Muita coceira, suor e uma ida ao dentista fizeram-no descobrir linfoma
Ao longo de dois anos, Antonio Caetano Marques, 71, técnico de eletrônica, teve alguns sintomas, como coceira, suor excessivo e perda de peso, que passaram despercebidos. A pedido de um amigo dentista, que iria fazer uma avaliação e um orçamento, ele fez um hemograma, que apontou alterações. Antonio, que é português, procurou então um hematologista, descobriu que tem câncer no sistema linfático, mas atualmente não faz nenhum tratamento. A seguir, ele conta sua história:
"Em 2019, comecei a ter uma coceira intensa nos testículos, não era aquela coceira típica que todos os homens têm na região. Fui à farmácia e contei para a farmacêutica o que estava acontecendo. Ela disse que provavelmente era por conta de umidade e me passou uma pomada.
Dois meses depois, a coceira voltou, mas dessa vez nas canelas. Cocei tão forte que fez uma ferida. O médico da UBS disse que infeccionou porque cocei com as unhas. Ele receitou uma pomada com antibiótico e orientou a sempre coçar só com os dedos para evitar infecções.
As coceiras eram cíclicas, iam e voltavam em várias regiões do corpo. Um outro sintoma que tive foi o suor noturno. Nos dois episódios em que aconteceu, acordei de noite com frio e com a camiseta encharcada.
Em 2021, passei com uma dentista que me indicou fazer um implante dentário. Achei caro o valor do procedimento com ela e pedi um orçamento para um amigo, que também é dentista. Meu amigo disse que para fazer a avaliação dos meus dentes e, consequentemente, o orçamento, precisaria fazer um raio-X panorâmico e um hemograma completo. Achei estranho porque a antiga dentista nunca tinha pedido, mas acabei fazendo.
No primeiro resultado, algumas taxas deram muito altas. O laboratório achou que fosse algum erro e pediu para refazer. Repeti, levei o novo resultado para o meu amigo dentista, mas ele disse que o exame continuava alterado e pediu para eu procurar um médico.
Passei em uma consulta particular com um hematologista, ele analisou o resultado e fez o exame clínico, apalpou meu pescoço, virilhas, braços e axilas. Nunca tinha percebido, mas ele me mostrou que tenho alguns gânglios debaixo das axilas, parece uma bolinha achatada, lembra um tremoço.
O médico perguntou se notei algo diferente no meu corpo nos últimos tempos, como coceira, suor excessivo, perda de peso.
Contei das coceiras, das duas noites em que acordei com a camiseta encharcada e que algumas pessoas tinham comentado que eu estava mais magro —me pesei no consultório e vi que estava com 5 kg a menos, como sempre fui magro, nem reparei.
O hematologista suspeitou que eu estivesse com linfoma e pediu para eu fazer mais exames e uma biópsia.
Após o resultado, fui diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer no sistema linfático. Ele explicou que eu não precisaria fazer o tratamento oncológico naquele momento porque quase não tenho sintomas e porque meu quadro é estável. Ele explicou que só será necessário fazer caso o linfoma aumente de tamanho muito rápido e a doença fique agressiva.
O médico me deu um laudo para continuar o acompanhamento pelo SUS. A cada quatro meses, passo com um hematologista e faço um check-up para a monitorização do linfoma. De forma geral, continuo vivendo minha vida normalmente.
Tenho 71 anos e, com exceção do linfoma não-Hodgkin, não tenho nenhuma doença, não tomo remédio, sou ativo, trabalho, durmo bem, não fumo, não bebo bebida alcóolica e me alimento bem.
Confesso que meu maior problema é ser sedentário, preciso fazer alguma atividade física para melhorar ainda mais a minha saúde.
Uma coisa que aprendi com isso é que o nosso corpo fala e sempre dá sinais quando tem algo errado.
Às vezes, pode ser um sintoma aparentemente bobo que a gente não dá muita importância. Eu mesmo nunca poderia imaginar que uma coceira pudesse ser o sinal de uma doença grave como o câncer.
Por isso, minha dica é: conheça seu corpo, preste atenção ao que ele diz e, na dúvida, procure um médico para te ajudar a descobrir se você tem alguma coisa."
Entenda o linfoma
Linfoma é um câncer no sistema linfático (corresponde a um grupo heterogêneo de tumores neste sistema), que se espalha de maneira ordenada e possui características e comportamentos distintos.
Ele está dividido em dois grandes grupos: o linfoma de Hodgkin (LH) e o linfoma não-Hodgkin (LNH). A principal diferença entre eles é a presença de células grandes B, chamadas de Reed-Sternberg no interior dos linfonodos, junto a proliferação de células inflamatórias, que em conjunto levam ao diagnóstico de linfoma de Hodgkin. Os outros linfomas que não possuem esta célula característica são denominados de linfoma não-Hodgkin.
De modo geral, o linfoma de Hodgkin costuma aparecer em pessoas mais jovens, entre 15-25 anos e os sintomas mais comuns são aumento dos linfonodos (popularmente conhecidos como caroços ou ínguas) na região do pescoço e axilas; prurido (coceira); sudorese noturna e cansaço.
O linfoma não-Hodgkin se manifesta mais em idosos, acima de 60 anos, e tem sintomas como cansaço, perda de peso, linfonodos aumentados de tamanho nas axilas, virilhas e abdome.
A causa é multifatorial, mas doenças autoimunes, imunodeficiência e alguns vírus, como HIV, herpes e hepatite C, estão implicados em alguns casos de linfoma. O diagnóstico é feito exclusivamente com a biópsia de um linfonodo aumentado e com a realização de testes específicos.
Um exame de sangue geral alterado pode sugerir que há algo a ser investigado. Os exames de imagem também podem auxiliar no processo.
Os linfomas agressivos são tratados após diagnóstico pela chance de cura significativa. Nesses casos, a quimioterapia, associada ou não a imunoterapia, é o tratamento padrão. Em algumas situações, a radioterapia também pode ser realizada.
Existem também os linfomas indolentes, cuja taxa de crescimento tumoral é baixa e em que é possível retardar o tratamento. Tratar o paciente sem sintomas ou em estágio inicial não irá alterar o tempo que ele viverá. Todos os linfomas crescerão, mas alguns são de forma tão lenta que a pessoa acaba morrendo de outra doença.
Nesses casos, como o de Antonio, a recomendação é fazer um acompanhamento periódico para monitorar o crescimento do linfonodo. É o que se chama de watch and wait, em inglês, ou seja, observar e aguardar, antes de iniciar o tratamento oncológico.
VivaBem tomou conhecimento da história de Antonio após ele enviar uma mensagem para a redação, então entramos em contato para saber mais e entrevistá-lo para este relato. Se você também quer contar a sua história relacionada a temas de saúde, escreva para vivabemuol@uol.com.br.
Fontes: Celso Massumoto, hematologista do Hospital Sírio-Libanês (SP), doutor em hematologia pela FMUSP ( Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da Abrale (Associação Brasileira de Leucemia e Linfoma); e Talita Silveira, onco-hematologista do A.C.Camargo Cancer Center (SP).
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