Bailarina sofre AVC aos 20 anos: 'Amo dançar e não quero parar'
A bailarina Mariana Marques, 21, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) poucos dias antes do seu aniversário. Ela se apresentava em um espetáculo de dança e, ao deixar o palco, sentiu um puxão em um dos lados do corpo e não respondia aos estímulos das colegas.
Quando chegou ao hospital, os médicos disseram que ela havia sofrido o tipo isquêmico. Imediatamente a jovem foi submetida a uma técnica que reverte o quadro em menos dias do que as terapias convencionais. Os especialistas acreditavam que ela fosse ficar seis meses no ambiente hospitalar, mas graças ao procedimento e atendimento rápido, ficou apenas seis dias, teve alta e hoje tenta, aos poucos, retomar a rotina de dançarina. Abaixo, ela conta sua história:
"Comecei a dançar aos dois anos e me formei em balé, jazz, sapateado e dança contemporânea. Fiz a prova no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e fiquei lá por quatro anos. Dei aulas de sapateado e iniciei dança contemporânea.
Essa era minha rotina e dia a dia. Lembro que em fevereiro deste ano estava me apresentando em um espetáculo de dança contemporânea. Quando fui para a coxia, que é fora do palco, estava sentindo como se fosse um puxão para baixo no meu lado direito.
Minha amiga me disse que eu estava rindo, minha mão começou a entortar para dentro e não conseguia mais falar. A professora chamou minha mãe e na hora ela disse: 'Hospital agora'.
Meu pai me levou de carro e fizemos um trajeto em 15 minutos. Cheguei no hospital, mas não me lembro de nada.
AVC isquêmico aos 20 anos
Quando dei entrada no hospital fiz ressonância, tomografia e eles falaram para minha mãe que eu tinha sofrido um AVC (acidente vascular cerebral). Meu pai estava bem abalado e meio sem chão.
Me falaram que muitas pessoas foram me visitar no hospital, mas não me lembro de nada. O acidente vascular cerebral foi no domingo e eu só acordei na segunda-feira. A enfermeira me perguntou se eu estava bem e, aparentemente, eu estava tranquila, mas não conseguia mexer meu braço para comer.
Ela deixou a comida e foi embora. Mas eu não levantava mais a mão e quando ela voltou, percebeu e me deu na boca.
O médico foi ao CTI e perguntou como eu estava. Passei por uma cirurgia em que fiz uma trombectomia mecânica, e eles falaram que talvez eu teria que ficar de quatro a seis meses no hospital.
Colocaram um cateter que saía da minha virilha até chegar na minha cabeça e lembro de estar com um curativo muito grande. Aos poucos, foram tirando, mas me recordo de ter um 'rombo' enorme.
A fisioterapeuta foi para lá, levantava meu braço, minha perna e eu respondia muito rápido. Comecei a avançar, mas ainda não conseguia falar. Na sexta era meu aniversário, me deram um bolo e saí do hospital no sábado.
O médico disse que foi um milagre a minha recuperação e não tinha motivo para continuar ali. Ele até falou para os meus pais que não ia mais me prender no hospital e que eu precisava ter uma vida normal.
De volta à rotina
Lembro que quando já estava fora do hospital, a neurologista olhou meus exames e meio que faltava uma área do meu cérebro, não aparecia nas imagens. Ela ficou sem acreditar como eu estava bem.
Quando saí do médico, comecei a fazer fono todos os dias. Minha prima me atendia e seguia fazendo exercícios. Conseguia entender as palavras e fui descobrindo um caminho para falar melhor. Fazia hidroterapia e sigo com essa prática até hoje. Também faço fisioterapia, pilates e sigo fazendo balé, jazz e sapateado.
Minha coordenação ficou um pouco debilitada e tinha dificuldade para ficar na ponta do pé. Com o tempo, comecei a recuperar meus movimentos e um mês atrás senti a perna que foi afetada pelo AVC.
Às vezes não consigo sentir o movimento correto enquanto danço, mas minha amiga falou que a dança contemporânea está dentro de mim e que vou ter isso comigo para sempre. Mas movimentos do balé, como colocar a perna direita e esquerda para trás e fazer um giro, ainda tenho dificuldade.
Como amo dançar, não quero parar e sigo aos poucos com os movimentos. O médico disse que posso fazer tudo mesmo. A única coisa é que não posso ficar muito estressada e passar por situações que desencadeiam mais reações. Até hoje ninguém sabe o que provocou meu AVC, mesmo eu sendo bem nova.
Estou evoluindo muito bem, ainda quero dar aula de balé adulto e também focar em terapia ocupacional como graduação. Quero ajudar pessoas que tiveram AVC, igual a mim, a recuperarem movimentos e terem independência."
O que é um AVC?
O AVC (acidente vascular cerebral) é uma alteração súbita que pode ser de dois tipos:
- isquêmico: quando entope uma artéria que leva sangue para o cérebro e naquela região em que o vaso ficou entupido há uma falta de sangue no órgão. O paciente pode ter sintomas dependendo da região afetada.
- hemorrágico: quando rompe um vaso sanguíneo e o sangue se espalha dentro do cérebro.
O AVC pode ocorrer em qualquer idade, mesmo em crianças, mas é mais comum em pessoas de mais idade, principalmente a partir dos 60 anos.
O que é a trombectomia mecânica?
É um tratamento por cateterismo, em que se impulsiona uma artéria da virilha até a artéria entupida e com um cateter um dispositivo é levado para desentupir a circulação cerebral. Esse material também pode ser um stent que se abre dentro do coágulo, fazendo com que ele seja retirado.
Também pode ser por meio de um aspirador que suga o coágulo, fazendo com que ele saia da circulação sanguínea. Usada desde 2015, a técnica é indicada para pacientes que têm um AVC mais grave e quando o tratamento medicamentoso não funciona tão bem.
Atualmente, os medicamentos para quem sofre um acidente vascular cerebral são endovenosos e tentam dissolver os vasos entupidos. Geralmente, eles precisam ser usados em até quatro horas após o início dos sintomas. Já com a técnica, é possível usar até 24 horas depois.
O tratamento está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).
Fonte: Sheila Martins, neurologista e presidente eleita da World Stroke Organization, organização internacional que busca reduzir o impacto global do AVC, e da Rede Brasil AVC.
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