Câncer de mama: 'Percebi seio maior e mamilo retraído, mas não tinha dor'
Aos 44 anos, a dona de casa Renilda Sena, 45, foi diagnosticada com câncer de mama. Desde então, ela tem feito o tratamento que já incluiu uma mastectomia radical, 8 sessões de quimioterapia, 15 de radioterapia e medicação oral. Sem a mama direita, que ainda não foi reconstruída, ela sentiu alguns medos em meio ao processo envolvendo sua autoestima e casamento. Com o tempo, ela entendeu que precisava se aceitar, se amar e se valorizar do jeito que estava. A seguir, ela compartilha sua história:
"Desde os 28 anos fazia um check-up periódico sempre que possível após descobrir um nódulo benigno na mama direita. Não fazia os exames todos os anos, mas procurava manter um estilo de vida saudável, praticava atletismo, tinha uma alimentação regrada e estava sempre me cuidando.
Em 2021, aos 44 anos, porém, notei algumas mudanças no meu corpo. Percebi que minha mama direita estava visivelmente maior que a esquerda, e que o mamilo estava retraído e na posição diagonal. Não sentia dores, nem nada ao fazer o exame de toque.
Achei suspeita essas alterações, procurei uma clínica particular e disse que queria fazer uma mamografia e uma ecografia mamária. Ao abrir os resultados, li uma sigla denominada BI-RADS IV. Procurei na internet o significado e vi que é um sistema que tem uma classificação, de 0 a 6, que estima a chance da imagem da mamografia ser um câncer —a minha classificação era IV, ou seja, 4.
Fui à UPA perto da minha casa e consegui atendimento pelo SUS. A médica viu o resultado, não me deu nenhum diagnóstico, mas me encaminhou com urgência para um mastologista. Ao passar com o especialista, ele me examinou e me mostrou vários caroços (linfonodos) que eu tinha na axila direita, e que eu nunca tinha reparado.
O médico não falou nada, mas pelo olhar dele quando viu meus seios, tinha certeza que estava com câncer de mama.
Nessa mesma consulta, o mastologista fez uma biópsia, encaminhou para análise e me passou alguns exames pré-operatórios. Um mês depois, saiu o resultado da biópsia.
Abri, mas fiz uma leitura e interpretação errada do laudo e achei que não estava com câncer. Levei o exame para o médico animada e falando que não estava doente, mas ele disse que eu estava sim com câncer de mama e que seria submetida a uma mastectomia radical da mama direita com esvaziamento das axilas.
Ainda tentei rebater a informação dele com base no que tinha lido, mas ele me explicou tudo da maneira correta.
Minha primeira reação ao ouvir a palavra câncer foi achar que ia morrer, lembrei do meu irmão que faleceu aos 37 anos de um câncer no estômago.
Senti um misto de emoções, medo, dúvida, angústia, paz. No começo não contei nada para ninguém, já estava tão atormentada com meus questionamentos e pensamentos, que se contasse para alguém naquele momento, ia ficar ainda mais aflita.
Um pouco antes de fazer a cirurgia, dei a notícia para a minha família e amigos. A pedido dos meus pais, busquei a segunda opinião de um mastologista, mas ele confirmou as informações do primeiro médico.
Em outubro de 2021, fiz a retirada da mama direita, do mamilo e de 26 linfonodos da axila direita. Não fiz a reconstrução imediata, mas o médico colocou um extensor de pele que dá volume ao seio.
'Fiquei com a autoestima baixa e me senti inferior'
Ser mutilada mexeu muito com a minha autoestima, autoconfiança e fez eu me sentir inferior em relação às outras mulheres. Era muito difícil me ver e me reconhecer na frente do espelho.
No início, isso impactou a vida sexual com meu marido, tinha algumas inseguranças, medo que ele me deixasse, fiquei mais ciumenta e achava que ele me traía, mas era tudo coisa da minha cabeça. Meu marido sempre foi presente, carinhoso e me deu todo apoio.
Demorei um tempo até entender que, primeiramente, precisava me aceitar, me amar e me valorizar do jeito que estava e não ficar buscando a aprovação dos outros. Por várias vezes, a depressão quis me pegar, tive momentos de choro e tristeza, mas me apeguei à fé e à paz de Deus para conseguir lidar com a situação da melhor forma possível.
Em janeiro de 2022, iniciei as sessões de quimioterapia, fiz 4 da vermelha e 4 da branca. Senti muito enjoo, cansaço, tontura, dores no corpo, no estômago, perdi o paladar, o apetite, não conseguia me alimentar direito.
Apesar do sofrimento causado pelos efeitos colaterais no corpo, o pior mesmo foi a queda do cabelo. Já vinha me preparando psicologicamente para este momento, foi libertador quando raspei a cabeça, tirei um peso de cima de mim. Doei meus cabelos naturais, assumi a careca e passei a me achar mais bonita e estilosa.
'Deus permitiu a doença para me curar por completo'
Em julho, concluí a terceira etapa do tratamento que consistiu em fazer 15 sessões de radioterapia.
Atualmente, estou na quarta fase, que é tomar uma medicação oral por cinco anos e fazer acompanhamento de três em três meses. A cirurgia de reconstrução da mama direita está prevista para o ano que vem.
O processo é longo e parece eterno, mas como tudo, tem um começo, meio e fim. Hoje me sinto mais forte e confiante, não por mim mesma, mas por aquele que tem o controle da minha vida e que me sustentou até aqui: Deus.
Creio que ele permitiu a doença para me curar por completo, fisicamente, emocionalmente e espiritualmente. O deserto nos faz florescer através das lutas que vivemos. Aprendi a confiar e a descansar somente em Deus."
Outubro Rosa
Outubro é o mês para alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
O câncer de mama é o de maior incidência em mulheres no Brasil (excluindo o de pele não-melanoma). É uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, formando um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, a maioria dos casos apresenta um bom prognóstico.
Segundo estatísticas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), cerca de 66.280 novos casos são diagnosticados por ano no país. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. Nas mulheres, corresponde a 29,7% do total de cânceres no público feminino.
Certas mutações genéticas herdadas de um dos pais podem estar por trás do câncer de mama, mas isso não é tão frequente quanto se imagina —apenas 5% a 10% dos casos de câncer de mama são hereditários. A maior parte das mutações no DNA das células são adquiridas ao longo da vida.
A mamografia, que é o raio-X das mamas, deve ser feita sempre que a mulher ou o seu médico notam alguma alteração na mama, e também de forma preventiva, já que o exame permite diagnosticar um câncer antes mesmo que o nódulo venha a ser percebido.
A ultrassonografia é um exame complementar, que permite a visão de algumas lesões que podem não ser bem visualizadas na mamografia, especialmente quando a mama é muito densa. A ressonância magnética também é indicada para mulheres de alto risco ou para determinar com mais precisão as características de um tumor encontrado.
Assim, o resultado da mamografia determina a necessidade, ou não, de biópsia (punção para retirada de tecido para análise patológica). Há diferentes tipos de biópsia, indicadas de acordo com o tamanho e características da lesão.
É importante que as mulheres consultem o ginecologista ao menos uma vez por ano —ou mais, se necessário —, para que o profissional realize a palpação da mama e solicite exames de imagem, se necessário. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica que a mamografia seja feita regularmente a partir dos 40 anos.
Já o Inca e o Ministério da Saúde recomendam a realização do exame apenas a partir dos 50 anos, para evitar o risco de falsos-positivos e cirurgias desnecessárias.
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