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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Com câncer agressivo aos 32 anos, ela não quis retirar as mamas

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

27/10/2022 04h00

Há seis anos, a escritora e publicitária Bruna Lauer, 36, passou por uma longa sequência de problemas de saúde. Tudo começou quando ela descobriu um tumor benigno no ovário, o teratoma, em 2016. Após passar pela cirurgia de retirada, a jovem pegou uma infecção bacteriana na coluna.

Mas Bruna só descobriu o problema porque, depois de uma semana, começou a sentir muitas dores, principalmente na região do quadril. "As dores foram aumentando progressivamente, mas não sabia ao certo como explicar aos médicos. Parecia algo 'interno'", lembra.

Na época, ela morava em São Paulo e a ideia era voltar às atividades logo depois. No entanto, depois de idas e vindas ao pronto-socorro, exames e consultas médicas —em um processo que durou quase 2 meses—, a publicitária descobriu que estava com a infecção.

Nesse período todo, Bruna costumava tomar relaxante muscular logo pela manhã para conseguir aguentar as dores e, em seguida, trabalhar. "Levava bolsa de água quente e remédios. Chegava o final de semana e eu não conseguia levantar da cama", conta.

Quando o resultado da ressonância ficou pronto, o médico disse que ela precisaria operar. A bactéria já tinha comprometido uma parte da coluna dela. "Depois da cirurgia, eles disseram que eu realmente fui infectada pela bactéria [Pseudomonas], que é muito comum em ambientes hospitalares."

Os médicos diziam que não sabiam como eu estava em pé porque a região estava comprometida. Também descobri que meu nível de tolerância à dor é muito alto. Bruna Lauer

O problema é que, 10 dias depois, ela teve uma reinfecção e precisou voltar para uma cirurgia e, além disso, iniciar o tratamento medicamentoso, com antibiótico na veia. "Fizemos esse esquema por seis meses porque não tive efeito colateral com a medicação", explica.

Ela não podia sair de casa com tanta frequência já que eram 4 doses aplicadas por dia —e apenas com auxílio de enfermeiros que iam à casa dela. "Neste período, precisei pegar afastamento do trabalho."

Mudanças de hábitos

Durante os 6 meses de tratamento, Bruna passou por diversas transformações. Entra elas, repensou os rumos da carreira profissional, que não faziam mais sentido. "Quando você pensa que pode morrer, e eu tive essa sensação, você inverte os valores. Precisava de um ambiente que me gerasse saúde, e não estresse e ansiedade", conta.

Além disso, mudou a alimentação e começou a praticar ioga e meditação. E as mudanças também afetaram a vida pessoal dela. "Um ano e meio depois disso tudo, resolvi me separar. Era uma relação longa, estávamos há 12 anos juntos", diz.

Bruna Lauer - Marco Maia - Marco Maia
Bruna durante retiro de ioga
Imagem: Marco Maia

Segunda a escritora, foi um processo muito difícil e intenso, de bastante dor. "Logo depois, quando estava com 32 anos, senti um nódulo na mama direita. Foi bem impactante", diz.

'Não queria retirar as mamas'

Assim que o diagnóstico foi confirmado, Bruna começou a fazer quimioterapia, pois o tumor era agressivo e estava crescendo rapidamente. "No primeiro exame, ele tinha 2,5 centímetros. Depois de 20 dias, estava com 4,5 centímetros. Era uma sensação horrível sentir aquilo crescendo dentro de mim", lembra.

Mas quando o tratamento foi iniciado, o tumor já começou a diminuir. Em duas sessões de químio, ele deixou de ser palpável. Foi neste período que Bruna descobriu ter herdado a mutação genética BRCA1, que aumenta os riscos de câncer de mama e ovário.

Assim como o BRCA2, o BRCA1 é considerado um gene de alta penetrância e, com isso, o risco de desenvolvimento das duas doenças é alto. Portanto, os médicos costumam recomendar que a paciente realize o procedimento de retirada total das mamas (cirurgia redutora de riscos), para evitar o retorno da doença, além do ovário. Só que ela não queria.

