Diabetes: 84% dos médicos não fazem teste que avalia risco de amputação
Uma pesquisa mostra que 84% dos endocrinologistas e cardiologistas participantes não realizaram o índice tornozelo-braquial no último ano. O exame não invasivo analisa problemas de circulação nas pernas e pode alertar para o risco de amputação em pessoas com diabetes tipo 2.
O levantamento "Receita de médico: o que pensa quem cuida de diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares" ouviu 654 profissionais e a íntegra dos resultados será apresentada nesta semana. O estudo é liderado pelo endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto, em parceria com o DIACORDIS, ENDODEBATE e Editora Clannad.
A avaliação tornozelo-braquial ajuda a identificar DAOP (doença arterial obstrutiva periférica), aterosclerose (enrijecimento das artérias), além de alertar para o maior risco cardiovascular.
Entenda o risco de amputação
O diabetes é uma doença em que há a ausência ou insuficiência de insulina, hormônio responsável pelo aproveitamento da glicose como fonte de energia. A glicose em excesso pode levar a várias alterações e complicações no corpo já conhecidas pela maioria das pessoas, como problemas nos rins, na visão e no coração.
Níveis cronicamente aumentados de açúcar no sangue alteram a inervação e irrigação da pele, impactando a função de nervos e dos vasos sanguíneos. Isso pode tornar a pele mais sensível, ressacada e até sem pelos. Há ainda perda de sensibilidade, que deixa a pessoa mais vulnerável a lesões nos pés, já que não percebe quando pisa em algo e fere a região. Isso pode evoluir para infecções e causar a amputação.
"A defesa do indivíduo contra a infecção pode estar prejudicada pelo açúcar alto no sangue. Para se ter ideia, uma ferida no pé antecede 85% das amputações. O diabetes é a principal causa de amputação não traumática [de um membro que não por acidente]", afirma Fernando Valente, professor da disciplina de endocrinologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo).
Cuidados com os pés
De acordo com Fernanda Victor, endocrinologista e mestre em ciências da saúde pela UPE (Universidade de Pernambuco), as alterações de sensibilidade são mais frequentes nas extremidades dos membros, conhecida como neuropatia em "botas e luvas", isto é, nas mãos e nos pés, mas principalmente nos pés. "É importante estar alerta a alguns sinais de risco, como feridas, calos e deformidades."
O tratamento preventivo é essencial, por isso, o paciente deve fazer o exame dos pés em cada consulta médica, ser orientado sobre como examiná-los diariamente e ter uma rotina que inclui cuidar das unhas, manter a pele hidratada e usar calçados adequados, indicados pela equipe multidisciplinar.
É recomendado evitar andar descalço, usar chinelos de sola fina ou sapatos sem meias. Outra estratégia para prevenir a perda de sensibilidade é controlar a glicemia, cuidando da pressão arterial e dos lipídios.
"As modificações do estilo de vida, alimentação saudável, prática regular de atividades físicas, controle do peso e cessação do tabagismo e álcool também são fundamentais. A abordagem terapêutica busca retardar o início da neuropatia ou reduzir sua progressão", explica Victor.
Ainda segundo a endocrinologista, existem medicações aprovadas que ajudam a aliviar as dormências e controlar os sintomas da neuropatia, disponíveis para uso oral e/ou tópico, cremes, adesivos e sprays.
*Com informações de reportagem publicada em 13/04/22.
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