'É uma pausa nos problemas': entenda como balé contribui para as emoções
Quando lhe perguntam sobre os benefícios do balé, o bailarino, coreógrafo e instrutor de dança paulistano Daniel Weber, 35, diz que as pessoas sempre esperam ouvir somente as vantagens físicas. Mas ele diz que os ganhos para a saúde mental também são notáveis.
"Obviamente que dificuldades, estresse, competitividade existem, como em qualquer lugar, ainda mais quando se almeja chegar ao topo da carreira, mas o balé também desenvolve concentração, persistência, interação social, leitura e expressão de emoções", diz ele, que atualmente mora na Alemanha.
Em 2016, pesquisadores europeus publicaram na revista Journal of Experimental Psychology um estudo científico em que constatam que dançar aumenta a sensibilidade e a empatia, incidindo de forma significativa na maneira como nos relacionamos com o mundo exterior, e que bailarinos teriam inteligência emocional superior à das demais pessoas não dançantes.
Segredo está nos movimentos?
Se o cérebro comanda o corpo, este, quando em ação, retribui ao cérebro, afirma Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião. Ele explica que não existe uma divisão entre físico e intelecto, como muitos podem pensar, e que, ao dançar, com música, movimentamos, modificamos e aperfeiçoamos uma série de neurotransmissores.
"Em uma situação de dança, com o corpo para lá e para cá, acompanhando atentamente o ritmo do par, são ativadas áreas cognitivas relacionadas a reconhecimentos visuais, auditivos, táteis e acrescentados novos aprendizados a esses padrões preestabelecidos, conectando e expandindo memórias e outras habilidades, como as citadas no estudo de 2016", diz Barbosa.
Bailarinos também se saem bem em compreender emoções porque as corporificam, o que tem a ver com sua teatralidade. Daniel explica que o balé e o teatro se parecem em muitos aspectos e até se complementam, pois são apresentados como espetáculos que envolvem representações, dramas, de temáticas nas quais as referências advêm da realidade humana.
Dançar promove prazer e empatia
Pessoas de bem consigo mesmas tendem a enxergar e cultivar uma curiosidade maior sobre a subjetividade dos outros. Paloma Carvalhar, psicanalista pela Academia Enlevo, em São Paulo, relaciona isso aos "hormônios da felicidade" (serotonina, endorfina, dopamina), liberados por atividades prazerosas como a dança, que ativa o centro de recompensa (satisfação) cerebral.
"Além disso, ela [dança] representa uma pausa nos problemas. Por isso, indico que meus pacientes tenham pelo menos um momento do dia, nem que seja por alguns minutos, para fazer alguma atividade ligada ao prazer e ao autocuidado e o balé pode ser uma delas. Auxilia na consciência corporal, em tomada de respostas rápidas, percepção espacial", cita Carvalhar.
O relacionamento em dança clássica, por se dar em dupla ou grupo, contribui, acredita Daniel. Ele diz que isso favorece a abertura de diálogo e escuta, o respeito aos limites do outro e às diferenças. "É um meio que costuma ser inclusivo, com bastante diversidade. É necessário para soltar quem é mais retraído e precisa lidar com público, ter uma imaginação criativa", opina.
É possível começar depois de adulto
Quando criança, o corpo e a mente são mais maleáveis e moldáveis para a dança fazer um bom trabalho. Mas nada impede de alguém, especialmente em se tratando do balé, começar nesse estilo com mais de 20, 40, 60 anos. Embora, uma vez adulto, tenha-se mais limitações, padrões, posturas emocionais, deformidades e doenças que possam dificultar, aponta Daniel.
Ainda assim, o balé pode melhorar e até garantir um corpo, em sua plenitude, mais saudável. "O balé trabalha coordenação motora, equilíbrio, postura, força muscular", diz o dançarino.
Na área emocional, serve como regulador, para tratar ansiedade, estresse, depressão e na obtenção de autoconhecimento. "Ainda combate insônia e diminui com as dores exacerbadas pela mente", informa Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Carvalhar complementa que a terapia com dança e música, no geral, pode libertar determinadas emoções e sofrimentos reprimidos, o sujeito pode se conectar com a experiência, estabelecer novas conexões internas e testar expressar o que sente e novos comportamentos.
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