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Mágica! Segredo do dentista que viraliza ao atender pessoas com deficiência

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

24/10/2022 04h00Atualizada em 24/10/2022 09h12

É impossível não se encantar a cada vídeo que o odontopediatra Paulo Bonavides, 31, publica em suas redes sociais. Talvez você já tenha se deparado com algum ao rolar o seu feed. As crianças se divertem com o personagem Tio Paulo, que instiga a imaginação e a magia ao arrancar os dentinhos, ensinar a escovação e até mesmo ao aplicar a anestesia antes dos procedimentos.

Se não fosse a cadeira de dentista e os instrumentos manipulados, seria bem provável apostar que a cena acontecesse em qualquer outro lugar, menos em um consultório. O imaginário infantil é estimulado desde o jaleco colorido e repleto de personagens que o dentista usa nas consultas.

Além disso, as crianças são presenteadas com muitos mimos, penteados —como o topete do Tio Paulo—, maquiagens, coroas e certificados que imprimem uma atmosfera leve e livre de medos.

Sem traumas, por favor...

"Minha preocupação é que elas não tenham esse trauma do dentista que muitos adultos da minha idade possuem. Quanto menos eu mostrar aqueles instrumentos feios que ninguém merece, como agulha, injeção, alicate e motor, melhor. O lúdico deve permanecer sempre em primeiro lugar", afirma o odontopediatra, que atende nas cidades de Santos, litoral paulista, e São Paulo, e é professor universitário na disciplina de pacientes com deficiência e pediatria.

Paulo Bonavides 4 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ele credita o sucesso ao seu método divertido. Em suas palavras, é seu grande diferencial e o que motiva os pacientes a irem ao consultório. "Não é por ser um dentista que faça um procedimento A, B ou C melhor do que o outro, porque nós aprendemos e fazemos os mesmos tratamentos. Nunca imaginei ser famoso por ser dentista."

Tudo começou bem antes de viralizar nas redes sociais a partir de uma postagem do ator, roteirista e apresentador Fábio Porchat. "Sou odontopediatra desde que me formei, há 10 anos. No último ano da faculdade de odontologia, já comecei a fazer especialização em pediatria e desde que tenho o diploma na mão nunca atendi um adulto —com exceção de casos de emergência de algum amigo. Sou apaixonado pelas crianças", conta.

Como surgiu a ideia?

Segundo ele, procurou a odontologia porque já se imaginava atendendo o público infantil. "Tinha como inspiração os doutores da alegria que iam aos hospitais vestidos de palhaço e percebia que na odontologia não existia algo similar. Cursei odontologia para ser um dentista diferente."

Ainda na faculdade, ao iniciar o atendimento a pacientes com deficiência (seja física ou intelectual), teve a ideia de se fantasiar. Afinal, sempre teve o lado artístico aflorado. Tio Paulo relata que fazia animação em festas e lidava com crianças desde os 11 anos e, profissionalmente, a partir dos 15.

Paulo Bonavides 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Antes de ser dentista, eu sou artista. Paguei a minha faculdade sendo artista. Acredito que trouxe a energia das aulas de teatro e dos espetáculos para dentro do meu consultório." Ele ainda é palestrante, empresário do setor artístico, além de manter a carreira na internet.

O primeiro paciente foi um garoto com TEA (transtorno do espectro autista) que não deixava ninguém tocá-lo. Ele recorda que brincou, falando que não era dentista, mas, sim, um palhaço disfarçado e que precisava de ajuda dele para fingir que era um dentista.

Foi muito legal, mas, depois, refletindo, concluí que seria difícil aplicar a técnica quando o procedimento fosse mais complexo e como ficaria a biossegurança. Além disso, se ela fosse ao circo e olhasse o palhaço, imaginaria que ele poderia dar uma anestesia nela. Minha ideia foi por água abaixo.

A solução veio ao assistir uma reportagem no "Fantástico" (TV Globo) em que um hospital de câncer infantil camuflava as medicações em embalagens decoradas com super-heróis para enfatizar que a força vinha deles para tratá-las.

Ele se recorda de um ator vestido de Batman visitando o local também. "Achei o máximo, eu posso ser o dentista Tio Paulo e convidar os meus amigos, artistas que fazem personagens, como princesas e super-heróis", idealizou.

Passou a comprar acessórios de mágica, a estimular o lúdico em suas consultas e a explorar a atenção. "A cadeira sobe não porque ela tem um botão, mas porque ela é mágica. Minha grande inspiração é a Disney porque a magia existe quando acreditamos nela. Se eu não acreditasse no que faço, não daria tão certo. As mágicas existem e os sonhos podem ser alcançados."

Espontaneidade e acolhimento individualizado

Para o Tio Paulo, ser dentista é se preocupar com crescimento, saúde e bem-estar. Segundo ele, um atendimento de excelência é individualizado, sem exceção; não há uma consulta pronta. "Claro que a minha técnica se repete, muitas vezes, mas cada paciente é único e merece ser respeitado. Tem um que é mais tímido, outro que gosta de desenho e mágica e aquele que não gosta de nada, mas todos são atendidos com carinho e de igual para igual."

Na primeira consulta, quando a criança chega para a prevenção, ele explica que não faz nenhum tipo de tratamento, mas uma anamnese completa, desde a gravidez da mãe e até os dias atuais.

"Busco acompanhar o crescimento como um todo, saber como é a dieta alimentar, peso, altura, como está o aprendizado na escola, quais os hábitos, o que gosta de fazer, por exemplo, pois tudo isso se reflete lá na cárie. Só depois olho os dentinhos. Confiança é a palavra-chave. A criança começa a confiar, afinal, ela pensa: 'posso acreditar nele, afinal não deu nenhuma injeção e não colocou nenhuma coisa horrorosa na minha boca'."

Paulo Bonavides 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

No final, ele conta que elas pedem sempre um par de luvas e máscara. "Tenho certeza que é para brincar de imitar o Tio Paulo", diverte-se.

Se há dor, um canal a ser feito, uma extração ou um tratamento mais invasivo, Tio Paulo afirma que, infelizmente, não se consegue trabalhar com o lúdico 100%. "Por isso, é importante ressaltar aos pais para não deixarem chegar ao último estágio. É crucial a fase preventiva."

Para tornar os pais grandes aliados, ele incentiva a participação e a presença deles no consultório, fazendo com que seja também um momento familiar. O dentista ressalta que se preocupa para que os pais não transformem o dentista em vilão.

Outro destaque em seu trabalho é a valorização da dentição de leite, que merece ser muito bem cuidada. "Os dentes estão ligados ao nosso corpo e o sangue corre por eles. Então não pode ter bactéria, pois circulará pelo corpo inteiro. A boca está relacionada à saúde como um todo."

As consultas são gravadas em tempo integral, com o consentimento dos pais, e delas são extraídos os melhores momentos, sempre cheios de pérolas e espontaneidade. "Tudo é muito de verdade e minha missão é inspirar as pessoas, sejam as crianças, os pais, os alunos, outros profissionais e os que assistem aos meus vídeos."