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Sempre dói? Pega no beijo? É hereditária? Veja 7 mitos sobre as cáries

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Paula Carvalho

Colaboração para VivaBem

23/09/2022 04h00

Dados epidemiológicos mundiais apontam que quase metade da população sofre algum tipo de problema relacionado à saúde bucal. Dentre eles, a cárie é a condição mais prevalente, afetando cerca de 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativas.

No Brasil, a situação não é divergente, sendo a cárie um dos principais problemas de saúde pública do país. A PNSB (Política Nacional de Saúde Bucal brasileira) tem como premissa basear suas ações na realidade epidemiológica do país e, para isso, são feitos levantamentos de forma frequente e contínua a cada 10 anos: o SB Brasil.

O SB Brasil visa identificar doenças mais prevalentes, como cárie, doenças periodontais, necessidade de próteses dentárias, condições de oclusão, traumatismo dentário e o impacto dessas doenças na qualidade de vida, entre outros aspectos.

Incidência de cáries

Em relação à cárie, grandes diversidades regionais e entre as capitais e os municípios do interior são percebidas em todas as idades.

Percentuais de pacientes com índice zero (ausência de dentes comprometidos) são sempre inferiores nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste quando comparados com os das regiões Sul e Sudeste.

A situação varia quando se compara os municípios do interior com as capitais em cada região. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, por exemplo, os percentuais de crianças e adolescentes livres de cárie são mais elevados nas capitais do que no interior, enquanto em adultos e idosos algumas capitais apresentam percentuais mais baixos do que os municípios do interior.

O último levantamento realizado foi o SB Brasil 2010, estando um SB Brasil 2020 em execução com atraso em virtude da pandemia.

Formação da cárie

A cárie não é uma doença apenas infecciosa (bactérias) e nem é transmissível. O conceito atual de cárie a define como uma doença biofilme-açúcar dependente. Biofilme dental (ou, simplificadamente, biofilme) caracteriza a forma organizada na qual as bactérias salivares aderem naturalmente às superfícies dentárias e se acumulam.

A cárie, portanto, é uma doença multifatorial e dinâmica e acontece quando há um desequilíbrio na troca de minerais entre os dentes e o meio bucal, prevalecendo a desmineralização. Esse desequilíbrio acontece associado a uma dieta frequente rica em açúcares e má higiene bucal.

Nesse cenário, a produção de ácidos pelo biofilme (bactérias) intensifica, causando mudanças no pH do meio bucal, favorecendo os episódios de desmineralização e a perda de minerais dos tecidos dentários.

Veja abaixo 7 mitos sobre as cáries:

  • Cárie é hereditária?

Não, não há nenhum fator hereditário associado ao aparecimento de cáries. Existem algumas doenças que podem alterar a composição dos dentes, levando à má-formação dentária e, em alguns casos torná-los mais suscetíveis ao acúmulo de biofilme.

Isso só será um problema se houver má higiene e dieta rica em açúcares, permitindo que a lesão se inicie.
Indivíduos com deficiências físicas ou mentais que apresentam dificuldades na limpeza dos dentes devem ser supervisionados durante a escovação. Portanto, independentemente de os dentes serem mais ou menos suscetíveis, o importante é que a limpeza dos dentes seja realizada de maneira adequada.

  • Crianças que tomam antibiótico têm os dentes mais fragilizados e, por isso, tem mais cárie

Criança no dentista, dente, dentes, flúor, cárie - Getty Images - Getty Images
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Na verdade, os antibióticos em suspensão (apresentação usada para crianças) têm sacarose em sua composição e é ela que pode estar associada à formação de lesões de cárie nos dentes de crianças que tomam antibiótico e cujas mães/pais não são orientados a escovar os dentes e remover o resíduo desse açúcar que pode ficar nos dentes da criança. Então, não é o antibiótico em si o responsável pelos agravos causados no dente e, sim, a sacarose adicionada na sua formulação.

  • Durante a gestação, os dentes da mãe ficam cariados porque o bebê rouba os minerais deles

Durante a gestação, as futuras mamães se alimentam, geralmente, com maior frequência e, muitas vezes, fazendo consumo de alimentos açucarados, o que pode aumentar a incidência de cárie nesse período, mas isso não tem nada a ver com perda de minerais para o bebê.

