tempo para outros tipos de lazer, como ler um livro.
Segundo Andrea Hercowitz, pediatra e hebiatra (médica especializada em adolescentes) do Hospital Israelita Albert Einstein, há uma melhora na saúde mental, com menos risco de transtornos. "Estar distante da enxurrada de informações que são recebidas através das telas dá um repouso ao nosso cérebro, gerando menos ansiedade, depressão e outros problemas de ordem psíquica."
A dependência das conexões virtuais
Após um longo período de reclusão, devido à pandemia da covid-19, as redes sociais se tornaram mais essenciais para aproximar as pessoas, seja via profissional seja pessoal. Com o confinamento, as horas na frente das telas aumentaram, fazendo com que o relaxamento virtual fosse mais difícil.
Dentro do universo das redes sociais, quando recebemos likes, elogios e compartilhamento, o nosso cérebro recebe estímulos da dopamina, relacionada à recompensa e ao bem-estar. Assim, o usuário fica mais suscetível a passar mais tempo na ferramenta.
A situação fica ainda pior para quem já nasceu rodeado de telas. Quanto mais cedo se é apresentado a celulares, televisores, tablets e computadores, maior é a probabilidade de se tornar dependente da tecnologia. Em pesquisa divulgada em novembro de 2021 pela Lenstore, empresa que comercializa lentes de contato no Reino Unido, as crianças brasileiras estão entre as mais viciadas em tecnologia do mundo, aparecendo em terceiro lugar no ranking.
"Quando estão conectados, eles perdem o contato com o mundo real, reduzem as habilidades sociais, a criatividade. Deixam de se exercitar e muitas vezes se alimentam de forma inadequada", diz Hercowitz.
No ranking de tempo diário gasto usando as redes sociais, o Brasil está em sexto lugar, em pesquisa realizada em janeiro de 2022 pela agência We Are Social e pela plataforma Hootsuite. Com 3h41 de uso diário, em média, o país fica atrás de Nigéria, Filipinas, Gana, Colômbia e África do Sul, neste levantamento feito com pessoas de 16 a 54 anos. A a média global é de 2h27 diárias de uso.
Equilibrando os pratos
Ficar totalmente sem redes sociais pode ser difícil. Além de elas serem essenciais em muitos tipos de trabalhos e até para conseguir emprego, querendo ou não, são meios de socializar e se informar. Entramos, então, na tarefa mais difícil: saber dosar seu uso.
Renato Caliari, 40, consultor e professor em liderança na área de produto, é bom exemplo. Ele, que já passou três anos sem smartphone, hoje decide estipular horários para o uso de seus aplicativos. "O mais usado é o LinkedIn, mas antigamente o uso era fragmentado em diferentes redes sociais. Hoje em dia eu tento estar nesses aplicativos quando eu tenho energia e posso dar atenção."
Segundo Andréa Jotta, docente e pesquisadora do Laboratório de Psicologia em Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o detox digital é muito pessoal. "Vai depender muito do trabalho que você exerce, da quantidade e, principalmente, da qualidade de tempo que você fica online", diz ela.
"Se a pessoa começa a ter comportamentos que estão atrapalhando o dia a dia e a sua saúde mental, então é porque está na hora de realmente ficar distante do smartphone, pelo máximo período que conseguir", sugere.
Os sinais na mudança de comportamento são a interrupção da leitura, o distanciamento do grupo de amigos presencialmente, a sensação de ansiedade e o ciclo vicioso das redes: você entra no WhatsApp para responder uma mensagem e se perde no caminho, entrando no Instagram, Twitter, TikTok, ficando mais tempo em frente às telas.
Se você quer dar esse passo de conseguir controlar e equilibrar o tempo online, mas não sabe por onde começar, veja algumas dicas de como ter um uso moderado das redes sociais:
Evite notificações: as mensagens que aparecem na tela do celular acabam se tornando gatilhos para chamar a atenção do usuário. Controle sua notificações configurando o que deseja ou não receber.
Tenha em mente que nem tudo é verdade: o mundo perfeito não existe, entenda que o que é publicado em uma rede social é uma pequena parcela da realidade de um dia inteiro. Portanto, não se compare com a tal vida incrível alheia.
Estipule horários de uso: esse é difícil, mas pode dar certo se você se organizar. O descanso das telas é algo fundamental para que sua rotina flua melhor, inclusive seu sono. Quando der uma hora antes de dormir, já desligue as notificações e evite olhar o celular.
Fiscalize o uso em público: quando estiver na roda de amigos ou em momentos de curtição e lazer, evite se preocupar e se prender nas redes sociais. Aproveite o momento presente.
Fontes: Andrea Hercowitz, pediatra e hebiatra (médica especializada em adolescentes) do Hospital Israelita Albert Einstein, formada pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); Andréa Jotta, docente e pesquisadora do Laboratório de Psicologia em Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); Rafaele Pinheiro, psicóloga formada pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da UFRN, com pesquisa sobre o teletrabalho.
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