Ele não cuidou da hipertensão arterial e perdeu 90% da função dos rins
Hipertenso desde os 18 anos, Adriano Silva, 38, analista de sistemas, nunca ligou muito para o tratamento da doença cardiovascular. Como era jovem, não se importava com as consequências. Como por muitos anos viveu com uma saúde aparentemente perfeita, não acreditou que podia sofrer com problemas renais antes mesmo de chegar aos 40 anos. Ao desmaiar no trabalho, descobriu que seus rins estavam com apenas 10% de funcionamento.
Nessa hora, ao pensar na palavra hemodiálise, entrou em pânico e seguiu procurando mais informações sobre a doença renal crônica. Para sua surpresa, ele foi submetido a uma terapia menos invasiva e que permite seguir com o tratamento em casa. Abaixo, ele conta sua história.
"Descobri com 18 anos que tinha hipertensão. Fui fazer um exame de CNH e minha pressão estava alta. Meus pais eram hipertensos e, mesmo descobrindo, deixei um pouco a doença de lado.
Lembro que na época, ao saber da doença, meus pais me levaram ao médico, mas era muito jovem e não liguei muito para isso.
Continuei estudando, trabalhando e segui com a minha vida. Sem saber, fui desenvolvendo complicações renais, que evoluíram para uma doença renal grave. Ela caminhou de forma silenciosa e, em 2019, me recordo que comecei a ter espuma na urina. Esse foi o primeiro sintoma que percebi.
Não procurei um médico em um primeiro momento. Passei mal, tive um pico hipertensivo e já no início de 2020, desmaiei no trabalho e fui para emergência.
Fiz um check-up, estava no CTI e com vários exames foi detectado que estava com uremia, um indicativo de que minha ureia estava muito alta. Além disso, minha creatinina também estava elevada e naquele momento havia muitos indicadores que eu estava com um problema sério nos rins.
Depois de muitos exames, disseram que minha função renal estava perto de 10% e ficou uma dúvida se eu iniciaria uma hemodiálise naquele momento.
Quando fui internado, descobri que meu rim já estava todo detonado. Saí do hospital, procurei um bom especialista e a médica disse para pensar em métodos alternativos. Fiquei no tratamento conservador por quase um ano, que envolvia remédios, dieta e acompanhamento.
Fui até onde deu, mas meu nível de ureia começou a aumentar muito e sentia muito incômodo na barriga, tontura e dor de cabeça.
Tratamento em casa
A médica me disse que poderia realizar um tratamento que me permitiria ficar em casa com a minha família. Ela me apresentou a diálise peritoneal, que preserva mais o paciente.
Iniciei o processo pelo convênio e coloquei o cateter na barriga. Comecei o curso para saber como manejar, recebi a máquina, mas comecei a ficar doente novamente e fiz uma hemodiálise de urgência. Nesse mesmo período, precisei ficar internado.
Minha esposa fez todo o curso para me ajudar. Ela terminou e eu pude fazer a diálise em casa, logo que voltei.
No primeiro mês que coloquei o cateter na barriga, tive uma infecção, pois tinha medo de encostar na barriga e não segui as recomendações médicas adequadas. Na volta ao médico, o especialista me chamou a atenção por não ter feito a higiene de forma correta.
Mesmo tendo esse imprevisto, achei bem fácil e prático o processo. Geralmente, inicio o processo à noite, limpo bem o quarto, pego os insumos da máquina e faço o processo de higiene. Depois, faço a ligação e preciso permanecer dez horas ligado à máquina. No começo incomoda um pouco, mas hoje já me acostumei mais.
O ponto-chave da peritoneal é a higiene. O cateter cicatrizado é indolor, mas é necessário muita limpeza. Hoje, consigo caminhar, correr e fazer qualquer coisa.
Apoio familiar e psicológico
A decisão de fazer a diálise peritoneal foi feita em conjunto com a minha esposa. Pensamos que ia ser menos desgastante e menos agressivo.
Desde que descobri a doença, tive que parar de trabalhar, larguei meu emprego e fui afastado pelo INSS. Hoje, cuido da casa, faço as tarefas e minha esposa trabalha fora. Minha filha, que tem sete anos, me dá muito suporte e sempre que preciso ela está do meu lado.
Logo depois dessa consulta, que a médica me deu uma bronca por não ter feito a higiene direito, minha filha sempre me monitora, 'briga' comigo e pede para eu fazer os procedimentos certos. Ela está sempre disponível e ajuda a integrar a relação pai e filha.
