Cuidado com os 'milagres' do matchá: benefícios ainda são pouco estudados
Vira e mexe aparecem novas tendências alimentares que se tornam febre e fazem todo mundo correr atrás do "produto milagroso". Substâncias que auxiliam no emagrecimento, turbinam a performance esportiva, deixam a pele maravilhosa, aumentam o foco; a lista de promessas é grande.
Com o matchá não foi diferente: chás, sucos e até mesmo doces e sorvetes prometem diversas vantagens, tornaram-se populares nos últimos anos e são facilmente encontrados em vários estabelecimentos.
Os superpoderes prometidos vão de melhora na memória e concentração, redução da ansiedade e estresse até prevenção do câncer. Mas será que esse pózinho é capaz de tudo isso?
Há benefícios
O matchá é um tipo de chá em pó, obtido a partir das folhas da planta do chá verde (Camellia sinensis). Ele foi descoberto na China entre os séculos VII e X, mas foi no Japão que o seu uso se popularizou, com as tradicionais cerimônias do chá, típicas da cultura do país.
A principal diferença entre o pó do matchá e chá verde em folha é a forma de cultivo da planta. Durante o cultivo do matchá os arbustos da planta são protegidos da luz solar, com condições específicas e cerca de 90% de sombra.
Esse processo de proteção contra o sol permite que a planta crie grandes quantidades de compostos bioativos, incluindo clorofila e l-teanina, e uma alta concentração de aminoácidos, que proporcionam uma qualidade superior ao produto final.
Veja alguns benefícios atribuídos a ele:
- Antioxidantes: o matchá é rico em catequinas, que são antioxidantes, compostos responsáveis por "sequestrar" os radicais livres das células do corpo, combatendo o envelhecimento delas e causando uma espécie de efeito protetor no organismo. As catequinas também são amplamente descritas por suas atividades metabólicas, como melhora nos metabolismos dos carboidratos e lipídicos.
- Cafeína: a cafeína do matchá atua como um estimulante e se associa ao aminoácido l-teanina, proporcionando um aumento da concentração, do estado de vigilância e o alivio do estresse.
- L-teanina: o aminoácido, também encontrado nas folhas do chá verde já foi relacionado ao relaxamento corporal em alguns estudos. Mas não existem pesquisas suficientes que comprovem sua eficácia.
Mas não há milagres
A questão é que mesmo com esses benefícios, até o momento, os estudos clínicos realizados tanto no Brasil quanto no exterior não trazem segurança suficiente para justificar os "efeitos milagrosos" atribuídos ao matchá.
Como ele também é obtido da planta do chá verde, assume-se que ele teria os mesmos benefícios da bebida —já bastante estudados. Entretanto, podem existir diferenças nas quantidades e proporções dos componentes do pó, dependendo do produto, e a quantidade de l-teanina, um dos principais compostos ativos do matchá, pode variar de acordo com a qualidade do chá e do tempo de exposição à luz solar.
Por esse motivo, é recomendado dar atenção especial aos locais de compra, para garantir a procedência do concentrado e suas partes benéficas. Características como a cor verde viva, o sabor umami e a textura fina do pó devem ser levadas em consideração na hora da aquisição do produto.
A recomendação é fazer o chá com 1 g da erva para cada 100 ml de água fervida, deixando na infusão por três minutos, e beber até 300 ml por dia. Pessoas hipertensas, que façam uso de medicação para pressão alta ou com distúrbios do sono devem evitar a substância, devido à presença da cafeína.
Fontes: Laura Contin de Sousa, nutricionista pela Universidade São Camilo, especialista em nutrição na infância e adolescência pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo); Ana Flávia Marçal Pessoa, pós-doutora no Laboratório de Produtos e Derivados Naturais da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), coordenadora da especialização em fitoterapia e plantas medicinais do Hospital da Clínicas da FMUSP; Lucicleia Barros de Vasconcelos, professora do programa de pós-graduação em ciência e tecnologia de alimentos da UFC (Universidade Federal do Ceará); Tereza Raquel Pereira Tavares, engenheira de alimentos e mestranda em ciência e tecnologia de alimentos da UFC (Universidade Federal do Ceará); Débora Palos, nutricionista da Clínica Dra. Maria Fernanda Barca, formada pelo Centro Universitário São Camilo.
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