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Muita criança doente? SP, RJ e DF têm aumento de casos de gripe; entenda

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Imagem: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

De VivaBem, em São Paulo

23/09/2022 09h39

Depois de um surto atípico de gripe em dezembro de 2021, casos de influenza A voltaram a subir em alguns estados do Brasil nas últimas semanas, especialmente entre crianças e adolescentes. O cenário, segundo especialistas, é incomum nesta época do ano.

Levantamento realizado pela rede Dasa a pedido de VivaBem, considerando principalmente laboratórios nas praças de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mostra que os índices de positividade para influenza A aumentaram até 400% na primeira quinzena de setembro (20,24% de positivo), em comparação com os meses de julho (6,39%) e agosto (4,39%).

Na capital paulista, o aumento nas taxas de positividade foi de 300%, considerando os mesmos períodos. O índice era de 20,05% na primeira quinzena de setembro contra 6,29% em julho, e 5,05% em agosto. O Distrito Federal registrou o maior aumento na positividade para influenza A: passou de 1,22% em julho para 5,31% em agosto, alcançando 39,72% na primeira quinzena de setembro.

Amostras analisadas pelo laboratório Fleury, em São Paulo, também indicam que houve um crescimento nos casos da doença. "Tivemos um aumento expressivo nas últimas duas, três semanas. Para se ter uma ideia, há três semanas estávamos com 45 casos de influenza A por semana. Agora, estamos detectando 673 casos por semana, um aumento de 15 vezes", afirma Celso Granato, diretor do grupo.

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Casos de Influenza A voltaram a subir em alguns estados do Brasil nas últimas semanas, especialmente entre crianças e adolescentes
Imagem: iStock

De acordo com Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, responsável pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sabará Infantil (SP), após o surto de influenza A registrado no país no final de 2021 e início deste ano, o número de casos da doença se manteve relativamente baixo ao longo dos meses, inclusive entre julho e agosto, quando é esperado que o vírus se manifeste com mais força.

"O que a gente observou esse ano é que o influenza apareceu um pouquinho mais tardiamente, então está terminando o inverno e ainda estamos num momento em que não se alcançou um platô [estabilidade]", diz o infectologista. No Sabará, um terço de todos os testes para detecção de influenza realizados na última semana (semana epidemiológica 37) foram positivos para o vírus, segundo o médico.

As principais queixas das crianças atendidas na unidade são tosse, febre e congestão nasal. Na maioria dos casos, os pacientes são atendidos no pronto-socorro, diagnosticados e liberados para casa. São menos frequentes os casos que precisam de hospitalização.

Boletim InfoGripe da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgado na quarta-feira (21) mostra queda nos casos de internação SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) nas tendências de longo (últimas seis semanas) e curto prazo (últimas três semanas).

Por outro lado, também constata um aumento no número de casos associados à influenza A, em especial em crianças e adolescentes. O subtipo predominante é o influenza A H3N2, o mesmo que causou o surto de gripe no ano passado.

O que explica o aumento de infecções fora de época?

O médico pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, que é secretário do Departamento de Imunizações da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo), explica que não existe um motivo exato para a quebra da sazonalidade da influenza. Em razão do uso de máscara e distanciamento social impulsionados pela pandemia de covid-19, houve uma diminuição significativa na circulação de vírus respiratórios.

Desde que os cuidados foram reduzidos, no entanto, os vírus estão circulando em estações do ano atípicas para o seu comportamento. Isso, diz o especialista, possivelmente ocorre porque os patógenos competem entre si e, a partir do momento em que o Sars-CoV-2 (causador da covid-19) não é mais predominante, outros agentes infecciosos passariam a "tomar a frente" —como o influenza A, por exemplo.

vacina - Tomaz Silva/Agência Brasil - Tomaz Silva/Agência Brasil
Baixa cobertura vacinal contra a gripe no país é um dos principais fatores por trás de aumento de casos de infecção, segundo especialistas
Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

O clima frio e seco, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, é outro fator que favorece a circulação de vírus, já que as pessoas costumam passar mais tempo em lugares com pouca ventilação durante o inverno.

