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É verdade que deixar o esmalte por muito tempo prejudica a unha?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Cecília Nery

Colaboração para VivaBem

14/09/2022 04h00

Elas protegem as extremidades dos dedos das mãos e dos pés, auxiliam na manipulação de objetos pequenos e conferem autocuidado, higiene e beleza quando esmaltadas. As unhas têm muitas funções, por isso requerem cuidados especiais que, nem sempre, os esmaltes podem fornecer, podendo até prejudicá-las se deixados por muito tempo.

Apesar do uso comum dos esmaltes entre homens e mulheres e até mesmo crianças, a utilização prolongada traz maior risco de ocorrências adversas. Dentre estas, unhas mais frágeis devido ao ressecamento ungueal, alteração na coesão entre as células que formam a unha e reações alérgicas.

"Isso porque algumas substâncias dos esmaltes são absorvidas pelo nosso organismo, seja pelo contato por inalação e até mesmo ingestão", afirma a farmacêutica Juliana Rodrigues Cardoso. E acrescenta: "Após a absorção, essas substâncias são metabolizadas, chegando a nossa corrente sanguínea e são excretadas na urina".

É importante ressaltar que o esmalte pode, também, prejudicar a unha se for utilizado por pessoas que não tenham indicação de uso ou que tenham alergias à fórmula ou, ainda, se for utilizado de forma inadequada.

"Sabemos que existem solventes no esmalte, que se forem deixados muito tempo na unha podem levar a uma digestão das proteínas que formam a unha", adverte a dermatologista Tatiana Villa Boas Gabbi. "Surgem então áreas granuladas, de aparência esbranquiçadas, chamadas de pérolas de queratina, causando aspereza no local", destaca.

Outros prejuízos que o esmalte pode causar para as unhas —não o convencional, mas o esmalte em gel— é o descolamento e a alteração do leito da unha naquelas pessoas que apresentam alergia aos acrilatos, compostos do produto. "Com o descolamento, não há mais aderência da lâmina à unha, deixando um aspecto feio e incômodo", completa Gabbi.

Por outro lado, a dermatologista lembra que, na maior parte das vezes, o esmalte pode ser protetor, principalmente os terapêuticos que reforçam a estrutura da unha. "Eles podem ser utilizados inclusive para tratamento de micose, como os antifúngicos", garante Gabbi.

Uma questão importante é saber escolher o produto adequado. Dependendo do esmalte escolhido, ele pode promover ressecamento, enfraquecimento, manchar ou amarelar. "Em relação à saúde como um todo, pode desencadear crises de dermatite de contato (principalmente nas pálpebras), dor de cabeça e alergias respiratórias", adverte a dermatologista Máira Astur. E recomenda: "Evite os esmaltes que contém na fórmula parabenos, derivados de formol, toluene, ftalato e cânfora".

Uso correto do esmalte

Para evitar que a unha fique áspera e esbranquiçada, propiciando a alteração do tecido e até uma facilitação para o surgimento de micoses, é necessário utilizar o esmalte com critério e atentar para o tempo de permanência.

"O ideal é não deixar o esmalte por mais de sete dias, e um bom momento para a remoção é quando ele começa a descascar. Deixe a unha sem o produto e faça uma hidratação", recomenda Gabbi.

Convém ainda deixar a unha descansar por um período de três dias, antes de esmaltar novamente. "É fundamental para que toda a estrutura descanse, evitando possíveis danos, como ressecamento, desidratação, porosidades e fragilidade", assinala Cardoso.

Para a remoção, deve-se evitar a utilização de acetona, uma vez que o produto causa ressecamento. Segundo Gabbi, a acetona pode roubar a pouca proteína que há na superfície da unha. A pele, assim como as unhas e os cabelos, tem uma camada de gordura e isso é importante para não perder água. O uso da acetona facilita essa perda.

De fato, a acetona pode prejudicar as unhas e enfraquecê-las, pois se trata de um diluente muito agressivo que, em contato com a unha, a deixa cada vez mais fraca e esbranquiçada. Além disso, a inalação dessa substância pode causar irritações, alergias, náuseas, vertigens e problemas respiratórios.

"O correto é usar removedores sem acetona que não agridem e/ou ressecam as unhas, os removedores não mancham as unhas e podem vir com propriedades hidratantes que auxiliam no desgaste oriundo dos esmaltes. Existem variados tipos de removedores como esponjas, canetas, lenços e até espécies de cápsulas para cada dedo", ressalta Cardoso.

