Ciprofibrato reduz triglicerídeos e colesterol, mas com dieta e exercício
Disponível no mercado desde a década de 1980, o ciprofibrato é considerado um medicamento essencial para combater taxas altas de gordura no sangue e em alguns casos de aumento do colesterol.
O que é ciprofibrato?
Trata-se de um fármaco classificado como agente redutor de lipídios (gorduras) de largo espectro —classe de medicações considerada atualmente a mais importante para o controle de doenças relacionadas.
Dadas as suas características, ele só deve ser utilizado sob receita médica e orientação de profissionais da área da saúde (médicos, farmacêuticos ou dentistas).
Em quais situações o ciprofibrato deve ser usado?
O fármaco é utilizado há cerca de 40 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.
Definido como complementar de estratégias de tratamento não farmacológicas (mudanças de hábitos de vida como adoção de dieta adequada e prática de exercícios físicos), o ciprofibrato é indicado nas seguintes condições:
- Elevação da gordura no sangue (hipertrigliceridemia);
- Aumento de colesterol no sangue (hiperlipidemia mista, quando outras terapias não são toleradas ou são contraindicadas.
A literatura sobre esse medicamento esclarece que ele também tem sido usado no tratamento da colangite biliar, enfermidade caracterizada pela inflamação e infecção das vias biliares. Como esta indicação não consta da bula, ela é chamada de off-label.
Entenda como ele funciona
Ao ser tomado, o medicamento é rapidamente absorvido e espera-se que, no período de 1 a 4 horas, ele já alcance a sua máxima concentração na corrente sanguínea. O efeito esperado é o aumento da decomposição de lipídios e a aceleração da remoção do colesterol do sangue (VLDL).
É assim que o ciprofibrato promove a redução das taxas elevadas das gorduras do sangue (colesterol, triglicerídeos) e ainda aumenta o nível do colesterol bom (HDL). Após cumprir esta ação, a medicação é excretada pela urina. As explicações são de Adriano Falvo, farmacêutico especialista em farmacologia e secretário-geral do CRF-SP.
O primeiro monitoramento dos efeitos da medicação geralmente é feito após 4, 8 e até 12 semanas do início do tratamento.
Há algum risco do uso prolongado desse medicamento?
De acordo com a endocrinologista Luisa Abero Vale, do HU-UFPI, de modo geral, essa classe de fármacos é segura e bem tolerada e, a princípio, não precisará ser usada de forma crônica, ou seja, para o resto da vida.
A razão para isso é que seus efeitos são potencializados com a mudança de hábitos de vida, como dar preferência a alimentos saudáveis e praticar exercícios. Uma vez alcançado o objetivo do tratamento, o medicamento poderá ser retirado", diz a especialista.
Conheça as apresentações disponíveis
Oroxadin® é a marca de referência do ciprofibrato. Mas você pode encontrar as versões genéricas e similares.
Como ele é considerado um medicamento essencial e consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), ele pode ser obtido nas farmácias do SUS, bastando apresentar a receita médica.
Ele está disponível em comprimidos de 100 mg.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Além de ser considerado seguro e eficaz, o ciprofibrato é útil no tratamento de quadros graves de hipertrigliceridemia, e em alguns casos de colesterol alto. Os seus efeitos evitam complicações como a pancreatite, e ainda pode ser indicado em associação a outros medicamentos entre pacientes com risco para eventos como AVC (Acidente Vascular Cerebral), infarto e óbito.
Somada a alguns efeitos colaterais indesejáveis, a desvantagem mais importante é que nem todos os pacientes com esses diagnósticos terão indicação para este medicamento, principalmente porque seu uso, de forma isolada, não provou beneficiar a maioria deles.
Saiba quais são as contraindicações
De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual o ciprofibrato pertence é considerado seguro, mas existem algumas contraindicações.
Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições —algumas delas representam apenas a necessidade de maior cuidado:
- Gravidez
- Amamentação
- Presença de doenças hepáticas, na vesícula ou renais
- Uso concomitante de outro tipo de fibrato
- Hipotireoidismo
- Pacientes pediátricos
Crianças e idosos podem usá-lo?
O uso deste medicamento na população pediátrica não é recomendado porque, até o momento, não existem estudos de segurança para este grupo. Já entre os idosos, a indicação é bastante frequente, mas é preciso estar atento a quadros como doenças preexistentes e o uso de outros medicamentos.
Pacientes com idade superior a 70 anos podem estar mais expostos a efeitos colaterais como miopatias, ou seja, doenças musculares. Daí a importância de acompanhamento constante.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar ciprofibrato?
O potencial risco do uso desse medicamento para gestantes é desconhecido. Portanto, ele só deve ser utilizado durante esse período a critério médico, que deverá avaliar a relação entre os riscos e benefícios para a gestante e seu bebê.
O mesmo se aplica para quem deseja amamentar. Até o momento, não existem dados sobre a possível excreção do ciprofibrato no leite materno.
Qual é a melhor forma de consumi-lo?
O medicamento deve ser administrado por meio de dose única, nos mesmos horários todos os dias. Evite aumentar ou reduzir as doses prescritas pelos especialistas, assim como o tempo de tratamento.
A absorção do medicamento não é afetada pelo consumo de alimentos. Prefira ingerir o comprimido inteiro com água em abundância, evitando parti-lo para facilitar a deglutição.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. O importante é que o ciprofibrato seja utilizado na forma indicada pelo médico e/ou orientada pelo farmacêutico.
"Embora se saiba que a produção endógena [no interior do organismo] do colesterol se dá durante a noite, não existe diferença de ação do ciprofibrato pelo horário", fala a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP e professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP).
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são:
- Dor de cabeça
- Constipação
- Diarreia
- Tontura
- Dor de estômago
- Dor muscular
- Queda de cabelo
- Erupção cutânea
Caso note algum outro sintoma que se prolonga no tempo, informe o médico e/ou farmacêutico.
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com o ciprofibrato. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:
- Outros tipos de fibratos (como o bezafibrato, etc.)
- Anticoagulantes (varfarina, dicumarol)
- Antidiabético (glipizida)
- Hormônios femininos (estrógeno)
Embora não existam muitos dados na literatura médica sobre a interação com suplementos, antes de iniciar o tratamento com o fármaco, informe ao médico ou ao farmacêutico sobre eventual uso desse tipo de produto.
Interação com o álcool
Embora não exista contraindicação para o consumo de álcool, é importante lembrar que esse medicamento deve sempre ser acompanhado de mudanças no estilo de vida, o que inclui a adoção de dieta saudável e prática de exercícios físicos.
Assim, ingerir bebidas alcoólicas deve ser ocasional e sem exageros, principalmente porque a prática está relacionada ao aumento do triglicérides. Converse com seu médico para saber se mesmo esse consumo eventual pode atrapalhar os objetivos do seu tratamento.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
- Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
- No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
- Respeite o limite da dosagem indicada;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Adriano Falvo, farmacêutico especialista em farmacologia e secretário geral do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo) e docente dos cursos de graduação e pós-graduação da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP; Luisa Abero Vale, médica endocrinologista, integrante do corpo clínico do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Singh G, Correa R. Fibrate Medications. [Atualizado em 2022 Mai 22]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK547756/.
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