Há forma segura de manter vida sexual ativa em meio à varíola dos macacos?
O novo surto da varíola dos macacos, decretado como emergência de saúde pública global pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em julho, levanta um alerta às populações sexualmente ativas. Isso porque o vírus infecta as pessoas por contato entre peles e por objetos de uso íntimo —como talheres, roupas e cobertores—, com o sexo sendo um momento de grande exposição ao risco. Com isso, surge a dúvida: há uma forma segura de manter a vida sexual ativa em meio à epidemia de varíola dos macacos?
Antes de responder a essa questão, Tatiana Batista, infectologista da Prefeitura de João Pessoa (PB) e professora do curso de medicina da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), explica que a varíola dos macacos não é considerada uma IST (infecção sexualmente transmissível). Isso porque não há, até agora, pesquisas conclusivas sobre se o vírus é transmitido por fluidos genitais ou pelo contato anal, em si.
Por outro lado, o sexo é uma atividade que expõe as pessoas à doença, já que o contato com a pele infectada é o modo principal de transmissão. "O ato sexual envolve o atrito, que gera microtraumas na pele que favorecem a transmissão de doenças de contato, como no caso da varíola dos macacos", diz Batista.
Para Bernardo Wittlin, médico infectologista e preceptor em infectologia no Hospital Universitário da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), essa é uma discussão delicada.
O que sabemos é que existe o vírus nos fluidos genitais, mas ainda não foi comprovado que o vírus está ativo. O problema é que quando se classifica uma doença como IST, podemos passar uma ideia equivocada de que essa seja a única via de transmissão da varíola dos macacos, o que não é verdade. Bernardo Wittlin, médico infectologista
O período de incubação da doença, que dura de cinco a 10 dias, inclui sintomas iniciais como febre, dor no corpo e gânglios inchados. Depois, surgem as pústulas, as bolhas na pele que, com o passar do tempo, geram crostas secas. É preciso esperar que a pele se regenere totalmente para voltar a ter convívio social, o que pode levar de duas a três semanas, em média. As feridas são altamente infectantes.
Por outro lado, ainda é uma dúvida para a ciência se o momento inicial da infecção, em que ainda não há pústulas ou cascas, o paciente já está transmitindo o vírus.
Segundo conta José Angelo Lindoso, infectologista no Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) e professor da faculdade de medicina da USP (Universidade de São Paulo), os pacientes que têm atendido relatam terem feito sexo sem preservativo com parceiros que aparentemente não apresentavam feridas.
Os pacientes diagnosticados dizem que o parceiro não tinha lesões na pele. As pessoas estão se infectando com quem não tem lesão em atividade. Também há casos de pessoas que têm lesões leves, discretas e poucas, o que gera um risco de transmissão. José Angelo Lindoso, infectologista
A maioria dos pacientes tem apresentado feridas na região anal e genital, mas elas podem aparecer em qualquer parte do corpo.
Segundo Batista, há pesquisas em andamento que investigam se o "rash" —vermelhidão na pele que precede as bolhas— é também transmissor do vírus. Isso poderia explicar a transmissão sexual entre pessoas sem as pústulas.
Ou seja, não há uma forma exata de proteção —ela seria simplesmente não ter parceiros sexuais. Mas é possível ter alguns cuidados para reduzir os riscos de infecção. Veja alguns a seguir:
Use preservativo
Há um consenso científico quando se trata de saúde sexual: usar preservativo é imprescindível. Os especialistas relatam que o uso da camisinha tem caído, aumentando as infecções sexuais que fragilizam a imunidade dos pacientes, deixando-os mais suscetíveis a novas doenças, como a varíola dos macacos.
Apesar de a camisinha não proteger totalmente contra a varíola dos macacos —por ser uma doença de contato com qualquer pele infectada—, o uso do preservativo segue sendo importante para diminuir o risco de infecção, além de proteger contra ISTs diversas.
Reduza o número de parceiros
No fim de julho, o diretor da OMS Tedros Adhanom declarou que a redução no número de parceiros sexuais é uma medida importante. "No momento, [é indicado] reduzir o número de parceiros sexuais, reconsiderar o sexo com novos parceiros e trocar detalhes de contato com novos parceiros para permitir o acompanhamento, se necessário", afirmou.
A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) emitiram uma nota conjunta dando a mesma recomendação, além de afirmarem que "são solidárias às pessoas acometidas pela doença e não apoiam qualquer tipo de discriminação".
A questão da discriminação remete à maioria dos diagnosticados, que são homens que fazem sexo com homens —o que não significa que outros grupos não possam se infectar, como mulheres e crianças, que também têm sido diagnosticadas. Os especialistas entrevistados alertaram sobre o risco de estigmatização da população LGBTQIA+, que já sofre com marginalizações, quando se trata do tema da varíola dos macacos.
"O estigma tem ao menos duas consequências negativas: relaxa quem não é daquele grupo de risco e afasta os estigmatizados do serviço de saúde, que temem serem apontados, mal tratados", diz Wittlin. Se você suspeita estar com varíola dos macacos, procure atendimento médico cobrindo as áreas lesionadas e usando máscara.
Converse com os parceiros sobre o assunto
Apesar das ISTs ainda serem tabu, falar sobre o tema com os parceiros é importante. No caso da varíola dos macacos, não é diferente, e a conversa também é essencial. Se você apresentou algum sintoma ou vermelhidão em alguma parte do corpo, avise os parceiros, desmarque os encontros e procure atendimento médico. De acordo com os especialistas, quanto mais se falar das questões da saúde, melhor pode ser a proteção contra a doença.
Fazer exames periódicos para rastreio de IST e incentivar os parceiros a fazer o mesmo é uma atitude positiva que pode ajudar na conscientização sobre a saúde em geral, ajudando também a desmistificar a varíola dos macacos.
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