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Ela engravidou naturalmente aos 48 anos; qual é a chance de isso acontecer?

Paulette Tomazelli Nardi grávida aos 48 anos (à esquerda) e junto com a filha caçula (à direita) - Arquivo pessoal
Paulette Tomazelli Nardi grávida aos 48 anos (à esquerda) e junto com a filha caçula (à direita) Imagem: Arquivo pessoal

Do VivaBem, em São Paulo

26/10/2022 04h00Atualizada em 28/10/2022 16h23

Quando as duas linhas do teste de farmácia ficaram visíveis, a microempreendedora Paulette Tomazelli Nardi levou um susto tão grande que comprou mais dois testes de gravidez para ter certeza do resultado. Só ao ter o veredito de um exame de sangue que a ficha caiu: aos 48 anos, ela, que já tinha um filho de 18 e uma filha de 17 na época, estava grávida do terceiro filho.

"Pensei: 'meu Deus, o que eu vou fazer? Vou começar tudo de novo com essa idade?'", diz Paulette, que hoje tem 60 anos e é mãe de Daniel, 34, Tatiana, 35, e de Giulianna, 12. A microempreendedora havia abandonado a pílula anticoncepcional há poucos meses porque pensou que ficar grávida espontaneamente àquela altura seria impossível. Seu caso, segundo especialistas, é raro.

Desde a primeira menstruação até a menopausa —que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos—, é possível engravidar de maneira espontânea. A probabilidade disso acontecer aos 48 anos, como se deu com Paulette, no entanto, é considerada muito baixa.

"A gestação espontânea nas faixas etárias mais avançadas acontece, mas são casos muito excepcionais. As mulheres que estão nessa faixa etária e buscam engravidar não devem apostar todas as fichas que vão conseguir espontaneamente, porque a dificuldade natural existe e muitas vezes é insuperável. E é aí que entram os métodos de reprodução assistida", explica Pedro Monteleone, ginecologista e coordenador do centro de reprodução humana do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Por que gravidez natural após os 40 anos é rara?

Paulette descobriu que estava grávida no Natal de 2009. Enquanto seu marido e os dois filhos se esbaldavam com o jantar da véspera, ela sentia vontade de vomitar. "Você está estranha, mãe, nem está comendo direito", disse o filho mais novo. Os enjoos haviam surgido alguns dias antes, mas a possibilidade de estar grávida era a última coisa que passava pela cabeça dela.

dia do nascimento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paulette Tomazelli Nardi e o marido no dia do nascimento da filha caçula
Imagem: Arquivo pessoal

Embora ainda não tivesse entrado oficialmente na menopausa, estágio atingido quando a mulher já está há pelo menos um ano sem menstruar, ela conta que seu fluxo menstrual estava cada vez menor e mais irregular —em um mês a menstruação vinha; no outro, não.

A menopausa acontece quando os ovários (as glândulas do sistema reprodutor feminino) entram em falência. Dentro dos ovários estão armazenados os óvulos, que são "guardados" por estruturas chamadas folículos. Os óvulos vão sendo liberados a cada período fértil e, se forem fecundados por um espermatozoide, ocorre a gravidez. Caso contrário, 14 dias depois de o folículo ter rompido, a mulher menstrua.

Até os 30 anos, essa reserva de óvulos é considerada relativamente estável. Entre os 30 e 35, contudo, sofre uma discreta redução. Já após os 35, a queda aumenta expressivamente —o que faz cair também a probabilidade de uma gravidez natural.

"O que acontece é que começa a faltar folículo e a mulher vai parando de ovular. Se ela vai parando de ovular, em algum momento também vai parar de menstruar. Mas, eventualmente, mesmo numa mulher que já não está mais menstruando há alguns meses, pode haver o crescimento de um folículo que rompe numa hora qualquer e ela, que não está esperando a possibilidade de ovular, ovula e pode acabar engravidando", explica Monteleone.

Esses episódios, diz o médico, são muito raros, justamente porque há uma queda na quantidade de óvulos. Depois que é constatada a falência dos ovários, engravidar de maneira espontânea é improvável. Paulette teve a última gestação um ano antes de entrar na menopausa, que para ela chegou aos 49 anos.

Quais são os riscos de uma gravidez tardia?

O primeiro ginecologista que Paulette procurou após constatar a gravidez fez com que ela saísse do consultório chorando. "Ele me falou 'não, de jeito nenhum eu vou atender seu caso, porque é muito perigoso'", lembra.

paulette e a filha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paulette Tomazelli Nardi e a filha caçula, hoje aos 60 e 12 anos, respectivamente
Imagem: Arquivo pessoal

Engravidar após os 35 anos aumenta o risco de problemas maternos como a pré-eclâmpsia (doença hipertensiva específica da gravidez) e diabetes gestacional, além de trombose.

