Ela teve câncer de mama 2 vezes: 'Quanto mais falamos, menor ele fica'
Mariana Rosário Fernandes, 38, fisioterapeuta, enfrentou o câncer de mama duas vezes. Mesmo tendo que lidar com um novo tumor depois do primeiro tratamento, ela ressalta que receber o diagnóstico não é e nunca deve ser uma sentença de morte. Hoje ela compartilha em suas redes sociais mensagens que podem ajudar pacientes que também estão no processo contra doença. Falando abertamente sobre o assunto, Mariana tenta levar um pouco de esperança diante de um momento tão delicado. Abaixo, ela conta sua história:
"No final de 2019, me sentia muito bem e estava no auge da minha vida. Falei pro meu marido que havia alcançado todas as coisas que queria. Por ironia do destino, fiz o autoexame e descobri um nódulo na mama direita. Olhei para o meu marido e falei: 'Estou com câncer de mama'.
Sabia, pois trabalhava há muitos anos com pacientes que tinham a doença. Tive medo de morrer, me senti sozinha e é desesperador, mesmo atuando na área. São mundos completamente diferentes, quando você cuida de mulheres e quando você se torna paciente.
O primeiro diagnóstico foi difícil e até a minha cirurgia, chorava o dia inteiro. Porém, dessa vez, não precisei fazer quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. Só fiz a retirada da glândula mamária. Depois disso, achei que estava curada.
Segundo tumor apareceu
Como tinha feito a retirada da glândula mamária, marquei para fazer a reconstrução do mamilo, mas senti um outro nódulo. Na verdade, eram seis, que apareceram no mesmo lugar.
Esse segundo descobri no meio do ano passado e o tipo que tive foi hormonal. Fui submetida à cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, atualmente, faço hormonioterapia.
O que mais impactou, além do diagnóstico, foi a interrupção da rotina— mesmo sabendo que o câncer de mama não é uma sentença de morte. Do dia para noite, você não sabe como vai ser a próxima semana. Como o tratamento ia ser agressivo, só pensava na minha família, e como lidar com essa interrupção, já que não temos controle.
Lidando com a autoestima
Sempre falo que a autoestima está ligada à nossa rede de apoio. Lidei de forma tranquila, porque minha rede de apoio me deu força. O que fez toda diferença.
O processo de perder cabelo é muito difícil, os fios começam a 'descolar' do couro cabeludo. Começou a cair na quinta-feira e fiquei até domingo sem lavar. Você olha para todos os lados e tem vários fios.
Foi então que reuni minha família e fiz minhas filhas cortarem meu cabelo. Fiquei preparada. Quando me vi careca, gostei. Foi um renascimento. Hoje optei por ficar careca e vou ficar assim até sentir vontade.
Rede de apoio é tudo, tudo para ficarmos bem. E eu tenho uma boa e meu companheiro está do meu lado. Por causa dessa transformação física, hormonal e mental, é preciso ter pessoas ao nosso redor.
Mesmo passando por todo esse problema, nunca fiz terapia, mas acho que todos deveriam fazer. Gosto de refletir, ler sobre filosofia, e lidar com os problemas de forma leve.
As pessoas me perguntam muito sobre cura, mas me sinto curada da minha alma, que é muito mais importante do que qualquer doença. Essa é uma forma de viver diferente.
Tem o lado obscuro? Tem. Mas a pandemia me mostrou o que é sentir essa falta de controle. Vivo o agora e do futuro ninguém sabe, mesmo tendo câncer ou não.
Sei que nós precisamos nos cuidar. Mulheres não podem se sentir culpadas. É normal falar que não está bem e não estar. Não podemos sentir vergonha de pedir ajuda.
Sei que não podemos romantizar, mas é uma doença que precisa ser falada. Quanto mais falamos do câncer, menor ele fica. Terminei a quimioterapia em dezembro do ano passado e sigo fazendo hormonioterapia.
Rede de apoio para ajudar outras mulheres
Devido a esse diagnóstico duplo, resolvi ajudar outras mulheres para trocar informações e trazer um conforto. Criei uma linda rede de 'Anjos Rosa', que funcionará como uma rede social e site para mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama. Pensei no nome quando estava no hospital e, desde aquela vez, não saiu mais da minha cabeça.
A mulher terá apoio e acolhimento de pacientes e familiares diante do diagnóstico e tratamento do câncer. Lá também terá conteúdos para acolher e ajudar essa comunidade. Quero que todo mundo fique junto."
Outubro Rosa
Outubro é o mês para alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
O câncer de mama é o de maior incidência em mulheres no Brasil (excluindo o de pele não melanoma). É uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, formando um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, a maioria dos casos apresenta um bom prognóstico.
Segundo estatísticas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), cerca de 66.280 novos casos são diagnosticados por ano no país. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. Nas mulheres, corresponde a 29,7% do total de cânceres no público feminino.
Certas mutações genéticas herdadas de um dos pais podem estar por trás do câncer de mama, mas isso não é tão frequente quanto se imagina —apenas 5% a 10% dos casos de câncer de mama são hereditários. A maior parte das mutações no DNA das células são adquiridas ao longo da vida.
A mamografia, que é o raio-X das mamas, deve ser feita sempre que a mulher ou o seu médico notam alguma alteração na mama, e também de forma preventiva, já que o exame permite diagnosticar um câncer antes mesmo que o nódulo venha a ser percebido.
A ultrassonografia é um exame complementar, que permite a visão de algumas lesões que podem não ser bem visualizadas na mamografia, especialmente quando a mama é muito densa. A ressonância magnética também é indicada para mulheres de alto risco ou para determinar com mais precisão as características de um tumor encontrado.
Assim, o resultado da mamografia determina a necessidade, ou não, de biópsia (punção para retirada de tecido para análise patológica). Há diferentes tipos de biópsia, indicadas de acordo com o tamanho e características da lesão.
É importante que as mulheres consultem o ginecologista ao menos uma vez por ano —ou mais, se necessário—, para que o profissional realize a palpação da mama e solicite exames de imagem, se necessário. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica que a mamografia seja feita regularmente a partir dos 40 anos.
Já o Inca e o Ministério da Saúde recomendam a realização do exame apenas a partir dos 50 anos, para evitar o risco de falsos-positivos e cirurgias desnecessárias.
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