  • Cárie se transmite ao beijar

casal adolescente; jovens se beijando; beijo - iStock - iStock
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A cárie não é transmissível. As bactérias associadas à doença podem até ser transmitidas, mas como cárie é uma doença que depende de vários fatores, e não apenas de ter a bactéria presente, a doença em si não pode passar de um indivíduo para o outro e vai depender da aquisição ou manutenção de hábitos de dieta e higiene da criança.

  • Cárie sempre dói

A cárie pode se manifestar em diferentes graus de severidade, desde manchas até grandes destruições dentárias. Assim, muitas pessoas têm os sinais da cárie em suas manifestações mais iniciais (manchas) que geralmente não causam dor.

Essas manifestações mais iniciais são mais facilmente revertidas e podem nunca chegar ao estágio de cavitação se medidas preventivas, como uso de dentifrícios fluoretados e aplicação tópica de flúor são utilizadas, em associação com controle da higiene e da dieta.

Já nas fases mais avançadas, que estão mais frequentemente associadas a episódios de dor, além de tudo isso, tratamentos mais complexos, restauradores, podem ser necessários para auxiliar no controle das lesões de cárie.

  • Tratar cárie significa restaurar o dente

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Quando se tem uma lesão de cárie com formação de cavidade, parte da estrutura do dente é perdida e a restauração dentária (utilizando materiais odontológicos específicos para isso) é uma saída para evitar que essa lesão progrida (aumente) e piore.

A restauração também ajuda a devolver a estética e a função que podem ter sido perdidas. No entanto, isso não resolve o problema da doença.

A cárie, para ser controlada, depende de que os fatores que a causam sejam controlados. Assim sendo, mesmo restaurando o dente, se não houver controle da higiene, da dieta (consumo de açúcar) e uso de flúor, a doença continuará ocorrendo na cavidade bucal e outras lesões surgirão naquele mesmo dente ou em outros dentes da boca.

  • Só estou com cárie se estiver com cavidade?

Não. A cavidade (um buraquinho) de cárie não é o primeiro estágio da doença e, por isso, se faz tão importante a detecção precoce. A detecção precoce permite estratégias com o intuito de impedir a progressão para estágios mais avançados da doença (cavidade) permitindo assim que procedimentos menos invasivos sejam realizados nos seus dentes.

A identificação das lesões de cárie iniciais (manchas brancas que indicam descalcificação) pode ser feita através da visão direta dos dentes pelo dentista.

Muitas vezes o paciente só consegue detectar a doença num estágio mais avançado (cavidade) e quando os sintomas já começam a aparecer: dor quando mastigamos alimentos doces ou quando bebemos algo quente ou gelado, causando desconforto, mau hálito ou observamos o fio dental ficar preso ou esgarçado entre os dentes.

Técnica de escovação

escovar os dentes; escovando os dentes; mulher escovando os dentes - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A melhor técnica de escovação é aquela que o indivíduo consegue realizar, removendo a maior quantidade de biofilme, sem traumatizar os dentes e gengivas e isso deve ser feito após as principais refeições.

A técnica de escovação (e a pressão exercida) não deve traumatizar os tecidos, principalmente os moles, o que geraria possível recessão gengival.

Um outro fator importante é a frequência de escovação que, se excessiva, tem sido associada a maior incidência de recessões gengivais e lesões cervicais não cariosas. A duração da escovação deve ser suficiente para que seja efetiva.

A língua deve ser higienizada e o fio dental precisa ser usado, pois as bactérias presentes na boca instalam-se na camada dorsal da língua entre os dentes. O fio dental auxilia a remoção de resíduos alimentares de áreas onde a escova não alcança.

O dentista exerce um papel importante nessa função, pois pode orientar o paciente, aperfeiçoando ou corrigindo a escovação que ele já está habituado a fazer.

Fontes: Mariana Minatel Braga, professora de odontopediatria da USP (Universidade de São Paulo); Cecília Atem Gonçalves de Araújo Costa, professora de odontologia na área de dentística e materiais dentários da Unifor (Universidade de Fortaleza) e Flávio Pinheiro, cirurgião dentista, especialista em implantodontia e mestre em ciências cirúrgicas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

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