'100 ovos por dia': por que fisiculturistas consomem tanto o alimento
Ainda que você não seja adepto das dietas ultraproteicas e dos treinos pesados na academia, é provável que, em algum momento, tenha sido impactado com notícias sobre a dieta de fisiculturistas como Gracyanne Barbosa e Fernando Torraca —que incluem de 40 a 100 ovos no cardápio todos os dias.
O alto consumo pode assustar e a quantidade não é considerada segura para a saúde cardíaca por entidades médicas, como a Associação Americana do Coração. Mas, do ponto de vista nutricional, faz sentido que o ovo seja tão querido por esses atletas, indica a nutricionista Elis Machado, graduada pela UFBA (Universidade Federal da Bahia).
"Quem pratica exercício físico buscando aumento significativo de massa muscular (hipertrofia) necessita de uma dieta rica em proteínas de alto valor biológico. O ovo, por ser mais barato, de fácil preparo, combinar com várias receitas e ser de fácil digestão, acaba sendo adotado na dieta deste público", explica.
O que um ovo contém?
Um ovo médio (60 g) tem aproximadamente 84 kcal e fornece:
- Proteínas (7 g): de alta qualidade, presentes na clara e na gema.
- Lipídios (5,5 g) : como a gordura saturada, colesterol, gorduras monoinsaturadas e polinsaturadas.
- Vitaminas: incluindo as vitaminas A, D, E e K, colina e vitaminas do complexo B. As vitaminas lipossolúveis e a colina estão presentes na gema. As vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina, cobalamina etc.) estão presentes na gema e na clara.
- Minerais: entre eles o ferro, selênio, fosforo, zinco, iodo, cobre, cálcio. A maioria está presente na gema do ovo.
- Fosfolipídios: essenciais para manter a integridade estrutural e funcional do sistema nervoso.
- Luteína e zeaxantina: carotenoides que estão associados à redução da degeneração macular relacionada à idade e do risco de desenvolver catarata.
Quanta proteína é preciso para ganhar músculos?
Segundo a colunista do VivaBem Paola Machado, fisiologista do exercício, mestre em ciências da saúde e doutora em nutrição pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em geral, devemos ingerir de 1,2 g a 2 g de proteína por quilo de peso, dependendo do nível diário de atividade física.
Então, uma pessoa que pesa 70 kg e malha pesado necessitaria de cerca de 140 g de proteína por dia. Essa quantidade do nutriente pode ser alcançada com uns 5 a 7 filés de frango, de peixe ou de carne bovina, por exemplo. Ou uns 20 ovos. Obviamente, você não precisa escolher só uma fonte de proteína: pode comer ovo e iogurte no café da manhã e lanches; e peixe, carne e frango no almoço e jantar, por exemplo.
Pensando em fisiculturistas, em algumas categorias os atletas pesam 100 kg ou mais. Eles precisam, então, de cerca de 200 g de proteína por dia —uns 10 a 12 filés de frango. Por isso, acabam preferindo o ovo, como falamos, uma proteína mais barata, fácil de mastigar e digerir e de preparar. No entanto, os tais 100 ovos por dia que vemos muitos comendo por aí são exagero. Eles forneceriam cerca de 700 g de proteínas, o suficiente para "abastecer" os músculos de alguém com 350 kg.
Quando o consumo de ovos pode ser considerado excessivo
O excesso do consumo de ovos, assim como de qualquer outro alimento, pode prejudicar o organismo.
Segundo a diretriz brasileira de dislipidemia e prevenção da aterosclerose, assim como o consenso Associação Americana do Coração, sugerem um consumo menor do que 300 mg de colesterol por dia para pessoas sadias, o que menos de 100 g de ovo já contém.
As quantidades ideais podem variar de acordo com as características específicas de cada pessoa, incluindo altura, peso, e hábitos de vida. "As recomendações podem ser diferentes para quem tem problemas cardíacos ou maior risco de desenvolvê-los, por exemplo", adverte Elis Machado, nutricionista formada pela UFBA.
"Vale lembrar que o que mais aumenta o LDL, conhecido por ser o colesterol "ruim", é a gordura saturada e não propriamente o colesterol presente nos alimentos. E o ovo é muito pobre nesse tipo de gordura em comparação com uma carne vermelha, por exemplo", explica Tatiana Pizzato Galdino, nutricionista clínica mestre pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ovo cozido é melhor do que cru
A ingestão de ovos crus aumenta o risco de contaminação por bactérias, especialmente as do gênero Salmonella. "São intoxicações alimentares bastante impertinentes, que causam febre, náusea, vômitos, desidratação, falta de apetite e diarreias bem intensas", esclarece Tatiana Pizzato Galdino.
O segundo motivo é o fato de que na clara de ovo crua há uma glicoproteína chamada de avidina, que bloqueia a absorção da biotina, que é uma vitamina do complexo B.
"Quando o ovo é consumido em sua forma crua, o organismo não consegue absorver toda a biotina que o alimento fornece. Isso acontece por conta da presença de uma proteína encontrada nas claras de ovos crus chamada de avidina que se liga à biotina, impedindo que a vitamina do complexo B seja absorvida pelo trato digestivo humano", explica Fernanda Mangabeira, nutricionista do Vera Cruz Hospital.
De acordo com Galdino, a biotina tem como função auxiliar na regulação dos níveis de glicose no sangue, participar da síntese de ácidos graxos e de aminoácidos. "Além disso, tem o papel de influenciar no fortalecimento de unhas e cabelos, já que está ligada à produção de queratina", aponta.
O ovo cozido, assim como mexido, também ganha da versão de preparo frita, já que incluirá menos calorias e menos gorduras na sua composição, tornando-se assim uma forma mais saudável de consumo.
"Mas vale sempre se atentar para a forma de preparo. Fazer ovos mexidos com ou leite no preparo, por exemplo, torna-o mais calórico. Já com um pouco de água em uma boa frigideira antiaderente, cada ovo mexido terá cerca de 100 calorias", afirma a nutricionista do Vera Cruz Hospital.
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