Esqueça padrões: idosos mudaram, vivem mais e continuam aprendendo
Você já deve ter ouvido falar que quando se envelhece todo mundo tende a ficar parecido. No que compete à parte física, a pele enruga e fica flácida, mobilidade, audição e visão reduzem, os cabelos embranquecem.
Agora, no aspecto comportamental, características naturais da personalidade tendem a se acentuar mais, por isso alguns idosos ficam rebeldes e rabugentos.
Até aí tudo bem, mas não dá para dizer que todos fiquem exatamente iguais. Para além de cada um de nós sermos únicos, o que tem a ver com características hereditárias, ambiente em que crescemos e frequentamos, experiências que nos marcam em diferentes fases, ensinamentos, autorreflexões, hormônios, hábitos. Os tempos mudaram, são outros, e as pessoas também.
Idosos têm vivido mais, consumido mais e continuam aprendendo. Daí que muitos padrões estão se redefinindo, como o mercado de trabalho, que já começou a reconhecer as vantagens de uma vida experiente.
Nesse sentido, revisar conceitos, para não cair em estereótipos distorcidos sobre a terceira idade, é uma das principais necessidades da contemporaneidade.
Mapa dos diferentes perfis
De acordo com estudos recentes, como um produzido e divulgado este ano pela Globo e parceiros, existem diferentes padrões de conduta entre os maduros e que podem ser divididos em três grupos, totalizando seis perfis. Quatro no primeiro grupo (autossuficientes, sábios, agregadores e cuidadores), um no segundo (exploradores) e outro no terceiro (em pausa).
Autossuficientes: corresponde a pessoas que ainda não são idosas, mas estão próximas dessa fase. Geralmente solteiras ou divorciadas, perfeccionistas e que gerenciam a própria rotina e sabem concretizar seus sonhos, além de desfrutar da sua própria companhia.
Sábios: incluem os casados ou que moram com parceiros, estão aposentados e possuem renda mensal mais alta do que a média. Se tivessem um lema: "valho pelo que sei, vivi e acumulei".
Agregadores: priorizam relações, laços afetivos e pensam no coletivo. São altruístas, multitarefas e possuem famílias maiores. Perfil mais maduro, entre 65 e 74 anos, e feminino.
Cuidadores: majoritariamente feminino, entre 55 e 64 anos. Prezam pela generosidade e afeto, gerenciam problemas familiares, mas tendem a se sentir invisíveis ou anulados.
Exploradores: se transformam, se redescobrem, gostam de ousadia e de se relacionar com grupos diversos e aprender com eles novas habilidades, pois são também curiosos e abertos. Geralmente são pessoas sem filhos e, na maioria, mulheres na faixa entre 55 e 65 anos.
Em pausa: são aqueles que ao se depararem com a velhice, ou viúvos, sozinhos, sem os pais, pausaram a vida para planejar novos passos. Evitam novas responsabilidades e cobranças.
Mas nada é determinante e há quem possa se reconhecer em mais de um, ou múltiplos perfis.
Mais conectados, ativos e cuidadosos
Jovens do passado que romperam barreiras, como os dos anos 50, que popularizaram o rock, ou dos anos 60, a contracultura, ou de 1980, que protestaram pelas Diretas Já, não estariam hoje na invisibilidade, concordam? O perfil do idoso na atualidade é muito mais independente, ativo e engajado. São avós que acessam internet, viajam, se exercitam, estudam e namoram.
Para esse público, as redes sociais fazem parte da rotina (no Brasil, 70% dos que estão acima de 50 anos acessam a internet todos os dias), contribuindo para sua atualização, socialização e aprendizado sobre novos produtos e serviços.
A tecnologia também os ajuda nas buscas por planejamento financeiro, emprego, cuidados pessoais e mudanças de hábitos de vida.
Saúde é uma das suas principais prioridades. Em se tratando de alimentação, há uma forte tendência entre eles (para 60%, segundo o estudo da Globo) de se priorizar o que for mais natural e menos industrializado. Sem deixar de citar o interesse pela aparência e estética. Buscas por "pele madura" e afins, segundo o Google, cresceram 40%, de 2017 para 2018.
Para jovens e governantes, uma lição
No contexto atual, em que os mais velhos, muitas vezes, são os que sustentam suas famílias, reformas na Previdência já são realidade e a expectativa de vida caminha rumo aos 100 anos, cabe aos jovens se atentarem àqueles que um dia eles serão. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta que, de três brasileiros, um terá mais de 60 anos em 2060.
Portanto, estudar melhor uma fatia tão heterogênea, como a dos idosos, é pensar no hoje e no amanhã. É compreender suas necessidades, interesses, limitações, garantir políticas públicas (e eles estão conscientes de seus direitos, é o que revelam as buscas por "estatuto do idoso", por exemplo), melhorar seu relacionamento com familiares e cuidadores e preparar o Brasil.
Para os especialistas consultados por VivaBem, a mudança é cultural e envolve investimentos massivos por parte dos governantes em educação, ciência e renda digna, para combater o preconceito e a desinformação, atrair talentos, fomentar pesquisas, criar diálogos e explorar as contribuições dos idosos, que são a população que mais cresce no nosso país e no mundo.
Fontes: Maurício Liberato, geriatra do Hospital Aliança, em Salvador; Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Paulo Camiz, geriatra e professor no Hospital das Clínicas, da USP (Universidade de São Paulo).
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