Interpretou errado mensagem de alguém? No digital, captar o outro é difícil
Mensagens de texto trocadas entre humanos não são novidade, apenas evoluíram. Das placas de pedras talhadas e papiros da Antiguidade vieram as cartas, depois os e-mails, SMS e agora o "zap-zap". E, igualmente, os problemas de comunicação acompanharam. Prova disso é o que acorreu com a bióloga Milena Castagneto, 29, de São Paulo, ao se comunicar com uma amiga.
"Certa vez, combinamos de ir a um parque, cheguei primeiro que ela e enviei uma mensagem pelo celular dizendo 'Estou aqui. Criaturas do Pântano', pois sabia que ela estaria com outro amigo nosso e juntos nos divertiríamos. Só que ela entendeu errado, achou que eu estivesse em uma exposição sobre animais e saiu perguntando para os seguranças do parque onde era", conta Milena.
Milena diz que até hoje o trio dá risada ao relembrar o episódio e que desde então sua amiga lhe marca, por brincadeira, em publicações nas redes sociais sobre frases com duplo sentido, pois, por pressa, Milena também esquece, às vezes, de respeitar a ortografia. "Sobretudo, no que compete às vírgulas, mas dá para se conhecer e entender por conversas virtuais", opina.
Por dentro do "internetês"
O sucesso em ser compreendido e compreender o outro também depende muito do quanto se domina as regrinhas e os significados de conversação na internet. Se a pessoa digita em letras maiúsculas, por exemplo, a impressão é de que está brava, falando alto, ou quer atenção. Abreviar palavras, de que gosta de usar gírias, está sem tempo ou até num dia não muito bom.
"Às vezes, quando minha mãe me responde com abreviações ou poucas palavras, acho que está meio ríspida. Daí pergunto a ela e descubro que só está ocupada", exemplifica Milena, complementada pela mãe, Selma, 60: "Recorro às siglas e aos emojis porque trabalho muito, preciso ser rápida, mas, mesmo digitando tudo direitinho, ocorrem falhas de comunicação".
Por esses motivos, Selma continua que, em vez de enviar mensagens de texto, tem preferido gravar áudios. "Facilita a compreensão e evita falsas interpretações e desentendimentos. Mas atenção se for acelerar a reprodução das gravações, pois acaba distorcendo a forma real de falar, ser e estar", adverte Mariana Alves, psicóloga pela UFC (Universidade Federal do Ceará).
É possível decifrar alguém por mensagem?
Linguagem verbal não é só falada. Então, de acordo com especialistas, há possibilidade, sim, de obter pistas sobre alguém por meio de sua escrita. Por exemplo, se é, ou não, extrovertido, atencioso, apressado, perfeccionista, formal etc. Existe até um estudo da personalidade por meio da escrita à mão, a grafologia, que pode ser aplicada em diversas áreas, como a forense.
Contornos, espaços, tamanhos de letras representariam experiências, traumas, características individuais. "Porém, no meio digital, sobretudo no WhatsApp, é mais difícil reconhecer tudo isso e traçar a personalidade de alguém", afirma Yuri Busin, psicólogo pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e doutor em neurociência do comportamento.
Para ele, seria mais fácil perceber intenções, como a de querer manter contato, ser lembrado, agir com carinho. Milena, que é casada, diz que enquanto conhecia seu marido, à época um namorado virtual, recebia dele todo dia pelo celular algum dizer ou figurinha. "Mas, à medida que a interação se intensificou, é que descobrimos interesses, afinidades e particularidades".
Mais transparência e educação
De acordo com Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA), em uma troca de mensagens ainda é preciso ser o mais natural possível. Milena conta que sempre buscou agir assim com o até então namorado para que ele, à distância, não se frustrasse ao conhecê-la pessoalmente ou cansasse de conversar quando não pudessem se ver por vídeo.
"Quando envolve sentimentos e busca-se expor isso ao outro por escrita é preciso cuidado, para não ser compreendido errado, gerar idealizações, pressões e até ser vítima de golpes. Sendo um relacionamento confiável, é necessário transparecer o jeito de ser, sem querer impressionar e explicar quando o humor não estiver dos melhores", comenta a psicóloga.
Para Yuri Busin, tomadas as devidas precauções, relacionamentos que se baseiam por texto podem funcionar de suporte, em especial àqueles com dificuldade, ou que não se sentem tão à vontade, para interagir socialmente fora da internet. Representam igualmente um começo, abertura para um diálogo maior. "Por isso, acho válido, ao receber que seja um 'bom dia', responder de volta. É um gesto educado, como quando se entra num elevador", conclui.
Instale o app de VivaBem em seu celular
Com o nosso aplicativo, você recebe notificações das principais reportagens publicadas em VivaBem e acessa dicas de alimentação, saúde e bem-estar. O app está disponível para Android e iOS. Instale-o agora em seu celular e tenha na palma da mão muitas informações para viver mais e melhor!
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.