Dizia ao médico: 'Doutor, eu quero tratar um câncer que tive e não prevenir um que ainda não tive'. Bruna Lauer

O combinado era que se a biópsia mostrasse a contaminação do tecido, ela tiraria a mama inteira. Caso estivesse tudo preservado, não. "Estava tudo limpo, então não teve a necessidade de retirar as mamas e nem o ovário", diz.

Bruna Lauer - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bruna agora vive no interior de São Paulo com o atual companheiro, Jaya Vitali
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo Ângelo Bezerra de Souza Fêde, coordenador da oncologia do Hospital Leforte, da unidade Liberdade (SP), quando a paciente opta por isso, é possível seguir com outro protocolo de vigilância. "Fazemos maior acompanhamento dessas pacientes de alto risco, pedindo exames de ressonância magnética e outros exames de imagem", explica.

E para concluir o tratamento, a jovem fez radioterapia e, depois, utilizou um remédio via oral, que resultou em reações graves, como desidratação. "Passei 5 dias internada na UTI e, depois, voltei para a casa", conta.

Neste período, a mãe de Bruna descobriu um câncer no reto, já em metástase. "Ela precisou fazer uma colostomia e era difícil lidar com aquela situação. Foi um momento muito complexo".

Câncer não é sentença de morte

Hoje, morando em Monteiro Lobato, no interior de São Paulo, ao lado de um novo parceiro, ela lembra do tratamento que, apesar de ter tido uma experiência ruim, ofereceu qualidade de vida. Bruna considera importante reforçar essa ideia, principalmente durante a campanha do Outubro Rosa.

As pessoas acham que, com o diagnóstico de câncer de mama, elas vão morrer. Mas durante o tratamento, foi tudo bem, conseguia trabalhar e andar de bike. No primeiro dia, desmaiei e, depois, passei muito bem. Bruna Lauer

Nessa caminhada, tentando entender tudo que aconteceu na vida dela desde o primeiro tumor, ela encontrou na escrita uma forma de dar sentido a tudo isso. Colocando as "emoções para fora". Foi assim que nasceu o livro "Uma Oitava Acima".

Nele, a escritora conta seu processo de cura, descobertas, abandono e perdas. "Entrei em contato com um dom que eu não sabia que tinha, que é saber contar histórias e inspirar através delas", diz.

Bruna Lauer na última quimio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bruna na última sessão de quimioterapia
Imagem: Arquivo pessoal

Mutações BRCA 1 e BRCA2 causam câncer mais agressivo

Segundo a oncologista Debora Gagliato, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, esse tipo de tumor hereditário (caso da Bruna) é a minoria entre as pacientes. "Entre eles, o BRCA1 e o BRCA2 são os mais comuns", explica.

"Em geral, as características envolvem ter casos de câncer de mama e de ovário na família, além da doença aparecer em jovens, com idades entre 30 e 35 anos", diz a médica. Outro ponto, segundo a especialista, é que esse tipo de tumor costuma ser mais agressivo.

Mas é importante deixar claro que nem toda pessoa com mutação BRCA1 ou BRCA2 terá, obrigatoriamente, câncer de mama. Muitas mulheres com a mutação não vão desenvolver a doença.

Câncer de mama é silencioso

Um outro ponto destacado pela médica é que o câncer de mama, em geral, é silencioso, ou seja, sem sintomas aparentes. "Quando falamos em dor, nódulo palpável, alteração de pele e saída de secreção, já são sintomas de uma doença localmente avançada", explica.

Por isso, reforça a médica, os exames de rotina são importantes. Isso porque o câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).

No Brasil, foram estimados 66.280 casos novos de câncer de mama em 2021, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres. As maiores taxas de incidência e de mortalidade estão nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Os principais sinais e sintomas são:

  • Caroço (nódulo) nas mamas, geralmente endurecido, fixo e indolor;
  • Pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja;
  • Alterações no mamilo;
  • Saída de secreção de um dos mamilos;
  • Pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).

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