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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Precisa dormir no hospital com alguém? Saiba se você é um bom acompanhante

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Thaís Lyra

Colaboração para VivaBem

19/09/2022 04h00

Em algum momento da vida adulta será preciso acompanhar um parente ou amigo durante uma consulta médica, levar para fazer um exame mais invasivo ou mesmo passar a noite no hospital em função de uma internação. Mas o fato é que nem todo mundo tem a proatividade ou as condições necessárias que a situação exige.

O técnico em informática Anderson Lima*, 59, precisou dormir com o sogro, de 87 anos, durante uma hospitalização. Lima trabalha o dia inteiro e, depois de uma jornada de 8 horas, tomou uma ducha e foi render a cunhada que havia passado a tarde com o pai.

Sentado em uma cadeira reclinada, o técnico em informática foi acordado de madrugada pela acompanhante do outro paciente. "Meu sogro arrancou o acesso do soro, tinha sangue por todo o quarto e foi para o banheiro sozinho. Olha que perigo! Poderia ter caído, se machucado, afinal, ele estava tomando muitos remédios. A moça disse que eu dormia profundamente e roncava alto. Estava cansado, claro que iria dormir."

Embora cheio de boa vontade, Lima não estava em condições físicas e até psicológicas para assumir esse compromisso. Outros motivos também podem fazer com que uma pessoa não seja a mais adequada para esse tipo de coisa: medo de sangue, agulha, algum problema de saúde, ansiedade, excesso de nervosismo…

Alguns perfis não se encaixam

Mulher ansiosa close nas mãos - iStock - iStock
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"No caso de uma internação, trata-se de uma tarefa desgastante física e emocionalmente. Nesse cuidar é necessário acompanhar e lidar com estresse, de controle da situação, além de questões específicas do próprio hospital, como exames, medicamentos, cirurgias, tratamentos, transfusões, seringas, curativos etc. Há que se ter condições emocionais", avalia a psicóloga Ana Gabriela Andriani, formada pela PUC-SP (Pontifícia Universidade de São Paulo) e mestre e doutora pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Todo mundo serve para a coisa? "Algumas pessoas são tímidas, podem ter dificuldade em se posicionar, tomar à frente para os atendimentos serem feitos, chamar o médico ou a equipe quando acontece alguma emergência, por exemplo", alerta a psicóloga Juliane Verdi Haddad, psicóloga com especialização em biofeedback, ansiedade e estresse.

Seja como for, o paciente que está sendo acompanhado não deve se sentir um peso ou que está atrapalhando os compromissos da outra pessoa. "O perfil ideal é aquela pessoa que está ali por completo, atento às necessidades afetivas e físicas do familiar ou amigo. Muitas vezes, a pessoa que foi ao hospital está sem paciência, só conectada com o mundo lá fora e pouco interessada no que está acontecendo ali e isso pode atrapalhar muito", garante a psicóloga Haddad.

Portaria define algumas regras

Como lembra Karen Alessandra Guedes Mansur, enfermeira intensivista, coordenadora da terapia intensiva adulto do Complexo Hospitalar dos Estivadores - Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em Santos (SP), existem alguns protocolos a serem seguidos.

No Brasil, a portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, define algumas regras para o paciente, como "o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas consultas e exames e também assegura "o direito a acompanhante, nos casos de internação, nos casos previstos em lei, assim como naqueles em que a autonomia da pessoa estiver comprometida".

Segundo o Ministério da Saúde, o acompanhamento de pacientes maiores de 18 e menores 60 anos é facultativo, bem como aos idosos com mais de 60 anos que expressem o desejo de se consultarem sozinhos.

"Uma coisa importante é que o acompanhante não auxilia diretamente nos procedimentos. Pode ajudar no banho, segurar o braço quando o profissional for efetuar um acesso. Porém, caso a pessoa não se sinta bem, pode sair do quarto. Não é uma obrigação estar ali", diz a enfermeira, lembrando que cada hospital tem uma regra geral nesse sentido.

"Aqui, esta pessoa não pode estar resfriada ou ter antecedente de doença crônica ou imunossupressão. Acho importante ser alguém reservado já que o hospital é um lugar onde o silêncio precisa imperar."