Mas o fator de maior peso parece ser outro: a baixa cobertura vacinal contra a gripe no país. "Muitos pais e crianças, por exemplo, não receberam a vacinação neste ano porque foram infectados em dezembro de 2021 e entenderam que, por isso, estariam imunes, mas não estão. É necessário atualizar a vacina da gripe todo ano", destaca Jarovsky.

A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção contra a gripe e suas complicações. A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) recomendam que o imunizante seja aplicado em qualquer faixa etária acima de seis meses. A vacina é oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e pela rede privada desde março deste ano.

"Tem um componente Darwin [do subtipo H3N2] na vacina que temos agora, que não existia na versão do ano anterior. Então, se todo mundo estivesse vacinado, com certeza a gente não teria esse surto", avalia o virologista José Eduardo Levi, da Dasa.

Como a duração da imunidade conferida pela vacina contra a gripe é curta —dura, no máximo, seis meses—, a SBIm também passou a recomendar uma segunda dose anual, mas somente para grupos considerados de maior risco para desfechos mais graves da doença, como idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos.

No geral, quem já recebeu o imunizante neste ano não precisa de um reforço. Já quem só tomou a vacina no ano passado deve procurar receber a dose.

E os adenovírus?

O influenza A não é o único vírus que circulou fora da sazonalidade habitual após a pandemia. "Entre o final de julho e agosto, por exemplo, também tivemos uma circulação de adenovírus muito significativa", conta Daniel Jarovsky, que também é médico assistente em pediatria e infectologia pediátrica na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

adenovírus - iStock - iStock
Modelo molecular do adenovírus, um grupo de vírus que causam doenças respiratórias
Imagem: iStock

Adenovírus são um grupo de vírus que causam doenças respiratórias, como um resfriado comum. Sintomas frequentes da infecção incluem coriza, espirro e febre leve. Um dos subtipos do vírus também pode causar conjuntivite (inflamação na membrana transparente e fina que reveste o "branco dos olhos").

Antes do aumento de casos de influenza A, o Hospital Sabará Infantil, por exemplo, também registrou um aumento nos casos de adenovírus e rinovírus. "Influenza, adenovírus e rinovírus são o top 3 das causas de infecção respiratória, sendo que o influenza ultrapassou os outros dois nas últimas semanas", diz Francisco Ivanildo de Oliveira.

No Hospital Pequeno Príncipe, referência nacional no tratamento pediátrico, situado em Curitiba, os casos de adenovírus continuam em alta: entre as crianças internadas com SRAG, 17 delas testaram positivo para o vírus em agosto e 16 até quarta-feira (21). Apenas três delas estavam com adenovírus em janeiro deste ano.

Na unidade, os casos de internações associadas ao influenza atingiram o pico em julho, com 29 registros, mas a tendência atual é de queda. Em agosto, havia 13 casos; agora, são 6. Segundo Victor Horácio, vice-diretor técnico do hospital, os cinco vírus com incidência maior na unidade neste momento são os adenovírus, rinovírus, influenza e vírus sincicial respiratório.

O que deve acontecer nas próximas semanas?

Para José Eduardo Levi, virologista da Dasa, a expectativa é de que o aumento de casos de influenza registrado em algumas regiões do país diminua significativamente daqui cerca de duas semanas, como aconteceu com o surto de dezembro no ano passado. "Mas esses surtos de viroses são imprevisíveis. Quando isso [a circulação dos vírus] vai voltar a ser regular, não sabemos", diz.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informou que, entre 22 de maio e 25 de junho, foram registrados 747 surtos de síndrome gripal por agentes etiológicos diversos, incluindo o vírus influenza, em escolas da cidade. Entre os dias 26 de junho a 10 de setembro, no entanto, foram registrados 104 surtos. Portanto, afirma o órgão, "os casos de SG (síndrome gripal) são monitorados e seguem em queda".

Além da vacinação —no caso da influenza—, a higienização frequente das mãos e o uso de máscaras em ambientes fechados são recomendações dos especialistas para reduzir o risco de infecção por vírus respiratórios. Crianças com sintomas gripais também não devem ir para a escola até que haja uma melhora no quadro, o que geralmente leva de cinco a sete dias.