Em relação ao bebê, quanto mais velha é a mãe, maior é o risco de problemas como má formação fetal, alterações cromossômicas que resultam em síndromes genéticas como síndrome de Down, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino (o que faz com que o bebê nasça menor do que deveria). O risco de abortamento precoce também é mais alto.

Mas isso não significa que uma gravidez tardia está fadada a dar errado. Alguns desses riscos podem ser significativamente minimizados durante o pré-natal, com o auxílio de fármacos que reduzem o risco de hipertensão ou de o bebê nascer antes do tempo, por exemplo.

Paulette conta que, ao contrário das outras duas gestações, a gravidez de Giulianna fez com que ela desenvolvesse pressão alta. Além disso, por conta da idade, a paulista também se sentiu mais cansada fisicamente e precisou intensificar o repouso, principalmente no último trimestre.

"Mas o obstetra que me acompanhou, diferentemente do ginecologista que eu procurei primeiro, me deu confiança. Ele disse 'olha, eu não sou Deus, mas vou fazer de tudo para essa criança nascer com saúde'", diz ela, que afirma ter seguido o pré-natal com afinco.

A caçula nasceu no dia 4 de junho, às 10h, com 38 semanas, em um parto cesárea. "Nasceu perfeita, com saúde e não teve nenhum problema até hoje", conta a mãe.

Depois da última gravidez, Paulette enfrentou dificuldades para perder peso. Como a dieta recomendada pelo médico não foi suficiente para solucionar o problema, o profissional aconselhou uma cirurgia bariátrica —procedimento indicado para tratar casos de obesidade grave. O marido e a filha mais velha, que também estavam lidando com o problema, precisaram passar pela mesma cirurgia.

Algumas mulheres são "mais férteis" do que outras?

A médica Michelly Medeiros, do Centro de Reprodução Assistida da Maternidade Escola Januário Cicco - MEJC/UFRN, explica que a queda na quantidade de óvulos é um processo natural e irreversível, ou seja, todas as mulheres irão passar por isso. Há uma redução não só na quantidade dos óvulos como também na qualidade.

óvulo - PhonlamaiPhoto/iStock - PhonlamaiPhoto/iStock
Quantidade de óvulos da mulher cai ao longo do tempo
Imagem: PhonlamaiPhoto/iStock

Contudo, explica ela, alguns hábitos podem acelerar a queda na qualidade dos óvulos. "Inatividade física, maus hábitos alimentares e consumo de álcool em excesso são condições que podem interferir negativamente no processo biológico", afirma Medeiros.

O oposto, diz a médica, também é verdade: ter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios com regularidade, não beber ou fumar são hábitos que poderiam, em tese, favorecer a saúde dos óvulos. Ao longo do tempo, no entanto, a qualidade irá, inevitavelmente, cair. Além disso, a idade do homem também contribui para a piora na qualidade das células reprodutivas —na época em que Paulette engravidou, seu marido também tinha 48 anos.

Gravidez natural não é o único caminho

Os métodos de reprodução assistida permitem com que os casais deem "passos a mais do que biologicamente nós pudéssemos esperar", define Medeiros.

Casos de gravidez tardia são cada vez mais comuns no Brasil e no mundo. Dados do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde mostram que, na última década, o número de mulheres que engravidou após os 35 anos cresceu 84% no Brasil. Além disso, partos de mulheres acima dos 40 anos já representam entre 2% a 5% do total do país.

Segundo os dados mais recentes do SisEmbrio (Relatório de Produção de Embriões), divulgado anualmente pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o número de ciclos de fertilização in vitro para reprodução assistida no país cresceu 32,72% em um ano, saltando de 34.623 procedimentos realizados em 2020 para 45.952 ciclos no ano passado.

Atualmente, a média de idade das mulheres que buscam ajuda para engravidar fica em torno de 37 anos, de acordo com a SBRA (Associação Brasileira de Reprodução Assistida). Depois de investigação do casal por meio de exames, os médicos podem recomendar alguma técnica de reprodução assistida, como o congelamento de óvulos e a inseminação uterina, por exemplo.

Choque de gerações

Uma das vantagens de ser mãe mais tarde seria a maturidade emocional. A distância de 48 anos entre mãe e filha, no entanto, leva Paulette a descrever a experiência da maternidade tardia como "uma barra", especialmente pelas diferenças de comportamento que ela observa entre a caçula e os mais velhos.

Para a microempreendedora, no passado era mais fácil criar filhos, porque eles eram mais "tranquilos e carinhosos", enquanto as crianças da geração atual são mais "questionadoras e desobedientes". O fato de Giulianna ter superado todas as expectativas contrárias em relação à sua saúde, contudo, faz a mãe respirar aliviada no final do dia.

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