Acompanhantes também podem adoecer

burnout profissionais de saúde - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dependendo do tipo de patologia, da duração da interação, não apenas o paciente adoece, mas como quem o acompanha mais de perto, sofre consequências. Por isso, a dica de especialistas é, sempre que possível, fazer um revezamento entre amigos e familiares para evitar que alguém fique sobrecarregado.

"Os sintomas mais comuns são estresse, depressão, ansiedade e burnout. Quanto mais prolongada for a internação, maior o risco de um adoecimento. Por exemplo, acompanhantes de idosos com doenças irreversíveis, com Alzheimer ou com câncer, também precisam ser cuidados", reforça Ana Gabriela Andriani.

Tanto cuidado tem um motivo: esta pessoa precisa estar bem para ajudar aquele que está doente. "Ele precisará fazer perguntas aos médicos para entender a situação, o diagnóstico e explicar para a pessoa que está doente, caso ela não esteja entendendo. O acompanhante também pode funcionar como um interlocutor entre o paciente e o médico porque o paciente já está fragilizado", diz a psicóloga Ana Gabriela.

É sempre bom estar informado

E essa máxima deve ser seguida até mesmo em pacientes idosos. Margarida Maria Carreiro de Barros, médica gerontopsiquiatra formada pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e pós-graduada pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), explica que é preciso parar de infantilizar o idoso ou tomar decisões à sua revelia, seja durante uma internação ou em consultas.

"O paciente tem direito de saber, de fazer perguntas e ser informado sobre tudo o que ocorre ou acontecerá com ele. Ele precisa estar na consulta como o protagonista. Ah, se você não for neto ou sobrinho, nada de chamar pessoas de vó, vô, tio, tia. Respeite o paciente e o chame pelo nome. Isso é mais comum do que se imagina, principalmente quando a pessoa não está 100% lúcida", comenta a gerontopsiquiatra.

Se o respeito não pode faltar, informação é outra boa aliada nessas horas. Se você for levar algum amigo para fazer exames mais delicados, como colonoscopia, endoscopia ou outros que necessitem de anestesia ou mesmo preparo, o ideal é se informar sobre o procedimento.

"Pode ser que um exame que dure duas horas leve seis. A pessoa que aguarda na sala de espera tem que estar preparada e disponível. Sugiro ainda que este acompanhante não esquecer de levar seus medicamentos (caso faça uso), algo para comer (biscoito, barra de chocolate, cereal) e beber (água, suco). Dependendo do tipo de exame, não é possível sair. E, assim que terminar, siga as orientações do médico porque o paciente pode precisar de algum cuidado extra."

Muito ajuda quem não atrapalha

Casal em consulta médica; médico, medicina - Gety Images - Gety Images
Imagem: Gety Images

Quando alguém próximo fica doente, é normal as pessoas quererem dar força e esperança. Mas até nessa hora é preciso parcimônia. "Devemos ser positivos, sempre. Meu conselho é sair um pouco do assunto doença e utilizar outros instrumentos que possam ajudar a pessoa a se distrair e sentir alegria, como levar livros, revistas e filmes. Foque em conversas saudáveis que façam o paciente pensar em outras situações. Isso pode ser importante para a recuperação", recomenda a psicóloga Ana Gabriela.

Agora, ficar contando histórias de conhecidos que passaram pelo problema, não costuma ajudar. "É um clichê, mas cada paciente é um e a mesma doença atua de formas diferentes. Mesmo que o desfecho tenha sido positivo, não é o momento de fazer comparações. Busque mudar o foco", afirma a médica gerontopsiquiatra.

O conselho é sempre segurar a língua. "A pessoa que está passando por um problema de saúde acaba passando por alguma mudança física, como um emagrecimento, por exemplo. Não faça comentários enaltecendo, acreditando que é uma coisa boa e falar coisas do tipo: 'Ah, pelo menos você emagreceu'. Parece piada, mas tem gente que faz isso e deixa a outra pessoa pior do que ela já está. Perder peso por doença nunca é bom. Precisamos, sempre, de muita empatia e cuidado ao lidar com alguém que enfrenta uma doença", finaliza a enfermeira intensivista.

*Nome trocado a pedido do entrevistado.