Autoexame contra câncer de mama? 64% creem que é melhor maneira, mas não é
Começa outubro e também chega ele, o Outubro Rosa, campanha mundial de conscientização sobre o câncer de mama, o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma, e também o tipo de tumor o que mais mata mulheres.
Apesar de já ter mais de uma década que o Ministério da Saúde e o Inca (Instituto Nacional do Câncer) deixaram de indicar o autoexame das mamas como método de rastreamento para este tipo de tumor, ainda hoje é comum nos depararmos com a recomendação de que apalpar os seios e a região da axila em um certo momento do mês é importante para descobrir precocemente um tumor. Mas não é.
Uma pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) com 1.397 mulheres, a pedido da farmacêutica Pfizer, e divulgada esta semana, aponta que 64% das mulheres acreditam que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama em seu estágio inicial.
Na maioria dos casos, ao apalpar os seios é muito difícil realizar um diagnóstico precoce. Isto é: identificar pequenos caroços (com cerca de 1 cm) ou que ainda estejam restritos ao ducto mamário —estrutura que carrega o leite durante a amamentação. Com o autoexame, geralmente a mulher só encontra tumores com mais de 2 cm, o que significa que o câncer já pode estar em um nível avançado.
Foram entrevistadas mulheres de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.
Além da confusão em torno do papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia, que pode detectar tumores menores que 1 cm.
Para 54% das respondentes, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38% acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não sabem opinar.
Mas 51% das respondentes da pesquisa não estão cientes da importância dessa regularidade: 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.
O levantamento também aponta que 33% das mulheres ouvidas não têm informações adequadas sobre a relação entre a idade e o câncer de mama: 10% nada sabem ou preferem não opinar a esse respeito, enquanto 8% acreditam que aquelas com 40 anos ou menos não precisam se preocupar com a doença e 13% estão convencidas de que as mulheres devem iniciar os exames de rastreamento apenas quando entram na menopausa.
Fatores de risco
A pesquisa evidencia que o desconhecimento sobre o câncer de mama entre as mulheres ouvidas vai além da falta de informação sobre a conduta adequada para a detecção precoce. A maior parte ignora a relação entre o estilo de vida e a doença: 58% das mulheres não associam o excesso de peso como um fator de risco, enquanto 74% não identificam a relação com o consumo de bebidas alcoólicas.
Por outro lado, a herança genética é o fator mais apontado pelas entrevistadas quando perguntadas sobre as causas do câncer de mama: 82% estão convencidas de que a existência de outros casos do tumor na família seria o principal motivo para o desenvolvimento da doença. A literatura médica, contudo, aponta que apenas 5% a 10% do total de casos estão associados a esse elemento.
As participantes da pesquisa desconhecem, por exemplo, a relação entre comportamentos associados à mulher moderna e o câncer de mama: apenas 17% estão cientes de que não ter filhos biológicos aumenta o risco para a doença e muitas ignoram o efeito protetor da amamentação, como é o caso de 55% das entrevistadas de Porto Alegre e de 54% das paulistanas.
Elementos ligados ao perfil reprodutivo das mulheres também compõem o leque de fatores de risco para o câncer de mama, como a menopausa tardia (após os 55 anos), mas apenas 13% das respondentes conhecem essa informação. Além disso, somente 8% estão cientes de que ter a primeira menstruação antes dos 12 anos também contribui para elevar esse risco.
Ah, os mitos...
Alguns mitos ligados ao tema ainda se mostram presentes na população estudada: 8% das mulheres que responderam à pesquisa atribuem o câncer de mama a causas divinas, alegando que a doença teria aparecido porque "estava nos planos de Deus".
Além disso, 6% das mulheres que acreditam que o tumor teria relação com a possibilidade de a mulher "não ter perdoado alguém", acumulando mágoa.
Entre as mulheres mais jovens, algumas fake news recorrentes sobre o tema aparecem: na faixa que abrange entrevistadas de 20 a 29 anos, por exemplo, 47% não estão convencidas de que o tipo de sutiã usado não impacta no risco de te câncer de mama: 11% acreditam que os modelos com bojo elevam esse risco e 36% não sabem opinar sobre o assunto.
Considerando todas as faixas etárias, tanto em Porto Alegre quanto em Belém, apenas 59% das entrevistadas estão cientes de que a relação com essa peça de roupa é falsa.
Pandemia
Os dados da pesquisa indicam que o cenário pandêmico continua a impactar o cuidado com a saúde feminina. Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.
Apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses. Aproveite o mês de outubro, em que muito se fala sobre saúde da mulher, e vá ao médico para ver como a anda a sua saúde.
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