Gravidez na infância e adolescência é considerada de alto risco; entenda
O Ministério da Saúde lançou na última sexta-feira (9) a segunda edição de uma cartilha que traz orientações aos profissionais da saúde sobre "prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento". No texto, entre outros pontos, o órgão questiona a validade de evidências científicas que demonstram haver risco de morte para a mãe durante a gestação na adolescência.
O documento defende, sem citar referências, que tais estudos apresentam "algumas contradições e inconsistências sobre essa quantificação de risco de mortalidade", e que a idade não deve ser utilizada como "fator único de indicação para interrupção de gestações por risco de morte materna", devendo cada caso ser analisado individualmente.
No Brasil, a interrupção de uma gravidez é permitida nos casos de estupro, anencefalia do feto e risco de morte para a gestante. Não existe gestação sem risco. Mas sabe-se que todos os riscos aumentam quando a mãe tem menos de 20 anos: é maior a possibilidade de aborto espontâneo, de anemia, de pressão alta, de parto prematuro e de morte, por exemplo, tanto para a gestante quanto para o feto.
É por isso que, segundo obstetras, a gravidez na infância ou adolescência é sempre considerada de alto risco.
Entenda os riscos à saúde da gravidez na adolescência
A primeira menstruação —ou menarca—, que geralmente acontece entre os 9 e 16 anos de idade, não é um sinal de que a menina está pronta para se tornar mãe. As próprias ovulações não são regulares nem frequentes nesse período. Considera-se que o corpo da mulher só fica pronto para gestar um filho a partir dos 20 anos.
Na primeira metade da adolescência, os ossos dos quadris ainda não se alargaram, o que pode ser um problema na hora do parto. Os ossos dos ligamentos e o períneo, por exemplo, também podem não suportar a sobrecarga nessa idade.
Sabe-se que o organismo da menina grávida, também em pleno desenvolvimento, pode entrar em competição por comida com o do filho. Um dos principais riscos nesse cenário é a anemia: embora toda e qualquer gestação possa provocar uma deficiência de ferro, estudos apontam que a condição é muito pior na gravidez precoce. As consequências incluem subnutrição fetal, com riscos de sequelas e alterações drásticas no fluxo sanguíneo da mulher.
Estima-se que a prevalência de anemias graves é duas vezes maior em grávidas adolescentes em relação a gestantes com mais de 20 anos.
Outros problemas que podem ocorrer em gestações de alto risco, onde se enquadram todas as que acontecem durante a adolescência, são a pré-eclâmpsia, a diabetes gestacional, o nascimento de bebês de tamanho muito pequeno e a prematuridade.
Falta de pré-natal e riscos psicológicos
A gestação na adolescência também é considerada o risco social mais citado para evasão escolar de meninas de baixa renda. Isso porque, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a maioria das gestações precoces ocorre em adolescentes de classes sociais mais vulneráveis, podendo resultar em abandono escolar, dificuldade de inserção no mercado de trabalho e conflitos familiares.
Obstetras relatam que, quando chegam grávidas no serviço de saúde, muitas dessas meninas costumam já ter anemias e outros problemas decorrentes de carências nutricionais, o que torna o seu estado muito mais frágil.
Por causa da condição social e por não terem maturidade para compreender a importância desse cuidado, 80% das meninas gestantes não fazem o pré-natal direito, o que aumenta o risco de problemas como a diabetes gestacional, bem mais frequente nas meninas abaixo de 14.
Outro problema é a elevação brusca da pressão sanguínea, que pode disparar a partir da vigésima semana gestacional, no fenômeno da pré-eclâmpsia, duas vezes mais comum em adolescentes, por uma dificuldade maior do organismo jovem para se adaptar a esse estado tão diferente.
Se a gravidez é levada adiante, a eclâmpsia é nove vezes mais frequente nas adolescentes do que nas mulheres acima de 20 anos. Mesmo sem eclâmpsia, podem ocorrer hemorragias severas, que são mais comuns no primeiro filho, o que costuma ser o caso das adolescentes. As complicações ao dar à luz são a sétima causa evitável de morte entre meninas.
Os riscos da gravidez na adolescência não estão restritos à saúde fisiológica. A condição também pode afetar o psicológico e a autoestima das adolescentes. Casos de suicídio e depressão nesse cenário são considerados sinais de alerta.
*Com informações de reportagens publicadas em 20/08/2020 e 03/02/2020.
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