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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Câncer de mama com metástase não é sentença de morte: 'Sou uma vencedora'

Grasielli Peres, 44, descobriu câncer de mama em 2011 e, metástase no pulmão, em 2015 - Arquivo pessoal
Grasielli Peres, 44, descobriu câncer de mama em 2011 e, metástase no pulmão, em 2015 Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

30/10/2022 04h00

Se antes a expectativa de vida de pacientes com câncer de mama com metástase era baixa, hoje, o cenário é diferente. Há diversas opções de tratamentos que não só aumentam a sobrevida, como também oferecem maior qualidade de vida.

Há quem conviva por anos com o câncer de mama metastático, que é quando a doença se espalha para outras partes do corpo —até por isso, os médicos falam que a doença é crônica, pois dura um período prolongado ou acompanha o paciente para o resto da vida.

É o caso de Grasielli Peres, 44, que vive em Palhoça, Santa Catarina. A história dela com o câncer começou há 11 anos, quando ela tinha 33. A descoberta ocorreu durante os exames ginecológicos de rotina.

Quando chegou a hora da consulta, a médica realizou o exame nas mamas e sentiu um nódulo. Com isso, a especialistas pediu que Grasi, como é mais conhecida, marcasse um ultrassom.

"Levava uma vida consideravelmente saudável, não tinha histórico na família, e, com o primeiro filho, mantive a amamentação, outra forma de prevenção do câncer de mama. Além disso, era jovem, tinha apenas 33 anos", conta.

Mas o resultado mostrou que, de fato, havia uma alteração inflamatória na região. A médica, então, pediu exames específico, incluindo a biópsia: momento em que o diagnóstico foi confirmado.

Grasielli Peres, 44 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Grasi retirou pele das costas para reconstruir mama direita, local do tumor
Imagem: Arquivo pessoal

Depois disso, foi tudo muito rápido, segundo Grasi. Ela logo começou a fazer os exames complementares e, ao lado das médicas, definiu qual protocolo seria seguido.

"Optamos pelo mais completo e complexo, já que meu tumor estava localmente avançado. Tinha 7 centímetros, era uma questão de tempo", lembra. "Sempre falo que, se tivesse esperando mais dois meses, pelo crescimento e evolução do tumor, as coisas poderiam ser diferentes."

Ainda segundo a professora, o câncer já estava "querendo invadir" outras partes do corpo dela. No entanto, ela ainda não tinha o diagnóstico de metástase. O tratamento durou quatro anos, com quimioterapia e, depois, cirurgia de retirada da mama direita (local do tumor).

"Durante 1 ano e 6 meses, fiquei apenas com uma das mamas porque, devido à gravidade, não tinha como fazer a colocação de alguma prótese por não ter pele. Continuei o tratamento com novas drogas, radioterapia e, depois de a pele estar preparada, fiz um enxerto com tecido retirado das costas", explica.

Grasi seguiu com acompanhamento com os médicos a cada 6 meses e, depois deste período, ela teve uma alteração no endométrio, mucosa que envolve a área interna do útero e, por isso, retirou o útero e ovário.

Grasielli Peres, 44 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Grasi com o marido Luciano e o filho Vitor
Imagem: Arquivo pessoal

Tosse, cansaço, falta de ar: metástase no pulmão

Após 4 anos do diagnóstico inicial, ela começou a notar alguns sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, sonolência e cansaço. "Na época, tinham muitos casos de H1N1, então estava sempre em alerta", conta. Foi nessa hora que os médicos descobriram a metástase no pulmão.

"Desde o começo, quando descobri, minha médica foi muito atenciosa e cuidadosa comigo. Sem falsas expectativas. Ela dizia que existiam chances de eu me recuperar, mas que também existia o risco de morrer", lembra.

Segundo Grasi, era difícil falar sobre o tema.

Não existiam tantas pessoas com metástase. Hoje, acho que somos a maior geração de pacientes com metástase. Antes, existiam poucas possibilidades de tratamento. Agora, as coisas mudaram, provando que é possível viver com metástase.