Poder fazer o tratamento em casa também me ajuda a ficar mais perto da minha família. Logo depois que comecei a tratar fora do hospital, meu pai descobriu um câncer na próstata e por eu ter uma vida praticamente normal, consigo ficar ao lado dele.
Prognóstico difícil
Quando descobri a doença, a palavra hemodiálise soou bem agressiva e as pessoas que conheci tiveram um fim muito trágico. Quando o médico disse que precisaria fazer o procedimento também foi bem tenso.
No começo, falava que queria voltar a trabalhar logo, mas os médicos disseram que ia ter que me afastar e foi muito assustador.
Por causa disso, comecei a pesquisar bastante sobre a doença. Procurei especialistas bacanas, fui atrás de grupos de discussões, fóruns e vi que não é o fim. Você começa a ver histórias de famílias e pessoas que conseguiram sobreviver.
Atualmente, estou na fila de transplante e espero o rim de alguém. Uma vez fui chamado, mas o órgão não foi compatível com o meu organismo. Sigo na fila e estou esperando minha vez. Enquanto isso, continuo com o tratamento em casa e tentando ter uma vida normal ao lado da minha filha e esposa."
O que provoca doença renal?
As principais causas da doença renal crônica são hipertensão e diabetes. Segundo especialistas ouvidos por VivaBem, uma em cada dez pessoas têm doença renal no Brasil. Muitas vezes, o paciente acha que, por ter essa condição, não vai ter mais nenhuma enfermidade e acaba provocando lesões em órgãos-alvo como coração, rim e olhos.
Com a progressão do problema, os rins vão ficando sobrecarregados e, aos poucos, os sintomas aparecem. É importante ressaltar que esses sinais também podem surgir de forma tardia ou simplesmente se manifestar de maneira silenciosa. Geralmente, dependendo do estágio da doença, a pessoa pode sentir fadiga, enjoo, vômito, inchaço e piora da pressão arterial.
Uma das formas mais eficazes de descobrir o problema é por meio do diagnóstico precoce. Dessa forma, o indivíduo tem mais chances de sofrer com menos sequelas e efeitos do problema.
O que é a diálise peritoneal?
Por meio desse método, é colocado um cateter na cavidade abdominal, onde se localizam as membranas do peritônio, que envolvem nossos órgãos, e infundem líquidos pobres em substâncias. Esse material fica um tempo na barriga e depois é drenado.
Para realizar o procedimento, o paciente precisa realizar um treinamento, que pode ser feito pela enfermeira ou médico. O tratamento pode ser feito enquanto o indivíduo dorme ou pode haver trocas manuais durante o dia.
Diferentemente da hemodiálise, que deve ser feita no hospital, esse pode ser feito na própria casa da pessoa. Ele é indicado para dar mais autonomia e qualidade de vida ao paciente e funciona para preservar a função residual do rim.
Há, ainda, a preservação da diurese, que auxilia na sobrevida de quem sofre com doença renal. Atualmente, o procedimento é ofertado pelos convênios e SUS (Sistema Único de Saúde). No entanto, no sistema público ainda há uma limitação em fornecer aos que precisam. Não são todas as pessoas que conseguem e, muitas vezes, precisam recorrer à saúde suplementar.
Como cuidar da saúde mental?
Assim como ocorreu com Adriano, muitos pacientes que sofrem com doenças renais acabam tendo o psicológico muito abalado ao receber o diagnóstico. Por isso é muito importante ter uma rede de apoio durante todo o processo, que se inicia na descoberta da doença até o tratamento.
Existem dois caminhos pelos quais os pacientes vão receber o diagnóstico da doença renal crônica. Muitas vezes, eles já vêm sendo preparados para mudança na rotina, já que ele será submetido à terapia dialítica na modalidade ambulatorial ou na modalidade domiciliar.
Infelizmente, essa não é a realidade de quem sofre com a doença, já que a maioria recebe um diagnóstico durante uma internação. "Ele entra com uma queixa de sintomas leves, uma falta de ar e náuseas e acaba saindo dessa internação com um diagnóstico de um tratamento e uma doença crônica", diz Raquel Calheiros Reis, psicóloga e especialista em psicologia assistencial a pacientes oncológicos e doença crônicas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Por isso, é necessário ter uma rede de apoio e buscar na psicologia uma alternativa para recuperar a saúde mental, relações financeiras e afetivas desse paciente.
O apoio psicológico, segundo a especialista, deve estar presente e ser oferecido tanto ao paciente quanto à familia. "Ninguém vive para dialisar. Todos dialisam para viver. Esse é o maior objetivo da psicologia. É ajudar a família a conquistar os objetivos de vida", conclui.
Fonte: Maria Izabel de Holanda, diretora científica da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro.
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