Viih Tube diz que engravidou ao trocar anticoncepcional. Isso é possível?
A influenciadora digital e ex-BBB Viih Tube, que anunciou estar grávida esta semana, disse acreditar que engravidou durante a troca da pílula anticoncepcional. Médicos explicam que há risco de gravidez caso essa mudança não seja feita de forma correta, com orientação médica, mas ponderam que a chance de ficar grávida é maior por falhas no uso da pílula — e não pela troca em si.
Para Carlos Alberto Politano, membro da comissão nacional especializada em anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), é preciso, antes, observar que há dois tipos de uso de anticoncepcionais: o perfeito e o típico.
O uso perfeito é aquele sem falha humana, quando ocorre exatamente como foi prescrito. Já o uso típico é como o método funciona na vida real, em que é possível esquecer de tomar ou errar na colocação da barreira. Métodos como anel vaginal, adesivo e pílula dependem mais da mulher e são considerados "esquecíveis".
"O DIU e o implante hormonal são métodos de longa duração mais eficazes, que não dependem da mulher para o uso. Enquanto a pílula pode falhar porque se esqueceu de tomar ou passou muito do horário ou teve vômito até quatro horas depois de ingerir, por exemplo."
Com uso perfeito de uma pílula combinada de progestagênio, uma das substâncias mais usadas para inibir a gravidez, o risco de gravidez é de 0,3% — o número sobe para 8% no uso típico.
E, se a paciente não fizer a mudança correta entre um método e outro, com orientação médica, também há risco.
"Se parar uma pílula que tem progestagênio, cuja vida média é de 48 horas, tem essa janela de segurança para começar a outra. Mas há aquelas cuja vida média é de apenas 11 horas. Se esperar dois dias para começar a cartela da troca, corre o risco de engravidar."
Para o especialista, é preciso buscar um médico para orientar a troca. "Não é a mudança do método que aumenta o risco de gravidez, é a não adequação da mudança de um método para outro", explica.
"Toda vez que for trocar de método, é preciso procurar um médico para orientar adequadamente como fazer isso porque cada um tem seu tempo de eficácia para início da contracepção, para saber quando pode ter relação sem preocupação. Por isso sempre indicamos o uso do preservativo associado para prevenir a gravidez."
Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, lembra ainda que, independentemente da pílula que estiver usando ou qual passará a usar, o ideal é que a mudança seja feita sem interrupção na ingestão do contraceptivo.
"Quando se faz uso de uma e vai mudar para outra, qualquer que seja dentro do grupo de anticoncepcionais orais, a orientação é começar a nova pílula no dia seguinte de ter tomado a última pílula do tipo anterior. Ou seja, se hoje você tomou a pílula x, amanhã toma a y", explica.
Um cuidado maior, segundo ele, deve ser tomado com as pílulas anticoncepcionais de uso contínuo, que contêm comprimidos de placebo na cartela.
"Esse tipo é usado geralmente para criar o hábito nas mulheres e evitar o esquecimento, mas é importante observar que se deve iniciar o novo tipo de pílula logo após ter tomado o último comprimido da cartela anterior que tinha hormônio, senão corre o risco de uma gravidez indesejada. Essas orientações devem ser repassadas pelo médico."
Alexandre Pupo diz que pode ter havido falha da influenciadora em relação ao tempo em que terminou uma cartela e iniciou a outra do novo tipo.
"É possível que tenha sido uma janela, em que ela tenha postergado a troca de uma pílula para a nova e que tenha se esquecido de tomar. Se é feito o uso ideal, a probabilidade de uma gravidez indesejada é muito baixa."
O médico reforça que nenhum método é totalmente eficaz, as pílulas anticoncepcionais tendem a dificultar a gravidez, mas não há garantia de proteção 100%.
"O método mais eficaz é não namorar, mas, em um cenário de vida sexual ativa, há contraceptivos mais potentes, como os dispositivos intrauterinos, implantes de hormônio à base de progesterona. Para esses, não há a possibilidade de esquecimento e eles têm uma eficácia de 99,5%."
O ginecologista Luis Bahamondes, professor do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp), reforça ainda que "sempre é possível engravidar tomando pílula" e isso pode ter ocorrido por falha no uso do método. "Se trocou e engravidou não tem a ver com o fato de trocar, deve ter sido porque falhou no método ou porque esqueceu, teve vômitos e não absorveu a medicação."
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