Mulher morre após levar golpe no peito do irmão; como soco pode ser fatal?
Uma briga entre irmãos terminou em morte no bairro Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Andréia Lane, 45, foi golpeada no peito pelo irmão, que é dois anos mais velho do que ela.
Após o soco, a mulher buscou ajuda em uma clínica, mas não resistiu. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou que a vítima morreu por causa de uma parada cardiorrespiratória decorrente de estresse físico e emocional. O homem irá responder pelo crime de lesão corporal seguida de morte, cuja pena é de 4 a 12 anos de prisão.
Impactos diretos e com alta intensidade no tórax são capazes de causar danos graves ao coração, como explica o cardiologista Edmo Atique Gabriel, especialista em cirurgia cardiovascular pela SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular). O risco, segundo o médico, é maior em pessoas que têm problemas cardíacos —como era o caso de Andréa—, mas pode acontecer com qualquer pessoa. "Um golpe no tórax nunca é algo para ser subestimado", diz o especialista.
Soco no peito pode ser fatal?
Um dos órgãos mais importantes situados no tórax é o coração. As consequências de um golpe na região, localizada entre o pescoço e o abdome, vão desde uma arritmia até o rompimento de uma artéria ou infarto. A presença de doenças cardíacas prévias ou a constituição física frágil do indivíduo são alguns dos fatores que podem agravar os danos.
"Quando uma pessoa recebe um golpe de alta intensidade no tórax, é a mesma coisa de quando você sofre um acidente de carro e o tórax fica prensado no volante, ou quando está na moto, tromba com uma árvore e bate o tórax, por exemplo. Em todos esses casos, existe uma energia mecânica e uma carga energética muito grande sobre o tórax e isso se transfere para o coração", explica Gabriel, que também é professor livre-docente na Unilago (União das Faculdades dos Grandes Lagos) e colunista de VivaBem.
Na prática clínica, o médico se recorda de já ter atendido um paciente idoso, de baixa estatura e franzino, por exemplo, que desenvolveu um aneurisma (dilatação anormal de uma artéria) no coração após ter sido golpeado por um cavalo no peito.
O especialista afirma que, quanto menor for a distância entre a pessoa que recebe o golpe e o indivíduo ou objeto/animal causador do impacto, maior será a transferência de energia e, consequentemente, mais graves poderão ser os danos. "No caso dos irmãos, eles provavelmente estavam muito próximos um do outro", avalia.
Um grande impacto no tórax também pode desencadear um fenômeno conhecido como Commotio Cordis, afirma o cardiologista César Jardim, do HCor (SP). O nome se refere à morte súbita quando o evento é causado por arritmia cardíaca provocada pelo impacto de um objeto contra o lado esquerdo do tórax, sem haver fratura de costelas e sem ferir diretamente o coração.
"O impacto pode gerar energia e isso, num determinado momento do ciclo do batimento cardíaco, pode provocar parada cardíaca", diz o médico. Segundo Jardim, o risco aumenta se a pessoa já tiver alguma alteração estrutural no coração, como a miocardiopatia hipertrófica (doença caracterizada pelo desenvolvimento excessivo do músculo do coração) ou anomalias em artérias coronárias, que são os vasos responsáveis pela chegada de oxigênio e outros nutrientes ao músculo cardíaco.
Como o estresse pode levar ao infarto
O laudo do IML apontou que a parada cardiorrespiratória que levou à morte de Andreia Lane foi decorrente não só do estresse físico, mas também emocional. "Tanto o estresse físico quanto emocional podem provocar morte súbita", afirma Jardim.
O efeito do estresse emocional no organismo pode ser pior em pessoas que têm doenças cardíacas não diagnosticadas ou não avaliadas, que já têm maior predisposição a ataques cardíacos, infartos, arritmias ou paradas cardiorrespiratórias.
Segundo o HCor, embora sejam menos frequentes, cerca de 15% dos casos de infarto são causados por uma situação de estresse repentino e muito forte.
"Isso se dá pela liberação no organismo de hormônios como a adrenalina e a noradrenalina nestes momentos de estresse físico ou emocional, e o excesso desses hormônios leva ao aumento de pressão, frequência do coração, espasmos em coronária e surgimento de arritmias", explica Bernardo Nova de Abreu, que também é médico do hospital.
Como evitar o problema?
Para minimizar o risco de sofrer um infarto por estresse físico, o cardiologista Edmo Atique Gabriel alerta para a importância de utilizar vestes que ofereçam proteção à região do tórax quando for praticar esportes onde o risco de sofrer um golpe na região é maior, como judô, jiu-jitsu e MMA (artes marciais mistas).
"Em relação à questão das agressões físicas, é importante conscientizar em relação ao risco que você coloca uma pessoa quando vai ameaçá-la fisicamente. Há um risco físico de gerar um trauma numa região nobre do corpo, onde está o nosso coração, e existe também o risco de trauma emocional que, somado ao físico, pode resultar numa morte, como no caso dos irmãos", alerta.
Também é considerado importante identificar se você tem fatores que aumentam a predisposição à parada cardíaca, como hipertensão arterial, altos níveis de colesterol ruim, diabetes, tabagismo ou histórico familiar de doenças cardíacas.
O acompanhamento médico periódico é fundamental para o controle dos fatores de risco. Além disso, uma vida mais saudável, com a prática regular de exercício físico, alimentação equilibrada, controle de peso e manejo de estresse são medidas que reduzem o risco de ter o problema e favorecem a saúde do coração.
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