Por que os seres humanos gostam de beijar? E os animais?
Beijar é bom, mas dá trabalho. Mesmo que estejamos mais preocupados com outras coisas na hora do beijo, durante este ato nosso organismo interpreta uma quantidade enorme de informações, enquanto bilhões de pequenas conexões nervosas distribuem sinais que nos ajudam a determinar os próximos passos, quando os lábios já não estarão mais tão perto um do outro.
Os impulsos neurais entre o cérebro e a língua, os músculos do rosto, os lábios e a pele, por exemplo, produzem neurotransmissores que influenciam os nossos sentimentos. Um beijo pode nos levar a alcançar um êxtase que, talvez, nada mais provoque.
Mas nem sempre os beijos são apaixonados. Existem beijos familiares, amistosos, formais... Há aqueles que refletem costumes ou uma hierarquia social. E cada sociedade tem um jeito diferente de expressar suas emoções por meio do beijo, um comportamento intrínseco ao ser humano.
Há teorias que reportam a origem do beijo a uma extensão do ato de cuidado da mãe ao alimentar seus filhotes, oferecendo, além de comida, conforto e segurança aos bebês. Outras teorias sugerem que o beijo tem a ver com uma atração natural a cores rosadas, como as cores dos lábios de outras pessoas.
Alguns pesquisadores acreditam que beijos de cumprimentos sociais são extensões mais complexas do ato de "farejar" pessoas que não conhecemos direito. E há estudos que fazem uma relação íntima entres atos de beijar e comer: afinal, uma das primeiras e mais cruciais formas de contato com o mundo externo é o ato de sugar o leite materno. Para esses especialistas, somos biologicamente predispostos a beijar.
Para além do beijo, as terminações nervosas nos lábios e na boca são fundamentais para nossa sobrevivência. Se algo tem gosto ruim, não comemos, pois pode ser perigoso para a nossa saúde. E se algo é gostoso, sentimos satisfação em comer. A boca seria, portanto, uma ferramenta de busca do prazer.
De qualquer forma, o beijo é um exemplo perfeito de como natureza e cultura podem se complementar para criar comportamentos. Um dos primeiros a teorizar sobre isso foi o naturalista Charles Darwin. Ao observar sociedades ao redor do mundo, durante sua viagem a bordo do navio H.M.S. Beagle, ele escreveu que humanos poderiam ter um instinto beijoqueiro, mas ressaltou que os beijos são claramente influenciados por culturas e experiências pessoais.
Jeremy Button, colega de Darwin, refutou a teoria dizendo que a prática do beijo era desconhecida em algumas regiões, como Nova Zelândia, Taiti, Papua-Nova Guiné e Austrália. Darwin foi atrás de evidências e conseguiu provar que, se o beijo não ocorre em algumas comunidades, é porque ele não é culturalmente cultivado. Apoiando-se na amamentação, ele concluiu que sugar o leite é algo comum ao mundo inteiro. Se o bebê deixa de beijar ao crescer, é porque o ato não é estimulado por estas comunidades.
E os animais?
Há espécies que apresentam um comportamento parecido com o beijo, mas cientistas tendem a ser cuidadosos na comparação. Afinal, não se pode antropomorfizar um comportamento na tentativa de entender as emoções dos animais —que podem ser bem diferentes das dos humanos.
Ao observar pássaros alimentando seus filhotes, leões se mordendo, cães lambendo uns aos outros, por exemplo, é justo dizer que eles estão expressando afeição, hierarquia social, ou até mesmo conflito. Cientistas preferem crer que estes comportamentos funcionam como uma pista de que o beijo humano é baseado em instintos básicos de reprodução e sobrevivência que existem no reino animal.
Fontes: Sheril Kirshenbaum, autora do livro "The Science of Kissing: What Our Lips Are Telling Us" (sem edição em português) e pesquisadora na Universidade do Texas, EUA e Thiago de Almeida, psicólogo doutorando pelo Departamento de Psicologia de Aprendizagem e Desenvolvimento Humano da USP (Universidade de São Paulo).
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