Vacina inalável contra covid-19 é usada na China; como funciona?
A China informou, nesta quarta-feira (26), que começou a aplicar uma vacina inalável contra covid-19, em Xangai. O imunizante é fabricado pela empresa biofarmacêutica chinesa CanSino Biologics Inc.
A vacina está sendo oferecida gratuitamente como dose de reforço para pessoas que já foram imunizadas anteriormente, segundo a agência de notícias Associated Press.
Ainda de acordo com a agência, um vídeo de uma mídia estatal chinesa mostra como funciona a aplicação: as pessoas colocam a boca em um copo transparente e, depois de inalar lentamente o ar, elas devem prender a respiração por cinco segundos. O procedimento total dura cerca de 20 segundos.
Qual a tecnologia da vacina?
O imunizante funciona da mesma forma que as vacinas da AstraZeneca e a da Janssen, com um "vírus vivo", como o adenovírus (que causa o resfriado comum), que não tem capacidade de se replicar no organismo humano ou prejudicar a saúde.
Esse adenovírus também é modificado por meio de engenharia genética para passar a carregar em si as instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus, conhecida como espícula.
Ao entrar nas células, o adenovírus faz com que elas passem a produzir essa proteína e a exiba em sua superfície, o que é detectado pelo sistema imune, que cria formas de combater o coronavírus e uma resposta protetora contra uma infecção
"O que eles fizeram com essa vacina foi modificar a via de administração: trocando a injetável pela inalação", explica a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
O que dizem os estudos?
Um dos artigos, publicados no The Lancet em julho de 2021, analisou 130 pessoas e mostrou que o imunizante é bem tolerado. As duas doses da vacina provocaram respostas de anticorpos neutralizantes semelhantes a uma dose de injeção intramuscular. "A eficácia e o custo da vacinação deverão ser avaliados em estudos futuros", escreveram os autores.
Já uma outra pesquisa mais recente, de maio de 2022, apontou que a vacina funcionou com reforço em pessoas que já tinham tomado duas doses da CoronaVac. Os pesquisadores observaram boa tolerância ao fármaco e o poder dele de gerar imunogenicidade (capacidade da vacina de estimular a produção de anticorpos no organismo) mesmo com as doses prévias do imunizante.
"Os estudos mostraram que a vacina foi capaz de estimular o sistema imunológico, com a produção de anticorpos, com a resposta celular e a imunidade de mucosa. É uma boa estratégia", diz a imunologista da Asbai.
Vacina estimula outro tipo de imunidade
De acordo com Gustavo Cabral, imunologista pela USP (Universidade de São Paulo) e colunista do VivaBem, a vacina inalatória ajuda a proteger as vias respiratórias —no caso, a boca—, que são consideradas portas de entrada da covid-19. Segundo o médico, isso favorece a imunidade de mucosa.
"Ao entrar em contato com a mucosa da boca, a vacina estimula os anticorpos IgA, que são essenciais para combater doenças respiratórias, como a covid-19. Algo que as outras vacinas não conseguem fazer [proteger as vias respiratórias]", explica.
Quando uma pessoa toma vacina intramuscular, por exemplo, o anticorpo estimulado é o IgG. "Com isso, o ciclo de proteção fica mais completo", diz Cabral.
Além disso, os dois especialistas consideram a estratégia interessante e importante, pois é mais uma maneira de incentivar a vacinação, principalmente entre pessoas que têm medo de agulha.
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