Pausas necessárias

O uso excessivo de esmaltes não permite que as unhas descansem das toxicidades presentes no produto e, assim, não conseguem se recuperar para crescerem fortes e hidratadas. Como a pele, as unhas precisam respirar. "É bonito o cuidado com as unhas e elas ficam ainda mais bonitas quando feitas, porém tê-las fortes e saudáveis vai além da beleza, é cuidado também com o nosso corpo", admite Cardoso.

Se a unha estiver ressecada, convém ficar três dias sem pintar. "Aproveite esse período para hidratá-las", aconselha Santana.

Essas pausas são necessárias, pois são oportunidades para hidratar e recuperar a lâmina ungueal. "Não precisam ser longas, mas são bem-vindas, deixando a unha sem nada e só tratando com hidratantes específicos ou hidratantes normais. O hidratante ajudará a devolver a gordura para a unha que, por sua vez, devolverá a água e a deixará com um aspecto mais saudável", argumenta Gabbi.

Cor do esmalte

As formulações dos esmaltes escuros são as mesmas dos esmaltes claros, o que altera é apenas o pigmento que dará cor aquele produto. Os cuidados necessários para quem utiliza esmalte que possui uma coloração escura são os mesmos cuidados para quem utiliza nas cores claras. "O que muda é apenas o corante que dará matizes diferentes para cada esmalte", garante Cardoso.

De acordo com Gabbi, a cor do esmalte não tem a ver com maior ou menor dano às unhas. É importante salientar que algumas medicações, como aquelas para o câncer e até mesmo para algumas doenças dermatológicas, podem levar a um quadro que chamamos de foto-onicólise, isso significa que o uso da medicação vai fazer com que a unha em exposição à luz do dia ou do sol se torne mais suscetível com relação ao descolamento.

"Nesses casos, esmaltes escuros fazem uma proteção ultravioleta da placa ungueal e previnem esse descolamento da unha, então pode ser interessante para isso", lembra a dermatologista.

Outra curiosidade em relação à cor do esmalte, conforme Gabbi, são os pigmentos vermelhos, que incomodam a presença dos fungos de forma a protegê-la de uma infecção fúngica. "Eles não fazem o tratamento dessa infecção fúngica, mas os pigmentos chamados de fungistáticos impedem que o fungo prolifere, então é interessante utilizar em unhas que já estejam descoladas para evitar a instalação de uma infecção por fungos", recomenda.

Unhas dos pés

Muitas vezes esquecidas, as unhas dos pés recebem menos atenção e cuidados do que as das mãos. Até porque elas ficam escondidas nos sapatos fechados e demoram mais para crescer. "O costume é deixar as unhas dos pés pintadas por mais tempo, o que pode provocar manchas e amarelamento", adverte Astur.

O desleixo com a região pode ser prejudicial não somente relacionado à estética, mas para a saúde do corpo em geral. "A falta de cuidado pode resultar em uma série de problemas mais sérios, como reações alérgicas, micoses e até mesmo infecções. Assim como as unhas das mãos, os cuidados são os mesmos", reforça Cardoso.

Esses cuidados, embora iguais, apresentam algumas ressalvas. "Jamais se deve remover as cutículas, nem da mão deveríamos fazer isso, mas nos pés aumenta-se muito o risco de infecções no caso de algum descuido ou acidente durante a remoção", assinala Gabbi. As cutículas são peles protetoras que impactam muito no crescimento da unha, e quem tem fragilidade ungueal pode se prejudicar.

Além disso, a dermatologista recomenda que as unhas dos pés permaneçam mais curtas do que o dedo, para prevenir descolamentos e a instalação de micoses e doenças como unha encravada traumática. "Manter as unhas curtas, não remover as cutículas e não limpar embaixo, retirando aquela massinha, nem das unhas das mãos, para evitar o descolamento, são cuidados necessários."

Fontes: Jaci Maria Santana, médica formada pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), dermatologista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), preceptora da residência de dermatologia do Hospital Otávio de Freitas, no Recife; Juliana Rodrigues Cardoso, farmacêutica generalista, especialista em farmácia clínica e mestre em farmacologia; Máira Astur, dermatologista especialista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), preceptora no ambulatório de dermatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e mestre em unhas pela Unifesp; e Tatiana Villa Boas Gabbi, dermatologista especialista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), chefe do Ambulatório de Doenças Ungueais do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

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