Como não existiam tantos influenciadores, resolveu falar sobre o tema —aliás, muitos sugeriram que ela escrevesse um livro.

"Mas achava que a escuta era mais fácil de assimilar. Por isso, entrei nas redes sociais: primeiro no YouTube e, depois, Facebook e Instagram. Fiquei mais próxima das pessoas, principalmente daquelas que precisam de troca de experiência."

Atualmente, Grasi tem mais de 4.000 seguidores e é voluntária do Instituto Oncoguia, uma ONG (organização não governamental) para pacientes com câncer, familiares e o público em geral.

Grasielli Peres, 44 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Grasi com a blusa da campanha "Outubro Rosa"
Imagem: Arquivo pessoal

Qualidade de vida com metástase? Sim, é possível

No tratamento, não teve (e nem tem) "folga", ela refez todo o protocolo inicial e, depois disso, a doença se estabilizou, como se estivesse "dormindo". A professora toma um medicamento diário, via oral, e realiza a aplicação de dois medicamentos na veia a cada 21 dias. Essa rotina já dura 7 anos.

Além disso, há um tratamento multidisciplinar, que a enxerga muito além do câncer. "Esse é o diferencial para o meu bem-estar. Faço exames de controle a cada 4 meses e ao sinal de qualquer alteração, antecipo os exames".

Por ter sido diagnosticado com metástase pulmonar, o câncer é considerado sem cura. "Com isso, passo a ter tratamento para o resto da vida. Pensando que antes uma paciente metastática não tinha sobrevida, me considero uma vencedora por lidar com essa nova condição por tanto tempo", afirma.

"Quando recebemos o diagnóstico de metástase, vem ainda mais estigma. É como se a sentença de morte fosse uma certeza. Isso era muito real lá em 2011. Mas hoje, com cursos e palestras, com atendimento psicológico, a gente entende o que é morte e o que é cura. Às vezes, o corpo não está curado, mas vamos curar a mente, os pensamentos e a feridas", diz.

Rede de apoio e terapia

Grasielli Peres, 44 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Grasielli na formatura do filho Vitor, e com o marido Luciano
Imagem: Arquivo pessoal

Com o tempo, segundo a professora, é possível ir aprendendo e dando novos significados à morte e à cura. Para ela, o processo de não se sentir culpada é fundamental. "Faço terapia há 5 anos, e ela sempre faz o regaste comigo para eu não me sentir culpada por isso. Sem carregar o fardo e sem me cobrar, ficar me comparando com outros pacientes", diz.

Outro ponto importante é a rede de apoio. O grupo que participa oferece espaço para compartilhar todos os sentimentos, tanto para ser acolhida como para acolher os outros. Tudo isso ajuda na caminhada, diz.

Grasi se considera sortuda já que, diferente de outras pacientes que conhece, o marido permaneceu ao seu lado. "Assim que descobri o câncer, meu marido ainda era jovem —nós dois. Mas falei para ele: 'a porta está livre para seguir seu caminho'", lembra. Mas Grasi segue com o marido Luciano, hoje com 46 anos, ao lado do filho Vitor, de 15 anos.

Metástase não tem cura, mas tratamentos evoluíram

Segundo Debora Gagliato, oncologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, os médicos falam que não há cura para a metástase porque quando há muitas células contaminadas no corpo, é difícil eliminar tudo.

"Se formos justos, essa frase não é bem correta, já que alguns cânceres com metástase têm cura, mas são poucos, pois não há tratamento tão potente até o paciente ficar 'zerado'", explica a especialista em câncer de mama.

No entanto, as coisas estão mudando. "Hoje, as mulheres vivem muito mais e com qualidade de vida", diz a médica. "Falamos que a doença está crônica porque a pessoa vai se tratar para sempre com um oncologista, mas com chance de trabalhar, cuidar da família e ter menos efeitos da quimioterapia."

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